Um texto importante sobre alimentação no Brasil nos foi deixado por Hans Staden, que quase virou comida dos Tupinambás! Seus relatos, na época, tiveram enorme repercussão na Europa. Staden, aprisionado por esses índios, durante oito meses, em Ubatuba, descreveu minuciosamente esse período. Seus relatos e as belas xilogravuras que os acompanhavam ajudaram a fixar, no imaginário europeu, o canibalismo como o tema mais importante no que diz respeito à alimentação indígena. Suas descrições do ritual cabalístico são detalhadas:
“Fez chamuscar o corpo sobre a fogueira para que a pele se desprendesse. Depois retalhou e dividiu os pedaços em partes iguais com os outros, como é costume entre eles.”
Mas não só da prática do canibalismo viviam nossos índios. Staden refere-se à alimentação nos primeiros anos após o descobrimento, relatando:
“Naquela terra só há o que se busca na natureza. Raramente alguém que tenha ido à caça retorna para casa de mãos vazias. “Naquela terra é comum buscar-se, a cada dia ou a cada dois dias, raízes frescas de mandioca e com elas fazer farinha ou bolo.”
Staden faz referência também à transformação da carne e do peixe em farinha, já que o processo de conservação pelo sal era desconhecido dos selvícolas:
“Em agosto eles perseguem uma espécie de peixe que migra do mar para os rios de água doce para a desova. Esses peixes chamam-se piratis, na língua deles, e lisas, em espanhol. Eles pescam os peixes em grande número com pequenas redes, também atiram neles com flechas e retornam com muitos deles fritos para casa. Também fazem deles uma farinha, que chamam de piracui.”
Staden fala em frutas de vegetação rasteira, mel produzido por três tipos de abelhas (o das abelhas menores sendo o melhor) da carne de caça de numerosos animais comestíveis: macacos, grandes pássaros, tatu, capivara, lagarto (seria jacaré?) e da pesca, especialmente, a tainha.
Nos séculos 16 e 17 – ao contrário das Capitanias que foram fundadas do litoral nordestino, onde o cultivo da cana de açúcar prosperou e produziu riquezas, São Paulo de Piratininga e as vilas adjacentes eram muito pobres, forçando os colonizadores a criar alternativas de nutrição com o que havia disponível. Assim, muitos dos hábitos alimentares indígenas foram sendo copiados pelos portugueses e pelos primeiros paulistas que aqui nasceram. Seu cardápio diário era constituído por carne de caça, peixes, legumes, raízes, pinhão, frutas nativas e milho, muito milho, que se transformou na base para muitos pratos que continuam sendo consumidos até hoje: canjica, curau, pamonha e farinha de milho. Este era tão utilizado, que o historiador Sérgio Buarque de Holanda chegou a chamar São Paulo de “civilização do milho”.
O tempo foi passando e, através do comércio estabelecido com o além-mar, os primeiros colonizadores foram introduzindo as carnes de animais domesticados (os bovinos e as aves) e os usos do açúcar (rapadura, a cachaça, etc.) à sua mesa, enquanto os escravos africanos apresentavam-lhes as pimentas, o dendê e o leite de coco.
Já em nosso litoral, desenvolveu-se outro ramo culinário, com a alimentação baseada na pesca e preparo do peixe, que havia em profusão: a cozinha caiçara.
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