Contos Mínimos: Trapezista

Quando a família adormecia, ela colocava seu maiô de paetês e precipitava-se no ar, transformada em trapezista. Exercitava vôos exóticos, sobre o balanço das crianças, instalado entre os galhos da secular mangueira. A cada treino alcançava maiores distâncias, até que, numa noite, a corda desprendeu-se e a lançou, de uma vez por todas, no mundo da fantasia.
(Ludmila)

     

    Contos Mínimos: O mágico

    Após demorada espera na longa fila da agência de empregos, finalmente chegara a sua vez. Encaminhou-se para a diminuta escrivaninha e forneceu os dados de costume: nome, idade, CIC, RG, endereço, profissão. Preenchidos os formulários, ouviu da indiferente funcionária que, tão logo precisassem de um mágico, entrariam em contato.
    “Peça ao próximo que entre!” escutou a voz, atrás de si, enquanto, desanimado, atravessava a parede e a fileira de bancos da sala de estar.
    (Ludmila)

      

      Contos Mínimos: Anunciação

      Diariamente observava a mulher, de sua solitária ilha, o nascer do sol. E o dia caminhava sem sobressaltos.
      Mas à noite…Ah! À noite, quando o Cruzeiro do Sul pontuava com sua geometria luminosa o céu tinto de negro, ela abria suas longas asas e voava para a outra margem. Ia velar o sono do homem, que, sem testemunhas oculares, acordava plenamente convencido daquela anunciação.
      Ludmila em Contos Mínimos

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