Santíssima, de Márcia Frazão

(Obra “As parcas” de William Blake, bico de pena e aquarela sobre papel. Inglaterra,1757-1822 Tate Gallery – London)

E não fossem mulheres, não “apareciam”. Decerto enviariam mensageiros para anunciar a sua chegada ou criariam algum pretexto para aparecer. Não boiariam em águas profundas, não mergulhariam em charcos, não habitariam grutas nem vagariam por regiões áridas a semear rosas. Surgiriam na marra, à frente de batalhões ou de algum dragão decapitado.

Se não fossem mulheres, decerto apareceriam só para parecer. Por exibição ou por umbigo não cortado, girariam as próprias células em torno do si: mesmo, idêntico, imutável.

Mas como eram elas e não eram eles, deram de aparecer em santidade quântica. Por pura aparecência se espalharam por grotas, oceanos, rios, lagos, janelas e charcos. Em silêncio. Sem alarde. Por gosto muito além da língua e do paladar.

E foram mastigadas em comunhão profana por toda ela outra que aparecia. Em princípio eterno, sem Verbo e ponto final, abraçaram o mundo em santíssima reticência.

(trecho de autoria de Márcia Frazão, de seu livro “Senhoras do Santíssimo Feminino” de Editora Rosa dos Tempos) Leitura que vale cada linha e entrelinha!Recomendo! (Lud)

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