Lá e de volta

jerry-n-uelsmann-06Bastava atravessar-se a rua larga, e a floresta estava logo ali, na volta toda. Um universo contendo dentro de si aquele povoado, na periferia da cidade. Os altos ciprestes, as moitas silvestres em sua abundante produção de pequeninos frutos, o sol brincando de fazer sombra entre os galhos, os montes altos e fofos dos formigueiros, os riachos com suas toscas toras de madeira permitindo a travessia e, de repente, um farfalhar que encobriu todos os demais ruídos. Sobressaindo em meio as folhagens, primeiro revelou-se a pelugem aveludada das orelhas e depois, a cabeça inteira da lebre curiosa como que despregou-se do chão forrado de folhas e sementes. Por um breve lampejo de tempo, seus olhares se fixaram, mas, logo depois ela sumiu da mesma forma que surgira: farfalhando!
Repentinamente o céu fechou-se prenunciando chuva, e ela, sem ter para onde ir, abrigou-se como pode sob o teto de galhos e folhas entrelaçadas, enquanto grossos pingos caiam a seus pés. Logo, a paisagem toda refletia-se em fragmentadas superfícies espelhadas,e, de novo o sol! Ela deixou o abrigo improvisado e prosseguiu seguindo a trilha. Longos e largos caules a cercavam. No ar, o aroma quase palpável da terra molhada. E, de repente , o rumor de passos. Virou-se. Ninguém. Um longo arrepio percorreu seu corpo. Tentou tranquilizar-se e voltar. Mais algumas horas e o entardecer traria a noite! Caminhou, caminhou, e, quanto mais andava, mais a floresta a envolvia. Mas a rua passava logo ali! Enganosos se mostraram todos os caminhos. Qualquer direção que tomasse, não a levava a saída. E…os passos. Parava, eles desapareciam. Recomeçava a andar e o crepitar das folhas recomeçava. Quem esta ai? Perguntou diversas vezes, virando-se bruscamente. Nenhuma resposta! Começou a inquietar-se. Parou. Fazer o que? Pensou. Ficar plantada ali, esperando que alguém do grupo viesse ao seu encontro? Mas quando foi que se perdeu? Estavam todos juntos recolhendo frutas quando surgiu a lebre, e depois a chuva, e depois…e depois só ela, a floresta e aquela certeza já, de que não estava só! Olhou a sua volta. Sentou-se sobre a sacola de lona. O que faria se as trevas a alcançassem antes dos amigos? Espantou aqueles pensamentos. O que quer que acontecesse, tinha que manter a calma. Os nervos no lugar. Não permitiria que o pânico a subjugasse. Respirou fundo, e neste momento, algo junto ao cipreste vizinho se mexeu. Seu corpo enrijeceu ante a expectativa que alguém se revelasse. Nada! Prendeu a respiração e, tentando não fazer barulho, arrastou-se ate a arvore vizinha. O ruído repetiu-se junto a outra, e ela o seguiu. E assim, esgueirando-se de arvore em arvore, sem aperceber-se do tempo, das folhas molhadas, do zumbido dos pernilongos, ela voltou e divisou a clareira que prenunciava a conhecida rua. E o grupo de amigos que preparava-se para sair.
“Então, ate que você não se molhou muito! Chuva rápida, essa de outono, vem, e de repente já termina!”
“Que bom que vocês estão aqui. Pensei que eu havia me perdido!”
“Perdeu-s? Na moita ao lado?”
Ela olhou na direção em que estivera embrenhada, o que lhe pareceu, longas horas antes, e viu, poderia jurar que viu uma pequenina mão lhe acenando em adeus, por entre os velhos e longos caules da floresta.
Ludmila Saharovsky
Reserva florestal do rio Pinhega. Arhangelsk – Rússia
imagem: jerry uelsmann-photography

    

    Paisagem na neblina

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    Que montanha é essa, que vejo como se sonhasse, com seus picos sólidos materializados na paisagem? Catedral de pedra, recortada no cenário, ela perpetua seu mistério na superfície das noites e dos dias. Ser ancestral, lentamente me absorve e aprisiona em seu ventre e me povoa com sua historia repleta de abismos. Entre nuvens, sem espanto, sem partilha, a montanha me contem. E nela eu caminho, peregrino.
    Ali reencontro a mulher. Ela continua só, como sempre. Caminha em minha direção, os pés descalços, o corpo silenciado pela quietude dos sentidos. Mulher outra, mas tão minha conhecida! Observo-a por entre as palavra, num espaço/tempo que remove de mim qualquer angustia, qualquer vazio. Ela é una com as falésias, e eu a ouço e compreendo, permeada pelo tempo e pelo vento. Ah! Quero tocar seus cabelos, como antigamente, quando ela olhava para o horizonte enquanto, imperceptível aos meus sentidos, gestava em si esta paisagem que ora habito. Talvez nesse tempo eu pudesse lhe sorrir, envolver-me em seus desejos, perceber o frágil equilíbrio entre seu passado e o meu futuro, mas não! Perdi-me dentro de mim, corroído pelo medo de perdê-la, num labirinto sem saída que instalou-se em minha alma. E agora, eis-me aqui, murmurando seu nome, olhando para seu vulto que se reflete nesses espelhos de pedra, hipnotizado por sua etérea presença, como sempre. Como sempre. Seu silencio fala muito mais para mim agora, e enquanto a observo, a morte me espreita. Paciente. Ah!… Que espere!
    A mulher me toma mansamente pela mão e juntos penetramos naquele espaço pétreo, entalhado na neblina. O tempo remete-me a uma paisagem de outrora, o corpo todo alinhavado pelos desejos reprimidas: de tê-la, de tocá-la, de possuí-la, de atá-la a mim pela eternidade. Vomito minha dor, alimentada por sua ausência, e grito: Porquê? Porquê o destino levou-a para tão longe de mim?
    Ela, então, presença diáfana gerada pelos meus anseios, guia-me na paisagem mágica, mapa que traz costurado à sua sombra. Seu rosto desliza pelo tempo, e eu passo a enxergar através de seus olhos, repletos de espanto e de ternura e a sentir suas emoções. Então, essa paisagem refletida, agora, também em meu destino, finalmente se abre para mim. A morte? Ah…a Morte que me enlace!
    Ludmila
    (trecho do conto que escrevo: Paisagem na Neblina)
    A imagem é de Jerry N. Uelsmann, fotógrafo americano, que foi o precursor da fotomontagem no século 20 na América.

