Oração para os mistérios dolorosos do rosário

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Gotejam meus olhos
enquanto, conta a conta
desfio este rosário
de preces decoradas.
A língua, arredia,
move-se emitindo sons
que não alcançam
o perdido paraíso
mas eu, estoica,
prossigo buscando
o inalcançável segredo.

(Ludmila Saharovsky)

      

    Jacareí: Tempo e Memória

    O novo Blog do livro está nascendo...

    O novo Blog do livro está nascendo…

    Livros de pesquisa de historiadores, na maioria, jacareienses

    Livros de pesquisa de historiadores, na maioria, jacareienses

    Digitalizando documentos e depoimentos

    Digitalizando documentos e depoimentos

    Só quem tem por ofício a escrita, sabe a alegria que se sente, ao ver um livro tomando forma.
    É uma gestação. De ideias, certo, mas creio que todos nascemos de uma ideia que se fez, primeiramente, verbo.
    Reler livros de historiadores que nos iluminam o caminho das descobertas. Rever fotos de lugares que já não existem. Entrar nas memórias de pessoas que já se foram. Descobrir detalhes, sentimento, emoções, uma outra visão da história. E materializar, tudo isso, de novo, no papel, não tem preço.
    Sou uma privilegiada e agradeço, diariamente, pela oportunidade de devolver à minha cidade, um pouco das lembranças que vão se esmaecendo na memória coletiva. Jacareí: Tempo e memória é um livro escrito a muitas mãos. É uma colcha de retalhos muito pessoais, que eu vou, apenas, arrematando.

    Abaixo, trechos de recordações que comporão o livro:

    “Jacareí, quando eu nasci, era assim. Calma, quieta, onde todos formavam uma só família, e onde, quando saíamos em grupo, brincávamos de enumerar um por um, os moradores daquela rua, daquelas casas queridas. O meu pai tinha uma farmácia, e neste terreno de sua casa, lá no fundo do quintal, está enterrado meu umbigo”.(Jarbas Porto de Mattos)

    “Amigos, eu, como professor, quero deixar gravada aqui minha homenagem ao inesquecível Cônego José Bento, outra figura esquecida. Ele que foi um educador exemplar, criador do Colégio São Miguel, nas terras onde hoje está a fazenda Coleginho, e que depois de sua morte foi transferido para o Avareí. Hoje, por causa dele, temos a nossa Escola Profissional” (Décio Moreira)

    “Eu me lembro muito bem de Dona Dionísia Zicarelli. Ela estudou piano com maestro Laudelino de Moraes. Ela, O Laudelino e dona Adelaide, sua esposa, fundaram a Escola de Música Santa Cecília. A Dionísia também tocou muito piano nas seções de cinema do Perretti e do Albano Máximo. Tinha gente que ia no cinema só para ouvir ela tocar. Acho que foi na década de 40 que ela criou a Orquestra Sinfônica de Jacareí. O Verano Câmara tocava violino. O Antonio Piovesan também. Era uma beleza a apresentação deles lá no Trianon. Ah, lembrei! A Noêmia Loureiro tocava piano…” (Odilon de Siqueira)

    “Lá onde hoje é a estação de captação de água do SAAE, chamava-se “Bairro do Toco”.( hoje Jardim Liberdade) O rio ali, fazia uma ilha, bem no pasto do Coronel Antonio Ramos, onde tinha uma árvore enorme. Toda a molecada nadava no rio, naquele lugar, porque lá dava pé. A gente desconhecia o perigo! Precioso tempo…” (Domingos Válio)

    “Lembro-me ainda, muito bem, de quando eu tinha 12 pra 13 anos, das brigas de zona com zona, que eram um horror. Nós fazíamos guerra com o pessoal dos outros bairros. Tinha a turma do Bairro do Riachuelo, da Matriz, do Largo do Rosário, da Estação e da Ponte. Então era um tal de uma turma desafiar outra, que não tinha jeito.Havia uma arvore que dava uma frutinha parecida com azeitona, que agente usava nos estilingues. Nós enchíamos os bolsos dessas frutinhas e partíamos pra briga. Usávamos também taquaras, paus e pedras. Nós marcávamos encontro para as brigas e a coisa ficava preta.” (Ubirajara Mercadante Loureiro, Seu Biroca)

