Folia de Reis


“O palhaço, às vezes Marombo, às vezes Bastião, às vezes Marumbo ou Marungo, às vezes Véio e às vezes Fardado, são seres encantados que carregam na matula um modo de inventar e construir diariamente suas vidas, através das folias, e a cada jornada, traçam um mistério na sua própria história. O mistério da significação do palhaço, figura que transita entre o bem e o mal, sagrado e profano, céu e inferno, está presente nas Folias de Reis, uma tradição deixada de geração para geração. O fato é que atrás desta Máscara existe um grande mistério” (Roberval Rodolfo)

“E quando o Rei Herodes soube do nascimento da Criança que seria o Rei dos Reis, com medo de perder o trono enviou seus soldados para matar o menino Jesus.
Mas os soldados, quando viram o menino e a luz que o arrodeava, eles se converteram e o adoraram também, e, em vez de matar a criança, elaboraram um plano para distrair o Rei Herodes, enquanto a Família Santa fugia.
O Rei Herodes então, mandou matar todas as crianças com menos de dois anos.
Os soldados convertidos cobriram todo o corpo com vestes, o rosto com máscaras e, com cantos e estripulias retardaram as tropas do Rei Herodes, permitindo que o menino Deus fosse levado ao Egito em segurança.
Vestidos de palhaços, os soldados foram conversar com o Rei Herodes, convencendo ele de que não precisava temer nenhuma profecia, pois ele era o mais poderoso.
Aí…conversa vai, conversa vem, uma bebidinha aqui, uma comidinha ali, e Herodes achou que tinham se passado três horas, mas, na verdade, tinham passado três dias, tão encantado e entretido ficou com os palhaços, que cantaram e declamaram, para proteger Nosso Senhor Menino.” (baseado em trechos do livro Marombo: A dança de Devoção de Roberval Rodolfo)

Essa é a interpretação popular dada à história bíblica, que é encenada por todo o Brasil no Dia de Santo Reis, pelas Folias de Reis, que percorrem as casas narrando essa versão própria, entre cânticos, danças e palhaçadas.

“Os palhaços são pessoas da comunidade marcadas para essa missão, escolhidas para proteger a Folia e a Bandeira da Companhia, como outrora protegeram o Senhor Menino.
O palhaço ou marungo, como também é conhecido, não é um palhaço qualquer. Palhaço é no circo. O marungo tem patente militar na campanha belicosa entre o bem e o mal.” “Ele deve possuir os mesmos conhecimentos cósmicos que possui o Mestre da companhia, pois o marungo vai na frente da bandeira, encabeça a proteção a ela. No encontro com outra companhia, na estrada, é ele quem primeiro recebe os ataques/versos do oponente. Se não souber responder, perde-se a bandeira.”
(do livro: “Marombo: A Dança da Devoção” de Roberval Rodolfo)

Na cultura tradicional brasileira, os festejos de Natal eram comemorados por grupos que visitavam as casas tocando músicas alegres em louvor aos “Santos Reis” e ao nascimento de Cristo. Essas manifestações festivas estendiam-se até a data consagrada aos Reis Magos, dia 6 de janeiro.
A tradição da Folia de Reis, nasceu na Europa, na Idade Média e ganhou força especialmente no sec. XIX, mantendo-se viva em muitas regiões do país, sobretudo nas pequenas cidades dos estados de São Paulo, Minas Geraes, Bahia, Espírito Santo, Paraná, Rio de Janeiro e Goiás, dentre outras.
Apesar de Folia de Reis assumir muitas formas e nomes – Reisado, Terno de Reis, Tiração de Reis , no centro dessa tradição há uma profunda religiosidade, expressa na música, pantomimas, roupas coloridas, visitas a lares onde há um presépio montado e outros elementos que homenageiam o nascimento de Jesus e revivem a viagem e visita dos Três Reis Magos.
Os integrantes do grupo da folia de reis são: mestre, contramestre (donos de conhecimentos sobre a festa), músicos e tocadores, além dos três reis magos e do palhaço, que dá o ar de animação à festa, fazendo a proteção do menino Jesus contra os soldados de Herodes, que queriam matá-lo.
A Folia de Reis permite o improviso, recriando assim, de forma constante, o ritual da Fuga da Familia Santa para o Egito. Cada folia tem a sua própria tradição, de acordo com a região onde é encenada.. Os ensinamentos são passados de geração em geração mantendo assim essa rica tradição popular viva até os dias de hoje. (Ludmila Saharovsky)

    

    Iemanjá na Bahia

    Essas fotos lindas são de minha amiga Jussara Gehrke, que mora em Salvador, na Bahia e teve o privilégio de acompanhar os festejos de Iemanjá, da praia que frequenta.
    Mais fotos e matérias em seu blog; http://juju-ano4.blogspot.com

