No princípio a azia o incomodava um pouco.
Com o passar dos meses, no entanto, o fogo lhe queimava as entranhas sem que nada aliviasse.
Por fim resolveu assumir seu destino: Abriu a boca e a chama, expelida, libertou-se com magnificência.
Agora, só lhe faltava treinar o voo.
(Ludmila)
Arquivos da Categoria: contos mínimos
Conto Mínimo: Reciclagem
Conto mínimo: Posta restante
Conto mínimo: Tanto mar!
Conto mínimo: Tuaregues
Conto Mínimo: Destino de passarinho
Ela nasceu sem as linhas marcando o destino nas palmas das mãos.
Nasceu para ser passarinho, pressentiu a mãe.
Cresceu trocando as penas a cada estação, mas nunca conseguiu voar.
Hoje, seu gorjeio feliz sobressai, dentre todos os outros, nos galhos mais altos
da velha mangueira.
(Ludmila Saharovsky)
Conto Mínimo: Nessa data tão querida
Contos Mínimos: Refém
Respeitei as doze formigas que, em fila indiana caminhavam perdidas pelas táboas do assoalho de meu quarto.
Respeitei a procisão solene que, dia seguinte, atravessou a cozinha e perdeu-se no túnel escuro escavado sob a rozeira, na grama do jardim. Respeito hoje, o batalhão que me carrega, presa subjugada, e me enfia, sem cerimônias, na boca do formigueiro. Respeitarão as formigas minha condição de refém?
(Ludmila)
Conto mínimo: Caixa de Pandora
Todos os objetos daquela casa tinham uma historia, que ela ouvia, muda. Os ícones narravam os inúmeros casamentos, batizados e enterros celebrados na família. O samovar descrevia os invernos rigorosos regados a chá e novidades; as cartas, tantas, diziam das saudades geradas pelas separações inesperadas; as fotos expunham sua genealogia; os tapetes, rotos, as inúmeras viagens pelos continentes, embalando sonhos. Mas, um tímido frasco, descoberto na gavetinha secreta do móvel entalhado em madeira antiga, guardava sua historia hermeticamente fechado. Levou dias para destampá-lo, sem danificar a delicada rolha. E quando o abriu…o perfume liberado fê-la verter tantas lágrimas que, rapidamente, cerrou o frasco, sem forças para reviver aquele enredo.
(Ludmila)
Contos Mínimos: Caixa de Pandora
Todos os objetos daquela casa tinham uma historia, que ela não se cansava de ouvir, extasiada. Os ícones, de Pskov, narravam os inúmeros casamentos, batizados e enterros celebrados na família. O samovar, feito em Tulla, descrevia os invernos rigorosos regados a chá e novidades; as cartas, tantas, diziam das saudades geradas pelas separações inesperadas; as fotos expunham sua genealogia; os tapetes, rotos, as inúmeras viagens pelos continentes, embalando sonhos. Mas, um tímido frasco, descoberto na gavetinha secreta do móvel entalhado em madeira antiga, guardava sua historia hermeticamente fechado. Levou dias para destampá-lo, sem danificar a delicada rolha. E quando o abriu…a dor represada fê-la verter tantas lágrimas que, rapidamente cerrou o frasco, sem forças para vivenciar aquele enredo.
(Ludmila)