        

      Órgão projetado por Da Vinci

      Leonardo Da Vinci também se aventurou no desenho de instrumentos musicais. Projetou uma espécie de órgão de cordas, que giravam em rodas de madeira conforme tocadas. Chamou o instrumento de “viola organista”. Ele nunca chegou a construí-lo, assim como muitos outros de seus projetos. O pianista polonês Slawomir Zubryzcki revelou no mês passado o “viola organista” que ele construiu baseado no projeto de Da Vinci. O som é incrível, uma mistura de órgão e violoncelo, e pode ser conferido no vídeo abaixo. Essa foi a primeira vez que Zubryzcki mostrou seu feito em público.

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        J.R.R. Tolkien Cartas de Papai Noel

        Em dezembro de 1920, J.R.R. Tolkien começou uma tradição que duraria 23 anos: ele escreveu e ilustrou uma carta do Papai Noel para seu filho John, que na época tinha três anos de idade.
        A partir de então, até o Natal de 1943, os quatro filhos de Tolkien receberam um envelope com selo do Pólo Norte e uma carta contando histórias cada vez mais elaboradas e repletas de detalhes e fantasia.
        Em 1976, algumas cartas e ilustrações foram compiladas e publicadas pela família do escritor.
        Abaixo você confere a cópia da carta escrita em 1925:carta2carta3Casa do Penhasco
        Topo do Mundo
        Perto do Pólo Norte

        Natal de 1925

        Meus queridos meninos,

        Estou terrivelmente ocupado este ano – o que faz a minha mão tremer mais do que nunca quando eu penso nisso – nem por isso mais rico. Na verdade, coisas terríveis têm acontecido, alguns dos presentes estragaram, eu não tenho o Urso Polar para me ajudar e tive que mudar de casa pouco antes do Natal, então vocês podem imaginar o estado em que as coisas estão, e vão perceber porque tenho um novo endereço, e porque só posso escrever uma carta para os dois. Tudo aconteceu assim: um dia com muito vento de novembro passado, meu gorro saiu voando e ficou preso no topo do Pólo Norte. Eu disse para não ir, mas o Urso Polar subiu até o fino cume para trazer o gorro para baixo – e trouxe mesmo. O pólo partiu-se ao meio e caiu em cima do telhado da minha casa, o Urso Polar caiu pelo buraco que se abriu na sala de jantar com meu gorro sobre seu nariz, e toda a neve do telhado caiu dentro da casa, derreteu, apagou todas as lareiras, e escorreu até o porão onde eu guardava os presentes deste ano, e o Urso Polar quebrou a perna. Agora ele já está bem, mas eu fiquei tão zangado que ele disse que nunca mais vai tentar me ajudar. Creio que ele está magoado, mas vai passar até ao próximo Natal. Estou enviando uma foto do acidente e da minha nova casa sobre o penhasco do Pólo Norte (com belos porões no penhasco). Se o John não conseguir ler a minha velha e trêmula letra (tenho 1925 anos), ele deve pedir ao pai de vocês para ler. Quando o Michael vai aprender a ler e escrever suas próprias cartas para mim? Muito amor para vocês dois e para o Cristopher, cujo nome é parecido com o meu.

        Isto é tudo. Adeus.

        Papai Noel

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        Obs.: O Papai Noel estava com muita pressa – me disse para mandar um dos seus mágicos biscoitos de desejos. Quando o quebrarem, façam um pedido e observem se ele se realiza. Desculpem a letra grosseira, tenho uma pata gorda. Eu ajudo o Papai Noel com os embrulhos: eu vivo vom ele. Eu sou o Grande Urso (Polar)

        Matéria retirada do site: http://bistrocultural.com/7403/carta-do-papai-noel-por-j-r-r-tolkien.html

            

          Natal em Guararema

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          Novamente nossa pequenina Guararema (S.Paulo) se veste de luz para comemorar o Natal de 2013.
          Pelo quinto ano consecutivo a cidade ferve de turistas, com uma bela programação de Natal, celebrando numa profusão de luzes e cores, o nascimento do Menino Jesus. Vale a pena uma visita para conferir ao vivo! (Ludmila)

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