Árvore Adentro – Octávio Paz

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Cresceu em minha fronte uma árvore.
Cresceu para dentro.
Suas raízes são veias,
nervos suas ramas,
Sua confusa folhagem pensamentos.
Teus olhares a acendem
e seus frutos de sombras
são laranjas de sangue,
são granadas de luz.
Amanhece
na noite do corpo.
Ali dentro, em minha fronte,
a árvore fala.
Aproxima-te. Ouves?

(Trad. Antônio Moura)

    

    Um fraterno mundo amarelo

    Van Gogh e Sônia
    Van Gogh
    Saímos de Paris bem cedo, logo que entrei no carro e registramos no GPS o destino Auvers-sur-Oise, minhas mãos suavam e meu coração estava sem prumo. Aquele encontro havia sido marcado anos antes, depois do saque a uma lixeira. Foi durante uma tarde enamorada. Enquanto tomávamos sorvete, vi um senhor depositar no lixo um saco de livros. Raras audácias são mais legítimas que aquelas realizadas pelos namorados. Eu, engenhosamente, pedi e ele sucumbiu. Invadiu a lixeira e o objeto do saque foi parar no porta-malas do Opala verde. Dentre os livros, uma biografia de Vincent Van Gogh, edição de Lisboa, início de século XX.
    Entramos na rodovia rumo a Van Gogh. Sabia o que encontraria lá depois de tantas leituras, visitas virtuais e viagens por suas telas, mas jamais poderia me preparar para o que sentiria naquela manhã fria e chuvosa de novembro. Logo na entrada de Oise, as pequenas casas do vilarejo já vão nos seduzindo. Uma avenida discreta faz vezes de máquina do tempo. As ruas vão se tornando mais estreitas, as pedras constantes, os telhados avisando que estão por lá há muito tempo e já viram tanto que uma vida apenas não me bastaria. Lamentei ser breve, naquele instante. Efêmera como as fumaças que fugiam das chaminés encantadas.
    O outono me presenteou; talvez me esperasse, pois sabia o quanto é imenso meu apreço pelo ilustre e antigo morador que ali repousa. As folhas extremamente douradas caiam constantemente, o vento gelado não deu trégua e a chuva fininha, caseira, arrematou o toque final ao quadro que Van Gogh me permitiu viver.
    Por todos os lados para os quais meus olhos eram sequestrados, tudo estava amarelo. As árvores, as pedras antigas, as folhas forrando o chão, as escadas, as sacadas e os telhados.
    Enquanto assisto mais uma vez as imagens da paisagem eternizada na câmera, sou capaz de sentir o frio que me arrebatou naquele dia, as folhas invadem minha tela e as lágrimas que lá chorei, agora não são menos intensas. Que poderia Van Gogh diante de tanta força amarela? Render-se e nada mais. O fez profundamente.
    Sua morada; a estátua discreta, mas elegante, avisando que ali ele viveu e pintou, ou melhor, que ali ele pintou e, por isso, viveu um pouco mais (foram 70 quadros em 78 dias); as vielas; as escadas onduladas e a cada esquina uma imagem familiar para quem o lê, admira e se espanta por vida tão especial e enigmática daquele que o tempo decidiu ser um gênio.
    É indiscutível a genialidade de sua obra, mas tem algo em Van Gogh que me encanta tanto quanto seus quadros, a amizade entre o pintor e seu irmão Theo. Talvez seja difícil compreender esse fraterno amor os que não conseguem conviver com seus irmãos. Uma leitura superficial da biografia de ambos já espantaria os individualistas. Como Theo investiu, insistiu e cuidou tanto de um irmão imprevisível, tantas vezes irascível! Não cogitou não amá-lo. Mesmo diante de sua constante metamorfose emocional, o irmão o acolheu na família que constituía. Tentou entender seu ciúme, suas angústias, sua solidão e aceitou seu talento, possibilitando que ele se manifestasse.
    Quando Van Gogh abreviou sua vida, foi com Theo que passou suas derradeiras horas, consta que conversando. Depois que morreu, o pintor de força amarela fez falta ao irmão. Theo faleceu seis meses depois; ele amou tanto seu irmão mais frágil que sua esposa fez questão de enterrá-lo ao lado de Vincent.
    Fiquei por ali, algum tempo, admirando as duas derradeiras moradas discretas, antigas, limpas. Depositei minha pequenina flor amarela e agradeci por ele ter nascido, resistido, sonhado, pintado. Agradeci sua existência humana, sua resistência artística, sua transcendência permanente em nossas paredes antes vazias. Agradeci pelo exemplo de seu irmão. A lição de Theo não é menor, seu viver nos convence da beleza daqueles que cuidam dos seus, sabendo árdua a missão, não desistem diante da facilidade de poderem escolher seus irmãos, conviver com os que privam de nossas expectativas e sonhos e não nos exigem.
    Theo e Van Gogh foram mais que amigos, foram irmãos. Poucos irmãos amaram tanto quanto o irmão de Van Gogh. Poucas imagens me calaram tão profundo quanto o cenário do repouso de ambos.

