Jacareí – 360 anos

Jacareí vista por Debret em 1841

Jacareí vista por Debret em 1841


Novamente abril, e mais um aniversário da cidade: Jacareí completa, neste ano de 2013, 360 anos.
Um aniversário comemorado em data estranha, pois:
A fundação do povoado deu-se em 8 de dezembro de 1652, quando recebeu o nome de Nossa Senhora da Conceição da Paraíba, em homenagem à santa do dia, que passou a ser a padroeira do lugar.
A elevação à Villa deu-se um ano após, em 22 de novembro de 1653, quando a Villa foi desmembrada de Mogi Mirim , conforme consta no documento do departamento do Arquivo do estado de São Paulo – vol II de 1942 pags 79 a 84, copiado pelo historiador Benedicto Sergio Lencioni em seu fascículo Historias, Gentes e Cousas de minha terra:

“…de tal modo a povoação cresceu que em 22 de novembro de 1653, um ano após a fundação, os moradores compareceram à casa do Capitão Diogo de Fontes perante o Capitão Bento Ferrão Castelo Branco e solicitaram fosse o Citio transformado em Villa, erguendo-se o Pelourinho. O Capitão Diogo pôs-se à frente de todos e após reverenciar o Capitão mor, olhou para os primeiros habitantes do povoado.Foi um momento mudo de expectativa. Sua voz saiu decidida e expondo as dificuldades dos moradores em ouvir missa e, por “caresserem seus filhos de Agoa de Batismo” dada a distância do povoado à Villa de Mogi Mirim, era justo o pedido.O Capitão mor observou a paisagem, olhou o rio, estendeu o olhar mais longe querendo vencer as barreiras azuladas dos contrafortes da Mantiqueira e, olhando para os moradores que o circundavam em expectativa, pensou por um momento no crescimento do território da Coroa e achando o “Citio capaz de ter larguezas de terras para que a povoação pudesse se expandir e crescer, determinou fosse levantado o Pelourinho.”

A a elevação à cidade deu-se em 3 de abril de 1849. Três datas distintas. Qual comemorar?

“A Vila de Nossa Senhora da Conceição da Paraíba cresceu muito lentamente. Durante um século nossa gente viveu com total dificuldade. Faltava o mínimo conforto. Os primeiros tempos foram de aventura, de verdadeiro pioneirismo. Sobrava coragem e determinação. As distâncias eram vencidas a cavalo, a pé ou em canoas pelo rio. Poucas eram as casas cobertas de telha. A sua maioria, as mais pobres eram cobertas de palha e sem forro. Somente os moradores mais abastados possuíam vidros nas janelas. A quase totalidade era de madeira bruta e as portas, de uma só folha, eram fechadas com tranca. Não existiam calçadas e era comum os animais andarem soltos pelas ruas.
Por volta de 1750, a Vila de Nossa Senhora da Conceição de Jacareí ainda era muito pequena e a vida de todos desenvolvia-se ao redor da igreja que era o centro de uma centena de casas. O comércio local era somente de cereais, carne seca, farinha, açúcar, vela, aguardente. Não havia iluminação, a não ser de vela e candeeiro.”
(Benedicto Sérgio Lencioni em Cadernos de Jacareí, pag. 11 edição de 1986)

Hoje, Jacareí está assim:

Jacareí, foto de Claudio Campos

Jacareí, foto de Claudio Campos

    

    Tempo Submerso: Resenha de Elaine Rocha

    Livraria Nobel de Ubatuba _SP.

    Livraria Nobel de Ubatuba _SP.

