Sudário


Amado, regressei do Peloponeso: Corpo em frangalhos, mente abstraída, alma anelando pela placenta do mar, aquela, onde hibernam todos os navios naufragados, com seus cardumes de estrelas e de medusas.
Hoje eu quero um útero materno onde me alojar e óleos aromáticos para untar-me a pele ressecada. E quero uma veste alvejada e macia, rescendendo a incenso e mirra…eu quero!
E desejo também um anjo que me traga a noite nos braços e uma lua antiquíssima para inspirar meus sonhos e iluminar meu leito com sua aura prateada.
E necessito que tu me encontres logo, dentro do encantamento do sono, quando abro todas as portas para permitir que adentres e te enredes em meu corpo, mais uma vez.
Assim, entre cortinas brancas de nuvens e esse perfume de cedros que emana de tua pele, que pressinto, eu me tranquilizo. E relaxo. E me absolvo de todos os pecados, e dizendo amém, beijo a lembrança de tua boca na minha e, enfim, adormeço.

Ludmila Saharovsky
do livro Cronistas e contistas contemporâneos, da Editora Scortecci)

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    6 pensamentos sobre “Sudário

    1. Lud, voce estabelece um reinado unico, num mundo habitado de leves palavras,inspirações visuais, a musicalidade contida em Contos Minimos, refaz uma trajetória de descobertas, fico encantado e prostado pela canção exalada das palavras tão perfeitamente construidas, uma esperança que a herança das letras é legada, se eterniza e materializa-se no tempo, palavras que cruzarão
      multiplos universos ! Parabens minha querida !

      • Guedes, querido!
        Você enche meu reinado de luz e cor.
        Nossa amizade, há muito que me inspira e alimenta.
        Obrigada por habitar meu mundo!
        Beijos!

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