O Museu das Missões inaugurado no ano de 1940 no Sitio Arqueológico de São Miguel Arcanjo no município de São Miguel das Missões, abriga a maior coleção de arte sacra missioneira do país. Projetado pelo arquiteto Lucio Costa, foi criado com a intenção de abrigar em um só local as esculturas sacras missioneiras e os fragmentos arquitetônicos das antigas reduções que se encontravam espalhados pela região. As estátuas majestosas, confeccionadas pelos índios guaranis em madeira policromada, nos remetem à escola Barroca, e nos surpreendem pela riqueza de detalhes, a leveza das formas, a técnica apurada. Um excelente artigo sobre a arte sacra missioneira, pode ser lido no seguinte endereço: http://pt.wikipedia.org/wiki/Escultura_dos_Sete_Povos_das_Miss%C3%B5es
A seguir, selecionei para vocês as imagens que mais me impressionaram dentre as inúmeras que fotografei. (Ludmila Saharovsky)
Arquivo do autor: Lu Saharov
Festival da Mantiqueira
Os sete povos das Missões
Desde que tive a oportunidade, há alguns anos atrás, de visitar uma exposição de fotografias, no Rio de Janeiro, cujo tema eram as ruínas dos Sete Povos das Missões, no Rio Grande do Sul, que a vontade de conhecer pessoalmente aquelas povoações históricas, tomou conta de mim.
Sete Povos das Missões é o nome que se deu ao conjunto de sete aldeamentos indígenas fundados pelos Jesuítas espanhóis no Continente do Rio Grande de São Pedro, atual Rio Grande do Sul, composto pelas reduções de São Francisco de Borja, São Nicolau, São Miguel Arcanjo, São Lourenço Mártir, São João Batista, São Luiz Gonzaga e Santo Ângelo Custódio.
Ocupavam naqueles tempos, as terras que hoje compõem o cone Sul, os índios da nação Guarani, bravos guerreiros, que, sob o duro comando dos padres jesuítas edificaram dezenas de reduções – as missões –
As reduções não eram aldeias, mas verdadeiras cidades que se instalavam nas selvas, com toda a infra-estrutura. Além da igreja, que era o centro de tudo, havia hospital, asilo, escolas, casa e comida para todos e em abundância, oficinas e até pequenas indústrias. Fabricavam-se todos os instrumentos musicais, tão bem quanto na Europa. Imprimiam-se livros em plena selva, alguns até em alemão. Possuíam observatório astronômico e até editavam uma carta astronômica e um boletim meteorológico. Os índios, catequizados, esculpiam magníficos santos, em madeira, trabalhavam o entalhe em pedras, produziam belos afrescos. Foi nessas reduções que se começou a industrializar o ferro, a produzir os primeiros tecidos, e a se criar gado no continente.
Infelizmente, porém, por motivos torpes, os jesuítas passaram a ser perseguidos na Espanha e em Portugal, e, com a participação do Marques de Pombal, acabaram por serem expulsos das Missões, transformando-se em ruínas suas prósperas cidades. Em 1750, foi assinado o Tratado de Madri, permutando a Colonia do Sacramento, que ficaria com o Espanhois, pelos Sete Povos das Missões, que seriam dos portugueses. Habitavam as Missões, à época, mais de 30 mil guaranis incorporados à cultura dos jesuítas, vivendo em comunidades prósperas e pacíficas.
Os guaranis odiavam os portugueses, que para eles representavam o inimigo. Os portugueses obrigaram-nos a abandonar seus lares, vendendo-os como escravos, tomando seu gado e plantações. Revoltados, declararam guerra aos novos conquistadores, que, como todos os conquistadores, os dizimaram sem dó nem piedade, transformando os antigos assentamentos em ruínas banhadas de sangue.
Hoje, as ruínas de São Miguel das Missões são consideradas pela UNESCO como Patrimônio da Humanidade, e nos remetem ao terrível passado, impregnado pela dor e destruição.
Uma noite feliz!
Pessoas queridas!
Publico para vocês as fotos de meu lançamento em São José dos Campos, no dia 17 de maio, na sede da Editora Netebooks.
Foi uma noite, realmente, inesquecível, cheia de amigos, flores e carinho.