    “Naquela época usava-se encomendar muita coroa de biscuit para enviar aos defuntos. Elas eram compradas de fora, de viajantes que traziam as amostras e a gente encomendava. Elas iam enfeitadas com fitas roxas, as letras douradas para escrever e eu ajudava o titio a separar as letras para escrever as mensagens.
    Ah! E também não se usava roupa comum para enterrar os defuntos. Precisava ser tudo novo. As senhoras eram enterradas com mortalhas. Compravam os panos na loja de vovô. Fazia-se uma camisola de baixo conforme a cor que se queria. Azul se fosse vestida de Nossa Senhora, por exemplo. Fazia-se aquele manto comprido que não podia ser costurado à máquina. Tinha que ser na mão. Eu ajudei a costurar muitos. Os homens iam enterrados de terno mesmo.” (Rafaela Mercadante)

    E minha colcha de retalhos preciosos, segue… (Ludmila Saharovsky)

    Ponte Preta

    Ponte Preta

    Banco do Vale do Paraiba

    Banco do Vale do Paraiba

        

      Um passeio no Uruguai

      Reserva do Taim, Rio Grande

      Reserva do Taim, Rio Grande

      Este final de semana, aproveitamos para retornar ao Uruguai, rever o Forte de São Miguel e passar um dia no Hotel Fortim de São Miguel, inserido no Parque. Recomendamos este passeio para todos os amigos que vão até o Chuí, para fazer compras. Para se chegar ao Forte, basta seguir na Avenida Brasil, na direção contrária ao comércio, ou seja, à direita, se tomarmos como parâmetro o regresso ao Brasil. Passa-se pela aduana uruguaia, nesse local, sem problemas, e sem necessidade de Carta Verde, pois o Forte fica a menos de seis km. de distância. O Hotel fica ao lado do Forte, basta atravessar a Avenida. É uma bela construção erguida em 1942 e recebe muitos caçadores, quando se abre a temporada de caça ao pato selvagem. As fotos descrevem o local melhor do que as palavras. (Ludmila)

      A reserva ecológica do Taim, sempre maravilhosa com suas capivaras


      A reserva ecológica do Taim, sempre maravilhosa com suas capivaras

      Um falcão na paisagem

      Um falcão na paisagem

      Vista lateral do Hotel

      Vista lateral do Hotel

      O parque com suas "Sete leis espirituais de Sucesso"

      O parque com suas “Sete leis espirituais de Sucesso”

      Parque à volta do Hotel

      Parque à volta do Hotel

      Parque à volta do Hotel

      Parque à volta do Hotel

      Atravessando o Portal da Paz

      Atravessando o Portal da Paz

      Uma pausa para meditação

      Uma pausa para meditação

      Muitas pedras significativas no meio do caminho...

      Muitas pedras significativas no meio do caminho…

      Muitos degraus para se chegar ao ninho

      Muitos degraus para se chegar ao ninho

      O longo terraço interno que leva aos apartamentos

      O longo terraço interno que leva aos apartamentos

      A vista que se descortina do quarto

      A vista que se descortina do quarto

      A janela e parte do dossel da cama

      A janela e parte do dossel da cama

      Que tal um jantarzinho nesse salão?

      Que tal um jantarzinho nesse salão?

      Salão de jantar com lareira ao fundo

      Salão de jantar com lareira ao fundo

      Um friozinho de 6 graus, um bom vinho e o restaurante só para nós que chegamos cedo...

      Um friozinho de 6 graus, um bom vinho e o restaurante só para nós que chegamos cedo…

      Outro salão para o café da manhã, que é excelente!

      Outro salão para o café da manhã, que é excelente!

      Com a cabeça literalmente a prêmio!

      Com a cabeça literalmente a prêmio!

      Forte São Miguel

      Forte São Miguel

      Forte São Miguel

      Forte São Miguel

      Forte São Miguel em outro ângulo

      Forte São Miguel em outro ângulo

      Liv na entrada do Forte São Miguel

      Liv na entrada do Forte São Miguel

      Forte São Miguel, entrada

      Forte São Miguel, entrada

      Forte de São Miguel...até breve!

