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Vejam a beleza que decobri na Internet!
Quando estive em Moscou, fiz questão de visitar a casa/estúdio de Victor Vasnetsov, o famoso pintor que ilustrou os mais lindos livros de contos de fadas russos, e que viveu de 1848 a 1926. Os personagens dos quadros, imensos, em seu estúdio de pé direito altíssimo, povoaram por muitos anos a minha infância, passada entre Baba Yagás, Princesas rãs, O tapete voador, Alionushka, o Principe Ivan e o Lobo Cinza e tantas outras, que me tornaram uma menina muito rica, e que hoje se mudaram para a mente de meus netos e das crianças com quem convivo, contando histórias.
Não imagino o mundo sem os contos de fada e sem a magia que permeia suas páginas. Não imagino a vida sem os livros, sem os escritores, sem os poetas. Uma pessoa que não se vacinou com o vírus do encantamento que a literatura contem, não conheceu dragões, fadas, duendes, corvos, unicórnios, tempestades e nem abismos. Nunca desvendou cavernas e nem ilhas repletas de tesouros. Não sabe das árvores falantes e nem das fadas e dos elfos. Como se pode viver assim? (Ludmila)
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Conto de fadas russo:O peixinho dourado
Dedico esta historia para minhas netas que ainda gostam de contos de fada: Anninha, Alecsia e Lórien, e para todos os que voltam facilmente a este mundo maravilhoso da infância. (Ludmila)
Há muito, muito tempo atrás, numa aldeia distante, vivia um casal de velhos, em extrema pobreza. Sua casa era uma isbá (casa de madeira russa) caindo aos pedaços.
O velho ganhava a vida pescando e sua mulher tecia.
Um dia, o velho saiu para pescar e qual não foi sua surpresa, quando puxou a rede e, preso nela, encontrou um lindo peixinho dourado.
“Por favor, meu bom homem, jogue-me de volta ao mar” ele pediu, falando com sua vozinha de peixe. O velho ficou muito assustado. Em toda a sua longa vida, jamais ouvira um peixe falar, mas, enfim, sempre havia uma primeira vez para tudo!
“Se você me soltar, pode pedir o que quiser, e eu satisfarei o seu desejo, pois sou o rei deste Oceano!”
O pescador, então, delicadamente, soltou as linhas da rede que prendiam as barbatanas do peixinho e, devolvendo-o ao mar, falou:
“Vai embora com Deus, Vossa Majestade Marinha! Eu realmente não preciso de nada de você”!
“Pois, se você se lembrar de algo que queira, é só voltar a este mesmo lugar e chamar pelo meu nome: Peixinho Dourado, e eu voltarei.” “Obrigado, meu bom homem! Obrigado!” E o pequeno peixe desapareceu, feliz, entre as ondas!
Voltando pra casa, o pescador, maravilhado, foi logo contando o que aconteceu com ele pra sua mulher.
“Mas eu não acredito! Estou pra ver um velho mais tolo do que você neste mundo!”
“Então você me apanha um peixe dourado que é simplesmente o rei do Oceano, devolve ele são e salvo pra água e não pede nada em troca?”
“Pedir o que, mulher? Nós já estamos tão velhos, passamos a nossa vida inteira aqui neste lugar onde não nos falta nem teto e nem comida…Pedir o quê para o pobre peixinho?”
“Pobre? Pobre peixinho? O rei desse mundão de água? Pois volte já onde o pescou e diga a ele que precisa de uma moringa nova, pois a nossa quebrou! “A nossa quebrou, ouviu bem? disse irritada a mulher.
O velho, para não contrariá-la, voltou para a beira do mar. O dia já estava entardecendo, e algumas nuvens se formavam no céu azul. “Peixinho! Peixinho Dourado! Vossa Majestade Marinha!” Gritou o pescador. Passados alguns minutos, lá veio o Peixe, desta vez com uma linda coroa de ouro sobre a sua cabecinha. “Olá, meu amigo! Lembrou-se de algo que queira me pedir?”
“Eu não, disse o velho, envergonhado, mas a minha mulher, quando soube que você queria me dar um presente, disse que precisa de uma moringa nova!”
“Pois eu já atendi ao seu pedido. Volte para casa que sua moringa está lá!”
“Adeus, peixinho!” “Adeus pescador!”