    Sônia Gabriel
    (Jornal de Caçapava, 29 de abril de 2011.)

    Não há como não se emocionar com este relato de viagem, dessa moça tão especial que é Sônia Gabriel.
    Professora de Historia, Pesquisadora de Cultura Popular, Especialista em gestão da qualidade do Processo Pedagógico, autora do livro Mistérios do Vale (já em segunda edição) e Co-autora, junto com Rita Elisa Seda de Eugênia Sereno, a Menina dos vagalumes, Sonia mantem um blog delicioso, que merece ser visitado por todos os apaixonados pelo Vale do Paraiba e sua historia, e suas historias, histórias de Sônia, que, como ninguém, sabe contá-las e nos encantar. (Ludmila)

    misteriosdovale.blogspot.com

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      Todo dia é dia de índio!

      Foto de Andrea Ribeiro

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      Foto de Andrea Ribeiro

      Foto de Andrea Ribeiro

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      Foto de Andrea Ribeiro

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      Foto de Andrea Ribeiro

      Foto de Andrea Ribeiro

      Foto de Andrea Ribeiro

      Foto de Andrea Ribeiro

      Hoje, 19 de Abril é comemorado no Brasil o Dia do Índio. Comemorado?
      Bom! Deixemos pra lá!…
      A data foi criada em 1943 pelo presidente Getúlio Vargas. O Dia do Índio é destinado a vários eventos que remetem à valorização da cultura indígena, além de estar voltado à reflexão sobre a importância da preservação dos povos indígenas, da manutenção de suas terras e respeito às suas manifestações culturais.
      Como imagens falam mais do que palavras, selecionei para vocês as fotos dessa fotógrafa magnífica: Andrea Ribeiro, que registra imagens de índios brasileiros desde 2005 e já fez muitas exposições sobre o tema.
      Mais fotos dessa artista poderão ser vistas no blog:

      umolharindigena.blogspot.com.br

         