    O novo livro de Ludmila Saharovsky TEMPO SUBMERSO, é uma obra de impressionante beleza, repleta de poesia e de leveza, apesar de tratar de um tema extremamente pesado: o terror imposto ao povo da Rússia durante o século XX.
    Com uma narrativa pessoal e emocionada, Ludmila nos leva com ela em sua viagem ao norte da Rússia, às margens do Mar Branco, a Moscow, Yugoslavia, Austria e Brasil, em diferentes momentos que vão desde a primeira década do século XX até 2003, quando a autora viaja para o país de seus pais em busca de respostas sobre o desaparecimento de sua família, entre os primeiros anos do terror Trotskista e o terror comandado pelo presidente Stálin.
    A história é contada como uma experiência privada e íntima, relacionando a grande trama política de um governo imperialista que tentava implantar um novo regime às vidas de pessoas que lograram sobreviver e à morte daqueles que sucumbiram nos massacres, nos campos de execução e nas prisões geladas. A religiosidade colocada à prova, a lealdade à família estão em cada página de um trabalho que se pode chamar de jornalítico, histórico e poético.
    O que se coloca em questão é a fragilidade humana, frente à ditadura e à corrupção da violência que nega qualquer valor às vidas de homens, mulheres e crianças; a mesma fragilidade humana que leva – do outro lado dessa tênue linha – os corações de homens e mulheres a fecharem-se ao apelo de seus familiares, vizinhos e conterrâneo, e que senão aplica-lhes o terror, fecha os ouvidos, os olhos e a boca tornando-se cúmplices involuntários.
    Eu comparo este livro à obra de Maurice Howbwachs, A Memória Coletiva; porque cada portão, cada bosque, cada igreja, cada pedra do caminho percorrido por Ludmila trouxe-lhe uma memória, que não era apenas sua, mas de um povo que ainda espera por respostas.
    É com grande prazer que eu recomendo a leitura deste livro para professores, historiadores e leigos. Para todos aqueles que têm sede de saber e mantém em seu espírito a capacidade de se indignar.
    Elaine P. Rocha, PhD

    Elaine P. Rocha, PhD Lecturer Dept. History and Philosophy University of the West Indies Cave Hill, Barbados

    Elaine P. Rocha, PhD
    Lecturer Dept. History and Philosophy
    University of the West Indies
    Cave Hill, Barbados

    Elaine, é minha amiga querida de muitos anos.
    Trabalhamos juntas, em 1998 quando eu presidi a Fundação Cultural de Jacareí e ela foi a responsável por “salvar” documentos históricos de inestimável valor, que encontravam-se contaminados por umidade e BHC, esparramados em porões de nossa cidade.
    Elaine casou-se e hoje mora em Barbados, onde leciona Historia na Universidade. Esta resenha foi um presente de Páscoa que dela recebi e que me deixou assim…com a alma saindo em gotas pelos olhos! Obrigada, Elaine! Grande abraço com meu amor e a minha gratidão!
    (Ludmila)

      

      Meu próximo livro: Jacareí – Tempo e Memória

      Assinando o Contrato com a JTU na Fundação Cultural de Jacareí, com Eleni Garcia

      Assinando o Contrato com a JTU na Fundação Cultural de Jacareí, com Eleni Garcia

       Primeira reunião com a equipe de produção no Instituto Sapucaia: Eu, Daniele Joukahadar, diretora de arte da Elemento de Comunicação, responsável pelo projeto gráfico do livro, Malu Santiago e Paulo Carvalho, responsáveis pelo web design do blog

      Primeira reunião com a equipe de produção no Instituto Sapucaia: Eu, Daniele Joukahadar, diretora de arte da Elemento de Comunicação, responsável pelo projeto gráfico do livro, Malu Santiago e Paulo Carvalho, responsáveis pelo web design do blog

      A primeira reunião foi no espaço Sapucaia, de Bia Borrego, em pé, na foto.

      A primeira reunião foi no espaço Sapucaia, de Bia Borrego, em pé, na foto.

      Jacareí Tempo e Memória

      A História Oral é uma metodologia muito usada em pesquisas históricas e sociológicas. Ela começou a ser utilizada nos anos 50, após a invenção do gravador, nos Estados Unidos, na Europa e no México, e desde então difundiu-se bastante. Ganhou cada vez mais adeptos, ampliando-se o intercâmbio entre os que a praticavam: historiadores, antropólogos, cientistas políticos, sociólogos, pedagogos, teóricos da literatura e psicólogos, dentre outros. No Brasil, a metodologia foi introduzida na década de 1970, quando foi criado o Programa de História Oral do CPDOC – Centro de Pesquisa e Documentação de Historia Contemporânea do Brasil – Fundação Getúlio Vargas. A partir dos anos 1990, o movimento em torno da história oral cresceu muito. No mundo inteiro é intensa a publicação de livros, revistas especializadas e artigos sobre história oral. Há inúmeros programas e pesquisas que utilizam os relatos pessoais sobre o passado para o estudo dos mais variados temas.

