Hoje quero celebrar a leveza dos ipês e suas flores bailarinas. Elas dançam para o sol desta manhã, que caminha entre linhas, agulhas, conversas e bordados. Quero bordar a alma em festa, o sorriso que não se apaga, a sombra que nos alcança, a aragem repleta do tagarelar dos pombos e das angolas que ciscam linhas caídas como se fossem grãos em meio à grama do jardim. E a lenta alegria que se apossa de nossos dedos matizando panos e confidências. Quero bordar as flores e as abelhas, o ruido da mata que nos cerca, o azul que se espelha em nossos olhos e nos torna também, partes de um bordado no cenário desde Parque onde, menina ainda, senti pela primeira vez um medo visceral de que a tuberculose levasse para sempre o meu avô. Hoje, ele me espia entre os ciprestes, me acaricia na brisa que sopra leve nessa manhã e me inspira a fazer da arte o meu ofício, e também a senha para me equilibrar neste mundo, matizando sonhos e esperanças. (Ludmila no Parque Vicentina Aranha, antigo sanatório para tratamento de tuberculosos em São José dos Campos)
Reminiscências
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