Houve um país em que o dirigente proibiu a cor.
De suas torres cinzentas proclamou o manifesto:
“Nada de flores, frutos, borboletas.”
“Nada de pássaros, cerca-vivas, jardins.”
Homens, só toleraria camuflados.
E assim foi, até que, certa manhã, no céu surgiu o arco-íris.
(Ludmila)

Era artesão desde que se lembrava e, desde que se lembrava, jamais recebera pedido tão inusitado.
Por mais que pensasse, por mais que pesquisasse, não conseguia chegar à uma conclusão: Que material utilizaria para confeccionar a coroa daquele rei, que vivia dentro da barriga de seu estranho cliente?
(Ludmila)

Gritei: Alô-ô!
E o eco respondeu: Alô…alô…alô…alô…
Eu: Você aíí-i
O eco: Aí…aí…aí…aí…aí…
Eu: Apareça!
Eco: eça…eça…eça…eça…
Pensei: Que eco mais sem assunto, e fui conversar com a Violeta!
(Ludmila)

Ele abriu a estranha garrafa que veio em sua rede, e o gênio, que há milênios a habitava, finalmente, libertou-se.
“Pode formular seu pedido, Senhor! Estou aqui para realizá-lo”, falou o prodigioso ser .
“Quero a imortalidade” pediu, feliz, o homem.
Imediatamente o gênio colocou-o na minúscula garrafa e, comprimindo bem a rolha, atirou-a ao mar.
(Ludmila)

Quando a mulher dizia que enxergava estrelas a cada beijo seu, o homem sorria e desconversava.
Hoje, depois do encontro, ele percebeu quando duas, cintilantes, desprenderam-se de seus cabelos, revoltos pelos exercícios do amor, e permaneceram flutuando pelo quarto. (Ludmila)

A bailarina rodopiou graciosa, pela centésima vez, Fur Elise, de Beethoven, sobre a laca negra do porta jóias. Quando a mão do jovem repetiu o gesto de dar corda, ela, suavemente, desmaiou.
(Ludmila)