        O sumiço das galinhas

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        Como todos, na vizinhança, no bairro em que morávamos em Carapicuíba, nós também tínhamos um galinheiro. Quantas vezes eu despertei ao som dos galos saudando o nascer do sol, cada qual com seu cocoricó particular – sempre estridente – como tão bem descreveu João Cabral de Melo Neto em seu poema Tecendo a Manhã:
        “Um galo sozinho não tece a manhã/ ele precisará sempre de outros galos/ de um que apanhe esse grito que ele/ e o lance a outro; de um outro galo/ que apanhe o grito que um galo antes/ e o lance a outro…”
        Pois era exatamente assim que amanhecia nos dias de minha infância. Logo, adultos e crianças pulavam da cama para enfrentar as lides, que não eram poucas! Nosso galinheiro era um cercado de tela no fundo do quintal, onde o avô improvisara um tosco telhado de sapé que protegia o poleiro. Nas feiras-livres havia um grande comércio de galinhas poedeiras: ruivas, brancas, carijós. Seus ovos, depois de galados, eram reservados. Assim que alguma começasse a apresentar sinais de que iria ficar choca: as penas arrepiadas, a cantilena diferente, a busca de um canto para se aninhar, já a avó corria para providenciar os ovos e eu ficava torcendo para que os pintinhos nascessem logo. A transformação de um ovo num ser vivo foi o primeiro milagre que presenciei. Com o passar dos dias, eles iam ficando mais pesados e, ao serem observados contra a luz, percebia-se, nitidamente, que dentro se formavam os contornos de outra ave: o bico, os pés, as tênues veias transportando o sangue. As vizinhas dependuravam-se nas cercas que delimitavam os quintais, em busca de uma prosa que acontecia mais por gestos do que verbalizada. Ainda não dominávamos tão bem o novo idioma, assim, na base de muita mímica, eram informadas de quantos ovos haviam vingado. Ofereciam então talos de couve, folhas amassadas de alface e outras verduras que, bem picadinhas, reforçavam a dieta daquela numerosa prole alimentada também com quirera e minhocas. Em algumas semanas as aves começavam a adquirir características próprias, revelando o sexo. Os varões eram sempre os mais briguentos, sendo os primeiros a cumprirem seu destino de ensopado!
        O curioso era como cada família Identificava suas aves. Uma fita colorida atada ao pé, logo remetia as extraviadas ao seu dono, num código que permitia a todos um convívio absolutamente pacifico.
        Certo dia chegou à vila um circo mambembe composto por alguns pares de artistas, meia dúzia de caminhões, um casal de pôneis amestrados, alguns cães vestidos com saiotes e boleros, um elefante muito triste e um leão meio cansado…Não é preciso dizer que a garotada entrou em êxtase! Naquele fim de mundo, um circo era uma transformação radical da rotina. E foi! Tanto que, após anos e anos de distância que me separam dos fatos, rememoro como se fosse ontem, a indignação de D. Rosa, inconformada com o sumiço de sua carijó. Foram aqueles desocupados, afirmou ela convicta, indo tomar satisfações com o homem magrelo que, equilibrando-se sobre longas pernas de pau, gritava pelo megafone as atrações de cada espetáculo. O dialogo esquentou de tal maneira que foi preciso chamar Seu Raimundo, o guarda civil, para apaziguar os ânimos. Mas… a galinha de D. Rosa não foi a única a desaparecer misteriosamente. Outras a seguiram provocando um reboliço na rua, maior do que em dias de feira ou de quermesse! Eu sei é que, por conta do desaparecimento das aves, foi-nos terminantemente proibido rondar as adjacências. E se começassem a desaparecer também as crianças? Assim, sem ter caído nas graças do respeitável público, logo o circo foi desmontado e partiu.
        Quanto ao mistério do sumiço das galinhas…este jamais foi elucidado!
        (Ludmila Saharovsky)

          

          Poema de Assis Freitas

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          poema para todos os partos de minha costela

          as mulheres que amei sempre me foram desconhecidas,
          bebiam a minha sede e se fartavam em minha fome,
          depois se iam com meus passos tontos.
          (Assis Freitas)

          José de Assis Freitas Filho, sociólogo, jornalista e poeta baiano, de Feira de Santana, lançou este ano seus
          “Poemas de urgências para súbitos desalinhos”, a partir das publicações feitas no blog Mil e um poemas.
          A leitura de seu livro prende-nos de súbito e não nos abandona mais: poemas para todos os partos de suas palavras que nascem em nós.(Ludmila)
          Leia mais Assis Freitas nos blogs: mileumpoemas.blogspot.com e
          arvoredapoesia.blogspot.com

            

            Contam os antigos…

            Contam os antigos...