      As entrevistas de história oral são tomadas como fontes para a compreensão do passado, ao lado de documentos escritos, imagens e outros tipos de registro. Caracterizam-se por serem produzidas a partir de um estímulo, pois o pesquisador procura o entrevistado e lhe faz perguntas. Além disso, fazem parte de todo um conjunto de documentos de tipo biográfico, ao lado de memórias e autobiografias, que permitem compreender como indivíduos experimentaram e interpretam acontecimentos, situações e modos de vida de um grupo ou da sociedade em geral. Isso torna o estudo da história mais concreto e próximo, facilitando a apreensão do
      passado pelas gerações futuras e a compreensão das experiências vividas por outros.

      Poucos autores produziram livros históricos e de memórias coletadas sobre as pessoas, na cidade de Jacareí e da região do Vale do Paraíba. Uma região rica por suas histórias políticas e sociais, por sua localização geográfica e pela riqueza natural, o Vale do Paraíba é cheio de significados e símbolos, causos e histórias. Marcas de gerações e processos de urbanização e aculturamento. Berço do caipira e dos barões de café que muito contribuíram para a identidade dessa comunidade pesquisada.

      Muitos desses personagens entrevistados já faleceram, assim, sou a única a ter posse deste rico material.
      O período que se abrange é do século XX (1.900), passando pela revolução Constitucionalista (1932) e finalizando com a II Guerra Mundial (1939/1945). Alem das historias orais, o livro contará com documentos e fotografias de acervo pessoal, cedidos pelos entrevistas e seus familiares e do Arquivo Publico Municipal. Serão realizadas transcrições de informações compiladas do Annuario Historico Literário de Jacarehy, organizado por Theophilo de Almeida e Costa Braga, em 1906 (Obra Esgotada) e também do livro Historia do Gimnásio Nogueira da Gama, editado em 1902 por Antunes da Costa, também esgotado. (Ludmila Saharovsky)

      Discutindo as primeiras propostas para a identidade do Blog agora também com Vanderci Chelucci, produtora do projeto

      Discutindo as primeiras propostas para a identidade do Blog agora também com Vanderci Chelucci, produtora do projeto

        

        Páscoa de antes

        naife de Carolina premiado na Bienal(pintura naife de Carolina Migoto, premiada em bienal)

