Arquivo do autor: Lu Saharov
Em nome do Pai
De meu pai russo, além dos anticorpos que me afastam definitivamente de toda e qualquer bebida destilada (que ele consumia prazerosamente) herdei uma biblioteca dos clássicos russos, escritos no idioma original: Tolstoi, Lermontov, Dostoievski, Pushkin, Gogol, Boris Pasternak. Afastada da pequena colônia que ainda sobrevive em São Paulo, busco neles o exercitar da língua mãe, receosa de esquecer expressões e palavras. Tenho comigo que olvidando meu idioma natal, o sentimento de orfandade baterá muito mais forte, tornando-me estrangeira dentro de mim mesma, turista acidental perdida numa memória que, se não bem vigiada, irá esgarçar-se sem possibilidades de restauro. Os livros trazem-me de volta a uma dimensão de luz na qual as palavras materializam-se em vozes, em comentários tão familiares, em frases ouvidas dezenas de vezes, impregnadas de significados que preencheram minha infância: Nomes próprios, apelidos, evocações, provérbios, costumes, religiosidade. Só quem domina um idioma por origem, e dele é afastado, saberá do que estou falando. Mas, o pai relia incontáveis vezes Guerra e Paz, Anna Karenina, Irmãos Karamazov, e também as aventuras completas dos Três Mosqueteiros e O Homem da Máscara de Ferro de Alexandre Dumas, vertidas para o russo. Volta e meia eu o surpreendia mergulhado nessas obras que ele qualificava como sendo “de grande fôlego”, cujos personagens passaram a fazer parte integrante de seu cotidiano, habitando-o com a desenvoltura íntima de quem já faz parte da família. O interessante é que Wladi (jamais chamei o pai de pai, e sim pelo diminutivo de seu nome próprio, Wladimir) mergulhava nas histórias e emocionava-se com elas como se as estivesse lendo pela primeira vez . “Será que você avalia, perguntava-me ele, as características tão peculiares à alma russa, imersa desde a mais remota antiguidade, em batalhas físicas e morais…uma alma coletiva empolgada e arrebatada, moldada por uma religiosidade de entrega e temor a Deus, de súplicas de redenção e arrependimento pelas falhas humanas cometidas em momentos de covardia? Veja Tolstoi, por exemplo: um homem de educação refinada, um conde, um visionário, um profeta cuja fama atravessou fronteiras, o idealizador da política da não violência, lido e citado inclusive por Gandhi! Um escritor de cuja mente saíram romances inesquecíveis! Você sabia que ele viveu por cinqüenta anos atormentado por uma relação tempestuosa com sua mulher, entremeada por ameaças de suicídio e desaparecimentos, em meio aos quais geraram dezesseis filhos e morreu ancião, na estação de Astropovo, não longe de sua casa em Iasnaia Pollina, fugindo de sua Sofia Andreievna? Quem consegue explicar tamanha loucura?” Eu ouvia as histórias do pai atentamente. Era melhor que qualquer filme, qualquer novela. Sua admiração pelos escritores russos extrapolava os limites das obras criadas. Ele devorava também suas biografias, tentando acompanhar a lógica do pensamento de cada um, sua doutrina política, as angústias existenciais, como uma forma até, eu quero crer, de desculpar as suas próprias e inúmeras fraquezas. Quando o levei para o hospital, abatido pelo cansaço de viver, ele absolutamente aceitou qualquer trégua. Naquela manhã, ao lado da mesinha de apoio do sofá da sala estava aberto o romance Ressurreição. Nele, Tolstoi procurou criar um novo homem, com maior lucidez, tentando conduzir os povos a uma harmonia utópica, a uma ética que, infelizmente, só se concretizou nas ficções. Vladi partiu há quase quinze anos, quem sabe em busca da realização de todas essas utopias tão peculiares à alma russa, ou, quiçá, à todas as almas sensíveis de qualquer parte desse mundo, que hoje tanto me amedronta! Tomara que tenha conseguido! (Ludmila Saharovsky)
Matéria publicada no jornal O Vale
Viver&
August 7, 2012 – 02:00
Documentário revela o terror
Gravação do documentário da escritora Ludimila Saharovsky. Foto: Warley Leite
Obra de Ludmila Saharovsky norteia produção de cineasta russa
Renata Del Vecchio
Especial para O Vale
A história real contada pela escritora Ludmila Saharovsky no livro “Tempo Submerso”, em breve vai virar filme. Há quase um mês ela está na companhia de cineasta russa para contar em cenários brasileiros, a história de imigrantes que vieram para América do Sul durante ditadura de Stalin.