            Ninguém soube como tudo começou. De repente não se falava de outra coisa: a cidade fora visitada por extraterrestres. E não era a primeira vez! De repente, sem que ninguém soubesse como ou por que, as comadres reuniam-se e passavam o dia comentando sobre os tais dos “marcianos”.
            O tempo passava, todo mundo esquecia, mas desta vez aconteceu logo com o seu Jurandir, o boticário mais respeitado do pedaço.
            Contou ele que vira as luzes piscando e se aproximando na neblina da madrugada que o pegara insone, observando a Mantiqueira do terraço da sala. Naquela época, todos acreditavam em tudo, principalmente, quando nada acontecia.
            Eis que a notícia do disco voador começou de mansinho, como as grandes epidemias que se espalham, aparentemente vindas do nada: seu Jura fora raptado por uma nave, bem na porta de sua casa, localizada na principal praça da cidade, ao lado da igreja e de frente à Câmara Municipal. Começou tudo com as luzinhas no céu, que ele saiu para ver mais de perto, de pijama e chinelos. Esquecera até do boné contra o sereno. A cidade dormia seu justo sono: Nenhuns cachorros sem dono ou bêbado vadio serviram de testemunhas. Nenhuma dama da noite perambulava pela quadra, quando o brilho materializou-se num funil, ofuscando-o, hipnotizando-o, até que se sentiu suspenso no ar e depois… depois não se recordava de mais nada!
            Os mais velhos garantiram que seu Jura estava variando. Oitenta anos! Não seria para menos! Depois que dona Mocinha morreu, ele nunca mais foi o mesmo. Não dizia coisa com coisa, tomara-se recluso e ante social, e agora vinha com essa patacoada sem pé nem cabeça. Disco voador na cidade, e logo na Praça da Matriz! Onde é que já se viu?
            O fato é que a história mexeu com a população mais do que se poderia esperar, principalmente com a moçada! À noite, ninguém conseguia dormir. Grupos organizavam-se para vigílias permanentes. O céu noturno era perscrutado com binóculos, lunetas, óculos de grau. Qualquer vidro de aumento, à mão, servia para o intento.
            Quando a notícia parecia esfriar, logo surgia outra, e a mais recente dava conta de que seu Jurandir tinha em seu poder, uma prova. Uma prova incontestável de existência dos ETs.
            Os chefes de reportagem dos principais jornais ordenaram aos seus noticiaristas que municiassem o povo com revelações assombrosas. Tabloides vendiam feito água!
            Seu Jura aparecia estampado, diariamente, nas primeiras páginas até dos periódicos da Capital. Tornou-se presença obrigatória nas rodas de prosa das esquinas, na mesa do bar do seu Constâncio, nos programas de auditório das rádios da região, e estaria até na TV, se essa já existisse. Mas, o tempo passava e a tal da prova nunca que era apresentada, até que, por natural cansaço, todos começaram a acreditar que ela já fora mostrada, e que provocara um choque geral.
            Os mais enfáticos chegaram a afirmar que seu Jura tomara-se portador de poderes paranormais, a partir do objeto secreto que os marcianos lhe confiaram. Filas de crédulos começaram a formar-se em frente à sua casa em busca de soluções para os mais variados problemas. Ele resolvia desde olho gordo, passando por amores impossíveis, perdas de emprego e até aleijões.
            Hoje, seu Jurandir da Farmácia empresta o nome à principal avenida da cidade. Lembram os antigos que fora um personagem ilustre, um ser humano ímpar. Um benfeitor. Quanto aos extraterrestres… mas quem foi que disse que eles existiram?
            (Ludmila Saharovsky)

              

              Palavras/Silêncios

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              “O corpo é uma coisa encantada que precisa mais que comida e bebida para viver.
              Ele precisa de palavras. Porque é nelas que mora a esperança”
              (Rubem Alves)

