De luz e sombras

É maio, novamente, e a lua cheia inunda meu jardim de claridade. Esta lua prenhe no céu deixa-me de alma inquieta. É como se uma vertigem a tomasse. Vertigem….
Vertigem…repito para mim mesma! E o som desta palavra reverbera em minha boca e me atira num infindável labirinto interno. A casa dorme. Dormem a rua e a cidade. Só eu, insone, giro em torno da lua, de mim mesma, no vazio. Vazio… Existirá o vazio? Um vazio absoluto… imóvel, pleno de si mesmo…Que idéia assustadora! Mas, a noite acalenta-me e me instiga com seus mistérios…Tantos! Ah! Como seria bom se um simples uivo resolvesse as questões complexas da existência! Um longo uivo, de loba ancestral admirando e homenageando a lua. Fatigada das rotinas do dia, olho para este céu, mar de sombras pontuado de estrelas e nele busco refúgio: Imagino a elíptica na qual se inserem os planetas e no espaço habitado desde sempre por deuses e deusas de todas as religiões, de tantas mitologias, com seus fabulosos séquitos de seres zodiacais, anjos, demônios. Aprumo a vista. Quero enxergar além. Além das Moiras que vão tecendo meu destino. Além de Castor e Pólux. Além do Minotauro, de Urânia, de Hércules e Hidra. Além do paraíso das escrituras. Além!
Tantas constelações e eu, tão pequenina! Tanto movimento, e eu tão quieta mergulhada nesse silêncio denso, quase palpável! Penso na sincronicidade que temos com os astros, e que já nem se discute mais. Ela é uma certeza que profetas e poetas possuíam antes que a ciência, incrédula, descobrisse o Tao da Física. Mas, o que eu busco no céu, na verdade, é a mais bela das constelações. Aquela de que mais gosto, independente de encontrar-se sempre oposta à de Escorpião, à qual pertenço. Aquela que traz Órion ao lado de seus cães e das Três Marias, ou se preferirem, dos Três Reis Magos. Busco e não a encontro. Deve estar visível nos céus de outro hemisfério, onde agora é primavera. Como explicar-lhes, que esta noite eu queria tanto, ser apenas uma estrela menor do cinturão deste Divino Caçador? Ser um sinal de luz, sem interesse próprio, sem medo nem vaidades, na imensidão deste oceano de estrelas, onde reina, grandioso e inatingível, o vento.
(Ludmila Saharovsky)
Crônica Publicada no Jornal O Valeparaibano

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