Água pingando
Não move moínhos
mas serve para matar
A sede dos passarinhos.
(Li e guardei…porque achei tão verdadeiro…Partilho com vocês! Lud)
No meio da galeria o homem observa, maravilhado, o quadro da grande caçada: cães farejando a mata, excitados cavaleiros montando garbosos animais, raios de sol infiltrando-se pela densa floresta. Mas…e a presa? Onde a presa? Toca a corneta, e eis que a sala é tomada pelo som dos latidos. Tiros começam a espocar em sua direção. Quando ele se dá conta, já não há saída. No assoalho da sala, o sangue escorre…
(Ludmila)
O filhote de Labrador com o qual presenteamos os garotos, animal dócil e obediente, submeteu-se durante meses ao treinamento:
” Em pé”!
“Sentado!”
“Junto!”!
Cão inteligente, disseste orgulhoso.
Hoje, ruídos incomuns despertaram-nos ao amanhecer. Às vistas do cão, deitado tranquilamente sobre o tapete do quarto, as crianças disputavam, rosnando, a posse do travesseiro.
(Ludmila)
As Fadas
As fadas… eu creio nelas!
Umas são moças e belas,
Outras, velhas de pasmar…
Umas vivem nos rochedos,
Outras, pelos arvoredos,
Outras, à beira mar…
Algumas em fonte fria
Escondem-se, enquanto é dia,
Saem só ao escurecer…
Outras, debaixo de terra,
Nas grutas verdes da serra,
É que se vão esconder…
(…)
Umas têm mando nos ares;
Outras, na terra, nos mares;
E todas trazem nas mãos
Aquela vara famosa,
A vara maravilhosa,
A varinha de condão!
O que elas querem, num pronto
Fez-se ali! Parece um conto…
Mesmo de fadas… eu sei!
São condões, que dão à gente
Ou dinheiro reluzente
Ou jóias, que nem um rei!
(…)
Quantas vezes, já deitado,
Ma sem sono, ainda acordado,
Me ponho a considerar
Que condão eu pediria,
Se uma fada, um belo dia,
Me quisesse a mim fadar…
O que seria? Um tesouro?
Um reino? Um vestido de ouro?
Ou um leito de marfim?
Ou um palácio encantado,
Com seu lago prateado
E com pavões no jardim?
Antero de Quental,
Tesouro Poético da Infância,
Lello & irmão Editora
Desvio dos teus ombros o lençol,
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do sol,
quando depois do sol não vem mais nada…
Olho a roupa no chão: que tempestade!
Há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
onde uma tempestade sobreveio…
Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo…
Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!
David Mourão-Ferreira, in “Infinito Pessoal”