              Amo as reflexões às quais os escritos de Rubem Alves sempre me remetem.
              Penso em sua afirmativa de que “o corpo necessita de palavras que o alimentem” e divago…Será?
              Não é em todas as palavras que moram a esperança, a beleza, a delicadeza.
              Existem algumas, venenosas, que vão se desprendendo de nós, assim…de repente, sem qualquer compromisso que não seja o de ferir. Armas palavras.
              Outras vadias, vazias soltam-se ao vento, tagareladas, esparramadas, diluídas, não deixam nem uma única pegada. Ocas palavras.
              Sem âncora, sem encadeamento, sem eco, elas como que entram por um ouvido e saem pelo outro, placebos de idéias que, se não contêm em si o germe da comunicação, a intenção da partilha, do preenchimento do outro com fé e alegria… mal também não fazem. Palavras cotidianas.
              Fala a mãe, fala o pai, fala o filho, fala a vizinha, a amiga, a avó, o padeiro, o pedreiro, o colega de trabalho. Falam o dia inteiro, mas… o que foi que disseram? Eu mesma não me recordo de um décimo do que matraquei, o que dizer então, do que ouvi? Rumino com meus botões: porquê falamos tanto?
              Nesse mundo onde “quem não se comunica se trumbica” jamais nos ensinaram o poder de comunicação que há, também, no silêncio. Nós nunca nos concedemos um único minuto, em nossas vidas, para “ouvir” com os outros sentidos: intuir, perceber as múltiplas mensagens contidas num gesto, num olhar, num suspiro. O corpo inteiro fala!
              Parece que vivemos numa época de terror generalizado ao silêncio! Ao nosso derredor precisa haver sempre algum ruído: do rádio, da TV, do walkman, do CD, da campainha do celular, do pager, tudo permanentemente ligado! E tome música, notícias, receitas, entrevistas, críticas, testemunhos, propagandas, diálogos, monólogos, gritos e sussurros. E agora, conversamos também com olhos e dedos, o dia inteiro “ligados” ao computador.
              O silêncio talvez nos assuste tanto, porque nos deixa a sós conosco mesmos, a cabeça livre para pensar, os sentidos libertos para investigar, sentir, meditar, filosofar, descobrir. E, para não constatarmos o drama de que não temos qualquer assunto íntimo que nos instigue, recorremos aos sons ininterruptos que certamente nos entorpecem os sentidos e nos libertam do compromisso com outras necessidades mais sutis. Se nós não conseguimos saber da semente, da raiz, do galho, da flor e do fruto em nós, como saber a árvore que somos? Como entrar em sintonia com o mundo que nos cerca, se não ouvimos, não entendemos, não decodificamos suas linguagens de vento, de chuva, sol, lua, primavera, outono, orvalho, sereno, neblina? Se não percebemos o som de abelhas, moscas, mariposas, sapos, cigarras, grilos, riachos, cachoeiras, mares?
              Ah! Que saudades de nossos antepassados que podiam afirmar com segurança que iria chover, gear ou haver longa estiagem apenas compreendendo o discurso da natureza. Eles ouviam e entendiam até a linguagem de seus ossos!
              Tudo se comunica, amigos, mas não apenas por palavras. O mar tem voz, a floresta fala, o livro conta histórias. Conversam pessegueiros e violetas, cães, pássaros, cavalos, constelações. Vibra o infinito, dentro e fora de nós: a melodia das esferas…
              Talvez, para tentarmos penetrar nesse mágico espaço do nascedouro das palavras – certas, consistentes, raras – necessitemos do exercício do silêncio. Quem sabe consigamos semear mais paz, amor e esperança.
              Não custa tentar! (Ludmila Saharovsky)

                

                Alice Ruiz

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                Nefer Never – ALICE RUIZ

                nefer nefer nefer
                bela bela bela

                uma nuvem talvez
                desenha
                o desejo em minha pele
                toma
                a forma do teu corpo
                e me revela

                minúsculos imãs
                atraindo espaços
                pela boca seda
                pela pele rima
                pelos pelos sede

                neve e fogo
                força e febre
                no movimento
                o silêncio se bebe
                e se embriaga

                agora
                aqui
                no dentro do outro
                estilhaços de estrelas

                pleno de si
                esse cio
                eterno início
                nunca se sacia

                nunca nunca nunca
                never never never

                (De meu livro “Dois em Um”)
                Além da vida, ela mesma, a inspiração desse poema veio de um livro “O Egípcio” de Mika Waltari, onde uma das personagens, Nefer Nefer Nefer, que em egípcio significa Três Vezes Bela, diz ao seu apaixonado que a perfeição do amor é nunca realiza-lo. (Alice Ruiz)

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