Agora, estarei lançando o Tempo Submerso dia 26, sábado, às 16:30 na Feira da Mantiqueira, em São Francisco Xavier, com mediação de debates de Dirce Araújo, que promete ser mais um dia muito especial. As fotos são de meu amigo Gilberto de Freitas (Ludmila)
Tempo Submerso em SJCampos
Pessoas queridas!
Amanhã estarei em São José dos Campos, para o coquetel de lançamento do Tempo Submerso em São José dos Campos, na sede de minha Netebooks Editora, à Av. Barão do Rio Branco, 284.
Hoje, recebi de presente uma seção de fotos com o fotógrafo Lucas Lacaz Ruiz, nesta casa linda onde estarei aguardando por seu abraço. Até lá, fiquem com mais um capítulo de meu Tempo Submerso. (Ludmila)
O mito de Sísifo
“Mitos são feitos para a imaginação soprar vida neles”
(Albert Camus)
Na literatura grega, Sísifo, foi condenado pelos deuses a realizar um trabalho inútil e sem esperança por toda a eternidade: empurrar sem descanso uma enorme pedra até o alto de uma montanha de onde ela rolava encosta abaixo para que este herói mitológico descesse até o sopé e a empurrasse novamente até o alto, indefinidamente, numa repetição monótona e interminável do mesmo trabalho através dos tempos. Por algum motivo, os deuses imaginaram quem não haveria castigo pior para puni-lo que o trabalho inútil e sem esperança.
Tomar consciência do caráter insensato dessa punição, da inutilidade de tanto sofrimento e cumpri-la é descobrir o absurdo da condição humana. Por que somos condenados? Por quem? Em razão de que crime?
Como viver depois de ter consciência de que se está condenado a empurrar uma pedra montanha acima sabendo que ela tornará a cair?
Em Solovky, tal e qual no anátema de Sísifo, que os guardas aplicaram instintivamente, também os prisioneiros eram obrigados a transportar de um lado para outro, imensos blocos de pedras, e depois, devolve-los ao mesmo lugar. Eram forçados ainda a carregar pesados troncos de madeira, ou, em outra versão para o mesmo castigo, levar e trazer, incessantemente, tambores de água. Era um trabalho insano, sem qualquer justificativa ou utilidade prática. Aqueles que fraquejavam ou tentavam argumentar contra, eram sumariamente fuzilados.
No inverno, aleatoriamente, costumava-se deixar os presos amarrados nus às pedras geladas e abandonados sob a chuva e as nevascas, para o deleite dos guardas que neles atiravam apenas para ferir e observar, de longe, o seu sofrimento.
No verão, eram atados aos troncos de árvores e expostos à nuvens de pernilongos que se banqueteavam em seus corpos, sem emitir um único gemido. Outra forma de sadismo disciplinar, muito difundida e relatada pelos que lograram escapar desse inferno, era colocar o “infrator” no centro de enormes formigueiros que se formam nas florestas e ficar observando sua lenta agonia.
Esses requintes de sadismo constituíam-se na ante-câmara do inferno, onde os condenados purgavam seus pecados. Pecados de terem nascido no lugar e no momento histórico errados. Pecados de não compartilharem da ideologia de seus algozes.
(Ludmila Saharovsky)
Tempo Submerso no MAV
Amigos queridos!
Ainda estou sob a emoção do sucesso do primeiro lançamento de meu livro Tempo Submerso que aconteceu no MAV – Museu de Antropologia do Vale do Paraíba, em Jacareí.
Os salões ficaram repletos de amigos queridos que vieram me abraçar.
Agradeço a todos pelo carinho, pela atenção, pela alegria da presença.
Dia 17 de maio lanço na sede de minha editora, Netebooks, em São José dos Campos.
As fotos de Adilson Machado, Valtinho Pereira e Livingstone Maynardes registram os melhores momentos. (Ludmila)
Tempo Submerso, lançamento
Pessoas queridas!
Ando meio ausente da Net por conta de organizar-me para recebê-los, neste sábado,
em noite de encantamento da amizade, em nosso Museu de Antropologia do Vale, em Jacareí,
para celebrarmos a escrita, a memória, a história.
Até lá, os abraço com carinho e os deixo na companhia de mais um recorte de meu Tempo Submerso…
“Dedushka (avô), de que tamanho é a sua saudade?” Perguntei-lhe um dia, lá atrás no tempo.