      Forte de São Miguel…até breve!

        

        José Menino

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        José Menino – Uma pria perdida na infância

        Filha de imigrantes, com parcos recursos para grandes viagens de lazer, férias para mim eram o acontecimento do ano. Passar uma semana na praia, Deus do Céu, como era bom!
        Meus pais acreditavam que banho de mar possuía poderes terapêuticos e o sol ajudava a fixar o cálcio nos ossos, potencializando o efeito do óleo de fígado de bacalhau que eu engolia sob protestos, diariamente, tapando o nariz! Assim, mal despontava janeiro, passagens compradas antecipadamente, lá íamos nós até a Praça da Sé, embarcar em outro ônibus que nos levava até Santos.
        Creio que nunca fui tão feliz como naquelas temporadas!
        Percorrer a Serra do Mar, a estrada cheia de curvas, maravilhando-me com a paisagem, o nariz grudado à janela, vendo os anúncios passarem por mim, flutuando nas montanhas, era uma emoção inenarrável.
        Tudo era mágico: a neblina, os precipícios, as altas pontes, os túneis, os automóveis que paravam na subida da serra com o motor “fervendo”, os ouvidos tamponados pela pressão. E depois o cheiro: Aquele odor ardido da Usina de Cubatão, cuspindo longas labaredas de fogo pela alta chaminé, anunciando que, finalmente, o mar estava próximo.
        Nós sempre nos hospedávamos numa modesta pousada, de frente à Praia do José Menino. Tudo, a partir de então entrava num ritmo diferente: a rotina, o cenário, a comida, as pessoas, mas, sobretudo, os sentimentos. A felicidade podia ser tocada e o era. Ela deixava em mim marcas físicas: arrepios, o riso que não desgrudava da boca e uma certa angústia em ver que não podia interferir na passagem do tempo e fazer de conta que os dias de verão nunca terminariam!
        O pai e a mãe, descontraídos, vestiam-me com roupas novas e íamos passear na orla. Tirávamos os sapatos e deixávamos que as ondas se quebrassem sob nossos pés descalços, saboreando picolés de coco e chocolate, meus predileto! E havia a lua, imensa, refletida na água! Pela manhã, bem cedo, o perfume do óleo de bronzear já enchia o corredor, saindo de todos os quartos. Nas mesinhas do refeitório, bananas, suco de laranja, café ralinho, pão e as bolinhas geladas de manteiga eram um verdadeiro manjar dos deuses! Depois, o chapéu de palha, os tamancos de solado de madeira, óculos “gatinho” e a obrigatória saída de banho confeccionada em algodão branco e felpudo eram acessórios que não podiam faltar. Ah! e havia também a boia preta, aquela velha câmara de pneu, gorda de ar, que o dono da pensão nos emprestava para brincar nas ondas.
        Os guarda-sóis começavam a surgir, mas eram poucos, assim como as esteiras feitas de palha; mas havia as sombras de árvores disputadas por brancas mães e avós, apertadas em seus maiôs de lastex e cercadas por crianças barulhentas e felizes como eu! Poucas horas depois, e o sol já ardia na pele, assim, com as bochechas afogueadas, nariz lambuzado de pasta d’água, cabelos endurecidos pelo sal das ondas e o fundilho do maiô cheio de areia compactada, eu voltava à pensão, rezando para que não houvesse fila aguardando a vez de entrar debaixo da ducha comunitária, instalada no corredor. Minha pele ardia demais sob a mistura de óleo, sal e areia!
        Após o almoço de salada, arroz com feijão, macarrão e frango geralmente ensopado, a sesta era obrigatória. O dia, dividido em dois, durava o dobro, pois à tarde a maratona se repetia. O regresso pra casa era triste demais, mas, a certeza de que outro janeiro em breve chegaria, espantava as lágrimas e a contagem decrescente dos dias começava ali mesmo. Hoje, essas recordações passam por minha cabeça, feito filme, e eu me espanto:Era eu mesma a protagonista?
        Digam-me, por favor, a quem posso pedir de volta minha infância?

        (Ludmila Saharovsky)
        cronica publicada no jornal O Valeparaibano