    A FESTA DE YEMANJÁ (excerto)
    Antonietta de Aguiar Nunes (*)

    “Dia 2 de fevereiro – dia de festa no mar”, segundo a música do compositor baiano Dorival Caymi. É o dia em que todos vão deixar os seus presentes nos balaios organizados pelos pescadores do bairro do Rio Vermelho junto com muitas mães de santo de terreiros de Salvador, ao lado da Casa do Peso, dentro da qual há um peji de Yemanjá e uma pequena fonte. Na frente da casa, uma escultura de sereia representando a Mãe d´Água baiana, Yemanjá. Desde cedo formam-se filas para entregar presentes, flores, dinheiro e cartinhas com pedidos, para serem levados à tarde nos balaios que serão jogados em alto mar.
    É única grande festa religiosa baiana que não tem origem no catolicismo e sim no candomblé. (Dia 2 de fevereiro é dia de N.Sra. das Candeias, na liturgia católica, e esta Nossa Senhora é mais freqüentemente paralelizada com Oxum, a vaidosa deusa das águas doces).
    Dois de fevereiro é – oficiosamente – feriado na Bahia. É considerada a mais importante das festas dedicadas a Yemanjá, embora Silva Campos narre que antigamente a mais pomposa festa a ela dedicada era a efetuada no terceiro domingo de dezembro, em Itapagipe, em frente ao arrasado forte de São Bartolomeu (SILVA CAMPOS, 1930;415). Odorico TAVARES (1961;56) narra que, nos outros tempos, os senhores deixaram seus escravos uma folga de quinze dias para festejarem a sua rainha em frente ao antigo forte de São Bartolomeu em Itapagipe. QUERINO (1955;126/7) confirma ser na 3a dominga de dezembro a festa comemorada em frente ao antigo forte de S.Bartolomeu, hoje demolido, “à qual compareciam para mais de 2.000 africanos”. Tio Ataré era o pai de santo residente na rua do Bispo, em Itapagipe, que comandava os festejos. Reuniam os presentes em uma grande talha ou pote de barro que depois era atirada ao mar. A festa durava quinze dias, durante os quais não faltavam batuques e comidas típicas baianas, com azeite de dendê. Hoje a festa do Rio Vermelho dura só o dia 2, prolongando-se pelo fim de semana seguinte, quando próximo.
    Às 4 da tarde é que saem os barcos que levam os balaios cheios de oferendas a serem lançados em alto mar. Quando as embarcações voltam para a terra os acompanhantes não olham para trás, que faz mal. Diz a lenda, que os presentes que Yemanjá aceita ficam com ela no fundo do mar, e os que ela não aceita são devolvidos à praia pela maré, à noite e no dia seguinte, para delícia dos meninos, que vão catar nas praias os presentes não recebidos por ela.
    AMADO (1956;136) conta que se Iemanjá aceitar a oferta dos filhos marinheiros é que o ano será bom para as pescarias, o mar será bonançoso e os ventos ajudarão aos saveiros; se ela o recusar,… ah! as tempestades se soltarão, os ventos romperão as velas dos barcos, o mar será inimigo dos homens e os cadáveres dos afogados boiarão em busca da terra de Aiocá.

    (*)Historiógrafa do Arquivo Público do Estado e Professora Assistente de História da Educação na FACED/UFBa
    http://www.faced.ufba.br/~dept02/calendario/yemanja.html

      

      Festa do Divino Espírito Santo


      Foto Festa do Divino em Guararema site:http://ednaperfeitamenteimperfeita.blogspot.com/2011/06/festa-do-divino.html


      Panela de “Afogado” em São Luis do Paraitinga, foto de Kuzmoto, do site overmundo.com.br Mais fotos no site: vivaparaitinga.com.br

      Festa do Divino em Paraty, RJ.

      Os devotos do Divino
      vão abrir sua morada
      Pra bandeira do menino
      ser bem-vinda,
      ser louvada, ai, ai.

      (Letra de Ivan Lins para A bandeira do Divino)