“Do tamanho desse punhado de terra” ele me respondeu, abrindo um pequenino pote e segurando alguns seixos e areia em suas mãos.
Movida, então, por essa necessidade interna, eu cravo minhas unhas naquele solo e recolho algumas folhas secas, pequenas pedras, areia fina e as guardo num lenço de papel.
Levanto-me, mas ainda me falta coragem. Começo a caminhar lentamente, tentando aguçar outros sentidos, e, de olhos fechados, revivo momentos de terror.
Momentos em que aquele portão se abria para tantos condenados. Momentos em que, fitando os olhos dos atiradores, sabia-se que a morte era inevitável.
Momentos de agonia, dentro da cova profunda, o ar faltando nos pulmões, o baque da terra sobre os ossos…e depois…Meu Deus! Haveria um depois? Quem sabe o depois seria fazer parte intrínseca dessa floresta, do perfume das sempre vivas, do alarido dos pássaros.
Um toque leve em meus ombros me arranca daquele devaneio. Olhos de um azul límpido me fitam e sorriem.
“Você é a nossa visitante do Brasil?” “Eu a estava observando lá do jardim.”
Vamos entrar. Seja bem vinda a este solo sagrado. Eu sou o padre Kiril.”
(Ludmila Saharovsky)
Tempo Submerso: Lançamento!
Tempo Submerso
Tempo Submerso
Pessoas queridas!
Lanço meu livro Tempo Submerso, a princípio, no Vale do Paraíba, agora nos dias 12 de maio em Jacareí, e em 17 de maio em São José dos Campos. Publico para vocês, a capa e o convite. Ficarei muito feliz em recebê-los e abraçá-los! (Ludmila)
Parte I
Solovietskie Ostrova
Estou absorta na pequena embarcação balançando sobre as ondas do Mar Branco.
O vento intermitente e úmido me fustiga. É verão, mas a temperatura de oito graus me obriga a enterrar a cabeça no gorro de lã grossa e a proteger o rosto com o capuz do sobretudo enquanto observo o ocaso naquela madrugada clara, sob o Círculo Polar Ártico. Uma luz difusa ilumina a noite e a transforma num cenário raro. Mal o sol se põe e já se levanta. Assim, dia e noite não se delimitam, ao contrário, alternam-se, sem o contraste de luz e trevas a que estou acostumada. Este espetáculo me fascina: Noites Brancas.
Percebo que alguém me observa. Viro e vejo, envolta pela neblina, uma mulher que aparenta ter a minha idade. Ela também está só naquele tombadilho. “Vem com os romeiros?”, pergunta. “Não. Não sou peregrina. Venho à procura de meus mortos”, respondo. Ela balança a cabeça num sinal de que entende a razão de eu estar ali. “Mas você não parece russa!”. Sorrio. “E você, vem a passeio?” “Também não. Trago a minha mãe. Ela busca a sepultura de seu pai. Parece que ele foi executado na ilha.” Fitamo-nos, depois, o mar. Assim ficamos em silêncio por algum tempo até ela apontar para uma luz que lentamente se materializava no horizonte: Solovki.
Meu corpo estremece e a emoção me paralisa em meio à neblina que tão pouco revela. O pequeno espaço é tomado pelos viajantes. Todos querem ter a primeira visão reveladora do arquipélago. Mais um pouco e as cúpulas arredondadas e brancas do Monastério Ortodoxo despontam delineando aquele espaço santo, onde sob o domínio dos Bolcheviques, em 1920, instalou-se o primeiro e o mais temido Gulag soviético. Comoção. Algumas mulheres, com lenços coloridos na cabeça, fazem o sinal da cruz. Outras apertam as mãos sobre o peito. Os homens fumam. Pigarreiam. Tiram fotos. O barco balança muito em meio às ondas vigorosas. Há passageiros que passam mal. O capitão abre caminho e joga as grossas cordas para os marujos que já o aguardam no cais. O alvoroço se instala. Cada um se prepara para deixar a embarcação. Atracamos. Olho o relógio. São três horas da manhã. No mastro, o ícone de São Nicolau sobressai em cores fortes. (Ludmila Saharovsky)