        Um ritual de preparativos antecedia sempre a Páscoa, festa mais importante do que a de Natal, na casa de minha infância, entre os avós.
        “Morrer, Deus me ajude que seja depois da Páscoa”, comentavam eles, ano após ano. A mesma eterna ladainha…e as Santas Semanas sucediam-se sem mortes na família. Um dia porém, a avó se foi, e o avô também, antes da Páscoa, contrariando seus desejos e todo o planejamento, deixando-me como herança as antigas tradições e uma saudade incontida.
        Na quaresma não entrava carne em casa, nem leite, ovos ou manteiga. Era estranho passar-se um tempo ingerindo dieta vegetariana, mas os avós eram severos e intransigentes quando se tratava de leis divinas. Ou seguia-se ao pé da letra o hábito dos primeiros cristãos, ou o castigo viria: líquido e certo! O fato é que, assim, sobrevivemos, fortalecendo corpo e alma. A semana que precedia a esperada comemoração era-me especial em todos os aspectos. Primeiro, as missas noturnas e diárias, nas quais, emocionada, eu acompanhava em capítulos, a história dos últimos dias de Jesus, narrada com voz solene pelo avô, na leitura dos evangelhos: Domingo de Ramos, a ceia entre os apóstolos, a oração no Jardim das Oliveiras, a traição de Judas, o julgamento de Pôncio Pilatos, as negações de Pedro, os passos da Paixão, o desespêro de Verônica, a crucificação e a morte de Jesus e, passados três dias, o milagre de sua Ressureição. Em minha cabeça infantil as imagens formavam-se dramáticas, o coração apertava de angústia e eu me ajoelhava no templo, mal aguentando a dor de tamanha injustiça, as lágrimas pingando sobre o assoalho da velha igreja. “Pai, perdoai-lhes porque não sabem o que fazem!”
        Durante o dia, em casa, o alvoroço dos preparativos: as conservas de pepino azedo, tomates e cogumelos; a defumação do arenque, o doce de ricota com passas e favas de baunilha, o pernil, os panetones altos, encimados por casquetes rendados de glacê e confeitos. O ritual do tingimento de ovos era o mais aguardado por mim. Depois de cozido, o ovo era mergulhado em anilinas importadas (verdes, azuis, vermelhas, cor de violeta) e decorado com arabescos, flores, coelhos, igrejas de cúpulas douradas e o que mais a imaginação permitisse. Os mais bonitos eram separados para presentear os amigos. Os outros seriam consumidos pela família durante a ceia. Odores de diversas especiarias ensalivavam-me a boca antecipando o cardápio da mesa farta após a longa abstinência da quaresma. Quantas noites eu adormeci aspirando o cheiro bom de açafrão, extrato de laranja e de favas de baunilha, iguarias importadas que a avó adquiria com economias feitas durante meses. Eram cheiros da sua infância que ela trazia para a minha. O cochilo à tarde era ítem obrigatório para que eu enfrentasse, valentemente, o longo amanhecer do Domingo de Páscoa. Envolvia-me, então, um sono leve e inquieto, interrompido a cada minuto pelo ruído das últimas providências e pelo alvoroço que me invadia a alma: a expectativa da procissão do Senhor morto, iluminada por velas e archotes pelas ruas ao redor do templo, os cânticos fúnebres entoados pelo coral regido por meu pai, o reencontro com velhos amigos da família que me presenteavam com pequenos coelhos feitos de marzipan (da Sonksen) que eu mal via a hora de devorar!
        Parece que foi ontem: as lembranças da igreja repleta de flores e fiéis, a veste roxa do avô, que após a meia noite era trocada por uma branca e dourada, as luzes da igreja acendendo-se e iluminando rostos de homens, mulheres e crianças que, abraçando-se festejavam, novamente, o milagre da Ressureição. “Xristos Voskresse!” “Cristo Ressuscitou!” todos repetiam.
        Quantas vezes eu me quedei silente no interior do templo, observando a imagem daquele Jesus desamparado, inerte, tombado sobre si mesmo, que tantos pranteavam e, mesmo sabendo o final daquele drama, eu sofria. Jamais compreendi o motivo das religiões escolherem essa sua representação como símbolo do cristianismo, em vez Dele renascido em toda a sua glória. O calvário da dor nos impressiona mais do que o milagre do renascimento? Cresci e prossigo pensando igual. Hoje já não sofro tanto por esse Menino que me apresentaram: que nasceu perseguido, cresceu escondido, sofreu tantas ofensas e morreu na cruz. Cedo intuí que Jesus foi um brilhante inovador de idéias, pelas quais não relutou em dar a própria vida. O filho de Deus que nos disse: “Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei.”
        Pena que, tantos séculos passados, sua Via Crucis não nos tenha inspirado!
        (Ludmila Saharovsky – crônica publicada no Diário de Jacareí em março de 1997)

          

          Canção de Maria

          Sepulcro santo

          Em que encaixe desta cruz
          Insere-se meu drama?
          Em que jazigo, em que mortalha,
          em que sudário? Eu penso
          enquanto teço este linho
          Que cobrirá teu corpo solitário.
          Ah! O suplício de ver-te abatido
          por essa lança a atravessar também meu peito.
          Perdão, peço, meu Pai, não sei o que faço
          Quando Lhe imploro que mude teu calvário!
          Sei que tua fome e sede por justiça
          Levaram-te à Via Crucis que hoje segues
          Mas…esse vinagre untando o talho aberto
          E essa coroa de espinhos que te veste
          Refletem em mim a dor toda que sentes
          Por esses homens que seguem ignorantes…
          Sou uma dentre tantas mulheres da Judéia
          Que choram sobre os corpos
          De seus filhos mortos,
          pelas vidas que teceram e se consomem
          em lutas, traições e injustiças
          No solo seco dessa Palestina
          No solo seco desse mundo inteiro
          Que Páscoa alguma, nunca, ressuscita!

