“O corpo é uma coisa encantada que precisa mais que comida e bebida para viver.
Ele precisa de palavras. Porque é nelas que mora a esperança” (Rubem Alves)
Amo as reflexões às quais os escritos de Rubem Alves sempre me remetem.
Penso em sua afirmativa de que “o corpo necessita de palavras que o alimentem” e divago…Será?
Não é em todas as palavras que moram a esperança, a beleza, a delicadeza.
Existem algumas, venenosas, que vão se desprendendo de nós, assim…de repente, sem qualquer compromisso que não seja o de ferir. Armas palavras.
Outras vadias, vazias soltam-se ao vento, tagareladas, esparramadas, diluídas, não deixam nem uma única pegada. Ocas palavras.
Sem âncora, sem encadeamento, sem eco, elas como que entram por um ouvido e saem pelo outro, placebos de idéias que, se não contêm em si o germe da comunicação, a intenção da partilha, do preenchimento do outro com fé e alegria… mal também não fazem. Palavras cotidianas.
Fala a mãe, fala o pai, fala o filho, fala a vizinha, a amiga, a avó, o padeiro, o pedreiro, o colega de trabalho. Falam o dia inteiro, mas… o que foi que disseram? Eu mesma não me recordo de um décimo do que matraquei, o que dizer então, do que ouvi? Rumino com meus botões: porquê falamos tanto?
Nesse mundo onde “quem não se comunica se trumbica” jamais nos ensinaram o poder de comunicação que há, também, no silêncio. Nós nunca nos concedemos um único minuto, em nossas vidas, para “ouvir” com os outros sentidos: intuir, perceber as múltiplas mensagens contidas num gesto, num olhar, num suspiro. O corpo inteiro fala!
Parece que vivemos numa época de terror generalizado ao silêncio! Ao nosso derredor precisa haver sempre algum ruído: do rádio, da TV, do walkman, do CD, da campainha do celular, do pager, tudo permanentemente ligado! E tome música, notícias, receitas, entrevistas, críticas, testemunhos, propagandas, diálogos, monólogos, gritos e sussurros. E agora, conversamos também com olhos e dedos, o dia inteiro “ligados” ao computador.
O silêncio talvez nos assuste tanto, porque nos deixa a sós conosco mesmos, a cabeça livre para pensar, os sentidos libertos para investigar, sentir, meditar, filosofar, descobrir. E, para não constatarmos o drama de que não temos qualquer assunto íntimo que nos instigue, recorremos aos sons ininterruptos que certamente nos entorpecem os sentidos e nos libertam do compromisso com outras necessidades mais sutis. Se nós não conseguimos saber da semente, da raiz, do galho, da flor e do fruto em nós, como saber a árvore que somos? Como entrar em sintonia com o mundo que nos cerca, se não ouvimos, não entendemos, não decodificamos suas linguagens de vento, de chuva, sol, lua, primavera, outono, orvalho, sereno, neblina? Se não percebemos o som de abelhas, moscas, mariposas, sapos, cigarras, grilos, riachos, cachoeiras, mares?
Ah! Que saudades de nossos antepassados que podiam afirmar com segurança que iria chover, gear ou haver longa estiagem apenas compreendendo o discurso da natureza. Eles ouviam e entendiam até a linguagem de seus ossos!
Tudo se comunica, amigos, mas não apenas por palavras. O mar tem voz, a floresta fala, o livro conta histórias. Conversam pessegueiros e violetas, cães, pássaros, cavalos, constelações. Vibra o infinito, dentro e fora de nós: a melodia das esferas…
Talvez, para tentarmos penetrar nesse mágico espaço do nascedouro das palavras – certas, consistentes, raras – necessitemos do exercício do silêncio. Quem sabe consigamos semear mais paz, amor e esperança.
Não custa tentar! (Ludmila Saharovsky)
Sinto-me extasiada…faltam-me palavras…ou será que não necessárias? Li seu texto ouvindo a sua voz…e, neste momento, elas ressoam…na mente…e no coração…adorei!…Já falei demais…agora, o silêncio, diz por si só…beijos enormes!!
Tudo que você escreve ,fotografa enfim realiza de estremo bom gosto e beleza.Parabéns e aguardo ansiosa sua nova obra.
Cris, Viva a amizade que nos une por esse tempo e Brasil afora! Beijos, procê e pro Roseni!
… ouviu ???
O monólogo do meu silêncio é lindo …
As palavras podem machucar ou trazer uma felicidade imensa. As suas trazem emoção, conhecimento, alegria. E com esta sua arte você nos encanta!
Um grande beijos amiga
Marilda, querida…e as palavras para agradecer tanto carinho, ainda não nasceram! Beijos! Abraços! Bom sabe-la sempre tão perto!
Marilda, que doce presente!
Este seu comentário é tudo que as pessoas gostariam de fazer. E você fez!
Parabéns para a Ludmila que escreveu este texto e para você que comentou.
Livingstone
Obrigada Liv, como vai você? De um beijo na nossa querida Ludmila, que realmente sempre emociona a todos nós.
Maravilhoso, li, reli, dei replica e treplica .Que texto divino “Ludmila Divina”…assim compreendo meu silencio (sem TV.cd,celular, etc…não tenho), agradeço meus dedos e olhos, por estar aqui emocionada te escrevendo e no silencio vou pra caminha, antes porem, lembrar dessas suas palavras e do vimeiro que plantei quarta feira, que 2 folhinhas já nasceram…e amanhã????_Se o pardal nos acordar vamos semear mais paz, amor e esperança. Bj do tamanho do mundo, sempre grata.
Mara Lucia, você sempre me presenteando com sua leitura e seu carinho. Obrigada, minha linda amiga!
Remeteu-me a Kafka, que afirmou que a palavra era frequentemente utilizada como um “feroz instrumento de dominação”.
E a Drummond: “lutar com palavras é a luta mais vã. No entanto lutamos, mal rompe a manhã”. Muchas gracias, Lud.
Clovis… me conte, amigo querido, e as águas do Pantanal, prosseguem te camuflando? Mando as garças do Paraiba, cada vez mais raras, pra você!