A mulher: Olhos perdidos no horizonte. Pensamentos que sobrevoam repetidos naufrágios.
A mulher: Pele tatuada pelo tempo, sentidos que a arrastam para espaços familiares repletos de alaridos, de cheiros e sabores únicos, quase mágicos, de outrora.
A mulher: Incrustada no silêncio. Ser clandestino numa cidade que a mantém ancorada na beira dos dias, desejosa de trocar palavras com a leveza com que se trocam carícias.
A mulher: Vestida de saudades!
Ela observa a tarde que cai sobre as falésias: o mar cinzento, o céu despojado de nuvens, o repetido mergulho das gaivotas em busca de alimento. Um cão correndo à volta de seu dono, temeroso de perdê-lo. Igual a ela, pensa, retornando sobre seus passos em busca de algum tênue sinal que lhe indique o perdido mar interno.
Ela retém em si esse momento. Fecha os olhos e o revê, certificando-se de que a paisagem estará sempre dentro dela, mesmo quando, distante, já não puder focá-la.
E assim, entre o sol que se põe, e o mar que se encrespa, ela viaja. Segue por um itinerário que se sobrepõe ao tempo e à memória. Lembranças de antes desta paisagem tingida pelas cores do crepúsculo. Vestígios de quando tinha asas, e seu pensamento em chamas procurava avidamente a agitação dos sentidos, a certeza de que haveria para sempre um tempo de descobertas. Tempo em que tudo era excessivo, e mesmo assim não lhe bastava. Tempo tão diferente desse, em que viaja vigiando emoções, num ritmo compassado, acompanhando a exatidão da maturidade que pulsa dentro. Buscando não mais a felicidade superficial, mas daquela outra, secreta, que lhe permita encontrar a alegria mais consistente, o existir mais pleno, a emoção mais verdadeira.
O corpo da mulher segue sem pressa. Corpo nave, entregue à plenitude e ao sonho. Tudo tão próximo e tão distante, e o distante quase na ponta de seus dedos, gravado nas linhas de suas mãos, imerso num feixe de luz e sombras.
Então, a mulher já não vê mais o mar à sua frente. Apenas o pressente. E regressando pela porta que se abre entre o ontem e o amanhã, ela ancora, tranquila, na eternidade do agora.
Ludmila Saharovsky
(crônica publicada no jornal O Valeparaibano)
Lud, é a primeira eternidade que nos pertence, agora. Imagine, a outra, aquela que nos possuirá a alma e a sede que cultivamos agora? Me diga…
Sonia, querida! Se tudo é o eterno presente…a eternidade já não estará em nós?
Beijos e fico sempre muito feliz quando vejo seus reflexos aqui neste espelho!
Lud
Linda sua chegada no agora …
E la nave va !!!
Dove …
Per tutta l’eternità …
Lud
Realmente lindo.
Você é maravilhosa.
beijos
Alice
Obrigada, Alice, por vir me espiar deste lado do espelho! Beijos!