          (Ludmila Saharovky – Publicado no longínquo ano de 1980 no
          Diário de Jacareí)

            

            Pietá

            CAPELA SISTINA
            Ruinas aqui, a posse do tempo logo adiante, Roma é um velho caminho, uma convergência de outroras, ontens esquecidos, janelas para os séculos antigos. Nada é mais ontem do que uma via romana. Há em qualquer parte um cheiro de mala fechada, de prisão de sentidos.
            E o amor? O longo e belíssimo Ângelo a nos dar, quase milagrosamente, Moisés, David, e a Pietá.
            Roma é esse triângulo. Essas formas amorosas, sensualíssimas. A virgem e seu máximo filho. Os braços tombados de Gesú, o olhar fechado da mãe, a composição que é a expressão da cristandade, reduzida àqueles corpos nervosos, dispostos, humanos.
            A boca angulosa e fértil de Moisés. A mão de David, a direita, a seta da vida, a expectativa antes de matar. Pietá, Moisés e David, andam conosco pelos museus. Abandonam seus altares e saem a nos dizer coisas, a nos soprar nos ouvidos tímidos e cotonizados. Vejo Moisés logo aqui, no quarto, com os músculos em fúria, sempre.
            E David, com sua cabeça premiada, é uma passagem pela vida. Meu Deus, piedade, pietá, para todos, incapazes de sentir o tormentoso Miguel Angelo!
            Quando se chega à Capela Sistina, de novo ele a nos surpeende. É a força de prosseguir, o sentido de permanência, a luta pelo detalhe, a busca do menor para fortalecer o maior, a soma do mais e do menos. O que mais vejo nesta capela onde o mundo está mostrado?
            Volta-me Pietá, e lembro-me da mãe, das mães, das entregas, das forças ganhas e perdidas. Para Ângelo, o Cristo é um corpo verdadeiramente morto, sem trono. Só com a mãe a entendê-lo.
            (Capítulo ROMA, no livro “Jogos do Instante” de Virgilio Moretzsohn Moreira, Nova Fronteira 1970)

            Recebi esse texto, belíssimo, de meu amigo Fabiano Mauro Ribeiro, que partilho com vocês.
            Obrigada, Fabiano, grande abraço!
            Lud

            pieta
            ROMA

            Vaticano é uma das colinas de Roma onde se praticava o culto aos vates (videntes, adivinhos) Vate também pode designar profeta ou poeta. Nessas colinas havia um templo erguido para o deus etrusco Vaticanus, que provocava nos recém nascidos o primeiro grito, ou vagido.
            Calígula iniciou a construção de um circo concluído por Nero, onde pode ser que São Pedro tenha sido martirizado.
            Os primeiros cristãos construíram na colina do vaticano um oratório. A partir do sec IV, com a liberdade concedida por Constantino, o oratório foi substituído por sucessivas basílicas até que, no sec. XVI, com Julio II iniciou-se a construção da atual basílica de São Pedro, que teve seu primeiro projeto feito por Bramante.
            O papa Sisto V mandou construir a cúpula da basílica no ano de 1590, recebendo a Capela o nome de Sistina em sua homenagem.
            A belíssima imagem da Pietá, N.S. das Dores, foi esculpida por Miguel Ângelo, quando ele tinha 25 anos. Perguntado porque a Mãe de cristo era tão jovem, o artista respondeu:
            “A Mãe de Deus nunca envelhece…”

               

              Contos Mínimos: Refém

              foto internet

              Respeitei as doze formigas que, em fila indiana caminhavam perdidas pelas táboas do assoalho de meu quarto.
              Respeitei a procisão solene que, dia seguinte, atravessou a cozinha e perdeu-se no túnel escuro escavado sob a rozeira, na grama do jardim. Respeito hoje, o batalhão que me carrega, presa subjugada, e me enfia, sem cerimônias, na boca do formigueiro. Respeitarão as formigas minha condição de refém?
              (Ludmila)

                

                Dia da poesia

                “>

                Hoje, dia 14 de março, dia da poesia, deixo para vocês essa beleza de versos de Adélia Prado, que amo!

                e Cecília Meireles

                Amém
                Hoje acabou-se-me a palavra,
                e nenhuma lágrima vem.
                Ai, se a vida se me acabara
                também!

                A profusão do mundo, imensa,
                tem tudo, tudo – e nada tem.
                Onde repousar a cabeça?
                No além?

                Fala-se com os homens, com os santos,
                consigo, com Deus. . . E ninguém
                entende o que se está contando
                e a quem. . .