A escritora conheceu Irina Orlova, cineasta de Moscou que trabalha no Kino Studio Lin-TV, durante viagem que fez para Rússia, em 2003. Ludmila foi para o Arquipélago de Slovietskie Ostrova com a missão de levantar informações sobre seus antepassados que acompanharam cenário de horror da Revolução Bolchevique.
Nascida em campo de refugiados na Áustria, após fim da Segunda Guerra Mundial, Ludmila veio com a família para o Brasil na década de 50, onde ficou de quarentena na Ilha das Flores, Rio de Janeiro.
“O documentário retrata a Revolução Bolchevique pelo prisma do meu avô e fala também do Exército Branco, vencido pelos bolcheviques”, afirma Ludmila Saharovsky.
Trajetória. A cineasta Irina Orlova desembarcou no Brasil no dia 11 de julho. Ela e a escritora percorreram mais de 2.000 quilômetros, passando por Paraty, Petrópolis, São João Del Rey, Tiradentes, Ouro Preto, além de outras cidades do Vale do Paraíba, como São José, Jacareí, Aparecida e Guará, em busca de cenários que tenham relação com a história russa.
O cenário de Petrópolis, por exemplo, faz referência ao palácio de Czar Nicolau 2º, imperador da Rússia deposto em 1917. “Gravamos em campanários de igrejas, pois os russos tem fixação por sinos. Batalhas vencidas, morte, nascimento, tudo é anunciado ao som dos sinos”, disse Ludmila.
A escritora ressalta que a cineasta tem relacionado a arte sacra brasileira com a russa, além de estar impressionada com a arquitetura das cidades. “O povo é muito hospitaleiro e feliz. Todos vivem sorrindo. Me apaixonei pela arquitetura das cidades”, disse Irina.
A segunda etapa das filmagens acontece em outubro, no sul do país. Ludmila Saharovsky também deve retornar a Rússia para finalizar a produção. A ideia é que documentário participe de festivais no Brasil e seja exibido em parceria com TVs educativas.
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Revelando São Paulo
Revelando São Paulo Vale do Paraíba:
Ajudando a construir nossa identidade
Esta festa é feita com muitas cores, ritmos, gingados, cheiros, sabores e temperada com sorrisos, fé, alegria e família unida. Ela é esperada por todos, ansiosamente, por conta do luxo que se espalha na sua simplicidade. Ela é a maior festa da cultura popular da região.
Revelando São Paulo é muito mais do que revelar a nossa cultura popular. Essa festa proporciona a vivência de cada manifestação tradicional do povo, seja do caboclo, do piraquara, do tropeiro, do caiçara, do caipira, do quilombola, do índio…a tradição de raiz, que ajuda a construir a nossa identidade e molda a nossa vivência.
(trecho retirado do folder do XI Festival da Cultura Paulista Tradicional no Vale do Paraiba)
X FLIP Paraty
Conto mínimo: O cavalo de Tróia
Reorganizou por assuntos, os livros perfilados na estante da sala.
Todas as manhãs, porém, a casa amanhecia num completo cáos.
Custou a entender que gregos e troianos, mesmo os séculos passados, jamais conseguiriam conviver em paz, mas, teimosa, resolveu não interferir na arrumação estabelecida.
Agora, o cavalo enorme, construído no alpendre, aguarda passivo, o momento de entrar, novamente, em cena…
(Ludmila)
Conto mínimo: O dente de marfim
O dente de marfim daquele mamute ancestral, primorosamente esculpido com cenas de luta, recuperou sua memória há séculos adormecida e, num rompante de energia, estraçalhou, de um só golpe, o pesado vidro da vitrine onde jazia exposto. Os vigias noturnos foram as primeiras vítimas que os valentes guerreiros da dinastia Shang fizeram, montados em seus elefantes ricamente adornados para a histórica batalha.
(Ludmila)
Lua de Julho em Curitiba
Conto mínimo: com vista para o mar
Economizou a vida toda para comprar o apartamento de seus sonhos: décimo andar com vista para o mar! Mas, o imóvel que conseguira, era de fundos. Não desanimou. Comprou todos os apetrechos e…mão à obra! No dia da inauguração, os amigos, maravilhados, puderam observar a Baía da Guanabara, salpicada de luzes, surgir magestosa, na janela pintada no paredão da sala. (Ludmila)
Feira dos Escritores e Varal de Poemas
Neste sábado, 30 de junho, dentro da programação do Inverno Cultural da Fundação Cultural de Jacareí, foi realizada pela Academia de Jacareiense de Letras, mais uma Feira dos escritores da cidade com varal de Poemas. A manhã quente atraiu um grande público ao evento, que retirou dos varais mais de 700 poesias.Foi montado um estande com vendas dos livros dos escritores que aproveitaram para entrar em contato direto com os leitores. Deixo as fotos para vocês apreciarem o evento. (Ludmila)