Dúvida!
Teremos nós, escritores, poetas, pensadores, pintores, músicos, uma voz própria, ou apenas refletimos, em nossas idéias criativas, os conceitos de nossos predecessores? Como nos desvencilhar do pensamento daqueles que nos inspiraram, ensinaram, esclareceram? No caso da escrita, como conseguir usar essas palavras que nosso idioma nos legou e devolvê-las à primitiva virgindade de conceitos, ou incutir-lhes um novo e inusitado sentido, uma nova interpretação, uma outra vestimenta? Todo escritor busca comunicar-se num linguagem própria, original, única…mas quantos o conseguem? Afinal…o que buscamos no exercício da escrita? (Ludmila)
Ludmila, eu penso que, baseado apenas na minha própria experiência, em relação a escrita, quando começamos a escrever, ao dar os primeiros passos na escrita, costumamos sentir o chão, farejar os ares, atualizar-se na área, situar-se no momento, e até mesmo se identificar com algum autor ou estilo, antigo ou contemporâneo, e após um certo tempo, com muita prática e produção literária, passamos a ter uma identidade própria, um estilo próprio e peculiar. A nossa própria voz começar a soar do mesmo modo que os nossos próprios passos, quando aprendemos a imitar os mais velhos. Neste ponto, devemos soltar nossas mãos dos mais velhos. (Manoel Ricardo Jurema)
Salvar as letras, a poesia, a história de um povo e o povo que conta estórias…salvar a si mesmo dos medos e a inteligência…da ignorância! O que me pergunto é : O que esperar da falta desse exercício?! (Birma Vicentim)
Lud, querida, bem que eu gostaria de saber, mas acho que buscamos mesmo é reinventar o mundo: coisas, ações e criaturas e, sobretudo, a nós mesmos. Cada palavra é uma voz, uma música, um pé na frente do outro. Um beijo, Luz e Alegria. (Esther Rosado)
A escrita é o lápis com o qual desenhamos as coisas do mundo; muitas vezes, sobre algo já tratado, desenhamos as nuances que passaram despercebidas, mas, outras vezes, adentramos em terrenos desconhecidos, onde temos que fazer nosso próprio desenho; lembro de como os escritores românticos, no Brasil, tentaram – e por muitas vezes conseguiram – desdobramentos criativos completamente desligados da matéria portuguesa, contribuindo para o enriquecimento da linguagem e mesmo da forma de encarar o processo criativo; desbravaram um universo até então relativamente intocado, que eram as vertentes da própria cultura brasileira; Renato Russo, em uma de suas letras, dizia : “mas quais são as palavras que nunca são ditas?” Eu diria que, fugindo ao conceito de que apenas pinçamos as palavras e lhas damos sentido, muitas vezes nos vemos descobrindo não um sentido no que já existe, mas construindo um novo universo; veja, então, Guimarães Rosa; já imaginaste o impacto causado pelo surgimento da simples palavra “NONADA?” (Thomé Madeira)
Isso mesmo, Thomé Madeira. Cito de memória (desculpem os que nos leem, por qualquer mudança involuntária no poema) Lindolf Bell, que nos diz: “Não é a palavra fácil que procuro…Procuro a palavra fóssil. A palavras antes da palavra. Procuro a palavra palavra. Esta que me antecede e se antecede na aurora e na origem do homem. Procuro desenhos dentro da palavra,sonoros desenhos tácteis, cheiros, desencantos e sombras. esquecidos traços. Laços, encantos reescritos na área dos atritos…”Disso falo. Dessas palavras que cometem poemas. Palavras únicas que descobrimos e que fazemos nascer em frases inquietantes, que não precisam ser compreendidas pela razão, e sim intuídas, desdobradas em novas conjugações do verbo. Beijos, amigos! (Ludmila)