                Mas terra e sol, luas e estrelas
                giram de tal maneira bem
                que a alma desanima de queixas.
                Amém.

                e Drummond de Andrade

                Drummond

                  

                  As Faces de Cristo

                  Cristo e São Neméas

                  Num interessantíssimo documentário produzido para a BBC (Inglaterra) arqueólogos e especialistas em reconstituição física a partir de crânios e ossadas, com a ajuda de computação gráfica, tentaram chegar o mais próximo possível de como teria sido a face de Jesus de Nazaré.
                  O rosto que nos acostumamos a ver, estampado em livros santos, imagens, ícones, filmes, na verdade não corresponde em nada aos milhares de tipos de esqueletos pesquisados, dos homens que viveram em Jerusalém há dois mil anos atrás. E por quê?
                  Simplesmente porque o biotipo da época mostrou serem todos eles de tez muito morena, pouca barba, cabelo curtos e escuros, olhos negros e traços fortes, muito semelhantes à população árabe de hoje.
                  Para as crucificações, eram utilizados troncos de árvores mortas, sobre os quais eram colocados paus na transversal, e, os transgressores condenados, amarrados, antes de serem pregados. Isto porque os ossos das mãos não suportariam o peso do corpo sem se partirem. Pelo mesmo motivo os pés também eram apoiados em suportes toscos.
                  O documentário seguiu estritamente o caminho da pesquisa histórica. Sem questionar dogmas ou escrituras. Tentando não arranhar a fé, fosse ela qual fosse.
                  Foram ouvidos médicos, antropólogos, arqueólogos, cientistas sociais, teólogos, espiritualistas, na tentativa de reconstruir historicamente o contexto social e político de dois mil anos atrás, sobre o qual pairam tantas dúvidas e controvérsias. Para tentar compreender cientificamente por quanto tempo um corpo humano suportaria tamanha tortura e suplícios.
                  Um condenado à morte pela crucificação levava sempre alguns dias agonizando.Sob o sol causticante, sem água, as aves de rapina à volta. O teste da lança era a prova derradeira do final. Ao Nazareno, estenderam uma lança com um pano ensopado em vinagre, relataram, para aumentar a sede. Alguns estudiosos levantaram a hipótese de que nele, em verdade, haveria poderia um preparado anestésico. Dopado, o corpo penderia, pareceria morto, e os discípulos poderiam recolhe-lo para preparar o ritual fúnebre, minimizando o sofrimento… Quem sabe até, argumentaram, conseguiram preservá-lo com vida.
                  Existe uma corrente de estudiosos, que acredita que Jesus foi salvo da morte por seus seguidores e viveu longo tempo pregando sua doutrina. Haverá os que concordam e os que discordam absolutamente desta afirmação, como sendo uma heresia. Dogmas da fé não se discutem. Aceitam-se ou não. E eu apenas relato aqui um documentário interessante.
                  O fato é que a existência deste Ser ímpar inspirou o surgimento de uma nova moral religiosa que sobrepôs-se a todos os cultos precedentes, ou seja, instituiu uma doutrina que pregou a ascendência da alma sobre o corpo, e a lei da compreensão, do respeito ao próximo e do perdão.
                  É uma pena, que dois mil anos depois, os homens prossigam matando, subjugando, humilhando e torturando, sem dor nem piedade, seus semelhantes, seus irmãos. Mas, se todos somos filhos de um mesmo Pai, e se toda a agressão é um pedido desesperado de amor, cabe a nós repetirmos e interiorizarmos as palavras do Mestre de Nazaré que no inspira. Ele, que, no auge do sofrimento, olhando para seus algozes, conseguiu dizer:
                  “Pai, perdoai-lhes, pois não sabem o que fazem.”
                  Quantos de nós somos capazes de dize-lo, do fundo de nossa alma, sem julgar, sem pré-julgar, sem condenar?
                  Que a Páscoa não se resuma apenas à compra desenfreada de ovos de chocolate que já povoam, aos milhares, as prateleiras de todas as lojas e supermercados, e que consumiremos em nome de um renascer (que a data significa) muito, mas, muito distante de nós!
                  Creio ser esta uma bela reflexão para fazermos nesta quaresma que nos prepara para o reconhecimento do espírito que nos habita.
                  Ludmila Saharovsky
                  (publicado no site Regional News na Coluna Tertius Millenium, alguns anos atrás)

                  Leia mais: http://veja.abril.com.br/040401/p_064.html

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