      A Festa do Divino é realizada sete semanas depois do Domingo de Páscoa, no dia de Pentecostes, para comemorar a descida do Espírito Santo sobre os doze apóstolos de Cristo. Criada no início do século XIV, em Portugal, pela rainha D. Izabel, a Festa do Divino Espírito Santo foi introduzida no Brasil pelos colonizadores no século XIV e desde então é celebrada em diversos municípios, permanecendo como uma das mais fortes representações folclóricas do país, até hoje.
      Durante a festa inaugura-se o Império do Divino, onde se arma o assento do Imperador, geralmente representado por uma criança que goza de poderes de rei. Antigamente, esse rei tinha até o direito de ordenar a libertação de presos comuns, em localidades do Brasil e de Portugal.
      Para arrecadar dinheiro para o evento, acontece a Folia do Divino, quando grupos de cantadores visitam famílias de devotos, levando com eles a Bandeira do Divino, onde está desenhada uma pomba simbolizando o Espírito Santo.
      O folclorista Câmara Cascudo escreveu que” o título de imperador do Brasil foi escolhido em 1822, pelo ministro José Bonifácio, porque o povo estava mais habituado com o título de imperador (do Divino) do que com o nome de rei.” Por aí pode-se perceber a força dessa manifestação popular.
      Em nossa região do Vale do Paraíba, os festejos do Divino Espírito Santo completam em São Luís do Paraitinga, 208 anos e se encerram domingo, dia 12.
      O Império do Divino foi montado num casarão antigo onde os moradores da cidade pedem proteção.As janelas das casas foram enfeitadas com os símbolos do Divino Espírito Santo. Nas ruas, o som do moçambique, das congadas e das folias mistura-se ao cheiro irresistível do “afogado” que pode ser saboreado à vontade!
      Nos dez dias de festa, São Luiz do Paraitinga recebe mais de 20 grupos folclóricos da área rural e de cidades vizinhas.
      Outra grande festa acontece em Guararema, terminando também no dia 12. Nela se misturam atividades profanas e sagradas. Há missas com bênção de crianças, idosos, mães, água e objetos na Matriz de N.S.da Escada, e a programação folclórica reúne moradores e turistas em torno de bandeiras e símbolos, percorrendo as ruas da cidade.Durante vários dias os festeiros iniciam a comemoração às 06:00 horas com a alvorada e, no dia da Festa é realizado o desfile de carros de bois, charretes e cavalos. Em seguida é servido também o tradicional “Afogado” na casa da família do Sr.José Maria dos Santos. (Rancho do Zé Maria)
      Há muitos anos eu não perdia uma Festa do Divino, nem em São Luis, nem em Guararema. Este ano, infelizmente estou longe, mas meu coração está envolvido pela graça do Espírito, como desejo que estejam os corações de todos que me lêem. (Ludmila Saharovsky)

      PS. Para meus alunos de Folclore, é uma excelente oportunidade de vivenciar essa magnífica manifestação popular. Tirem fotos e me enviem para publicar aqui neste nosso espaço. Combinado? Grande abraço!

        

        Cerâmica Marajoara



        A Cerâmica Marajoara é executada pelos índios da Ilha de Marajó. A fase mais estudada e conhecida se refere ao período de 400/1400 dC.
        Marajó é a maior ilha fluvial do mundo, cercada pelos rios Amazonas e Tocantins, e pelo Oceano Atlântico. Localiza-se no estado do Pará-PA, região norte do Brasil.
        O maior acervo de peças de Cerâmica Marajoara encontra-se no Museu Emilio Goeldi em Belém-PA. Há também peças no Museu Nacional no Rio de Janeiro, (Quinta da Boa Vista), no Museu Arqueológico da USP em São Paulo-SP, e no Museu Universitário Prof Oswaldo Rodrigues Cabral ,na cidade de Florianópolis-SC e em museus do exterior – American Museum of Natural History-New York e Museu Barbier-Mueller em Genebra.(fonte Internet)

           

          Todo dia, era dia de índio…



          (fotos Internet)
          O dia do índio foi criado em 19 de abril de 1943 pelo presidente Getúlio Vargas: uma forma de conscientizar a população sobre a importância da contribuição dessa etnia para a cultura brasileira.
          Na época do descobrimento do Brasil, aqui viviam 5 milhões de indígenas distribuídos em cerca de 1.000 povos.
          Hoje restam em torno de 400 mil, pertencentes a 227 povos, que, graças à intervenção do branco, estão longe de sua antiga glória, pujança, liberdade e beleza, e no entanto…todo dia deveria ser dia de índio, dono dessa imensa terra Brasilis.
          Alguns têrmos retirados do dicionário tupi-guarani
          açaí: fruta que chora
          aracy: a mãe do dia
          arapuã: abelha redonda
          arara: ave grande
          avaré: amigo
          canoa; embarcação a remo
          capim: mato fino
          carioca: casa de branco
          cuica: rato de rabo muito comprido
          curumin: menino
          Guará: ave das águas
          guaratinguetá: reunião de pássaros brancos
          guarini: guerreiro
          ibitinga: terra branca
          iguaçú: lago grande
          iracema: lábios de mel
          ita: pedra
          itajubá: pedra amarela
          juçara: palmeira longa que dá palmito
          nhenhenhém: tagarelice, falação
          paraíba: rio ruim, que não presta para navegar
          poti: camarão
          Rudá: deus do amor
          Tijuca: lama, charco, liquido podre

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