Quando o homem voltou para casa, sua mulher já o estava esperando com o presente nas mãos. “Mas você é mesmo um bobão”, disse-lhe ela. Salvou o rei dos mares e só lhe pede uma moringa? Olhe para nossa isbá! Ela a qualquer momento cai na nossa cabeça…Chame o peixe e lhe diga que quer uma casa nova!”
E lá se foi o nosso velho, chamar novamente pelo Peixe Dourado. A noite estava caindo, e as ondas batiam com força sobre as pedras.
“Olá, meu bom velho! O que você quer, agora?”
“Desculpe, meu amigo, mas a minha mulher me deu a maior bronca por ter pedido apenas a moringa, enquanto a nossa casa está quase caindo…”
“Pois volte que a sua nova casa já está lá!”
“Obrigado, Peixinho Dourado! Muito obrigado!”
Quando retornou pra casa, ele mal acreditou no que seus olhos viam: lá estava um belo chalé, com a chaminé fumegando, a cerca pintada de branquinho, o seu cão fazendo a maior festa!
“Satisfeita, mulher?”
“Estou satisfeita não! Olhe para este chalé!” “Agora olhe para mim!” Como vou morar nessa casa tão bonita, toda esfarrapada do jeito que estou?” Agora eu não quero mais ser pobre! Volte ao seu peixe e lhe diga que eu quero ser nobre!”
E lá se foi o velho, chamar o peixe novamente. O caminho ia ficando escuro, pois a lua mal aparecia por entre as nuvens.
“E agora, o que sua mulher resolveu que vai querer?” perguntou o peixe.
“Ah! meu caro peixinho dourado! Minha mulher resolveu agora que quer ser nobre!”
“Pois que assim seja!” “Volte para casa tranquilo, que seu desejo é uma ordem pra mim!”
E o que aconteceu quando ele voltou para casa? Ah, o chalé tinha desaparecido e em seu lugar estava no terreno uma bela mansão. Sua mulher vestia um rico vestido de seda, todo bordado de pedrarias. Seus cabelos estavam arrumados numa longa trança e sobre a cabeça ela trazia um rico toucado. Colares de ouro adornavam seu colo e anéis de pedras preciosas enfeitavam seus dedos. Empregados andavam pela casa, ajeitando os mínimos detalhes. O pescador, vendo-a toda arrumada, quase não a reconheceu!
“Saudações, mulher! Espero que esteja, finalmente, satisfeita!”
Ela, olhando-o com desprezo, apenas ordenou que, daquele dia em diante, ele fosse viver no estábulo.
Passaram-se algumas semanas sem que, a agora importante dama, fosse importuná-lo. A vida do velho pescador continuava na mesma rotina. Acordava, cuidava do cão, pegava sua rede e ia pescar. Certa tarde, retornando para o estábulo onde agora morava, encontrou uma serva da mulher que viera trazer-lhe o recado de que a Senhora queria vê-lo.
“Quero que você vá lá chamar o peixe!” Disse-lhe a velha.
“Estive pensando e descobri que existe o Rei que é mais importante do que eu, a quem todos temos que obedecer.” “Pois eu não vou obedecer a mais ninguém, entendeu?” “Então eu quero que você vá lá e ordene ao peixe que me torne a rainha de toda a terra!”
“Você ficou louca, mulher? Eu não vou pedir mais nada ao Peixe Dourado!”
“Você ousa me desobedecer?” Berrou a mulher, esbofeteando, furiosamente seu velho marido.
“Vá lá e não me volte sem o meu pedido atendido!” “E não vou falar isso outra vez!”
Sem ter o que fazer, o pobre homem dirigiu-se ao ponto de encontro com o Peixinho dourado e, mais uma vez chamou por ele. E mais uma vez o peixe apareceu. A água estava agitada, as ondas altas se quebravam com violência sobre a praia, e o céu estava escuro.
“Majestade, minha velha enlouqueceu”! “Ela agora quer ser a Rainha de toda a terra!”
“Não se preocupe, meu amigo!” “Volte lá que seu pedido já foi atendido” disse o peixe.
Quando o pescador voltou, encontrou, no lugar da mansão um grande palácio, e sua mulher estava sentada no trono cercada por vários nobres que a bajulavam. Uma fileira de guardas armados protegiam o caminho, então ele nem pode chegar perto.
“Saudações, Majestade!” gritou de longe! “Satisfeita agora?”
A nova Rainha da Terra sequer olhou para o seu lado. Levantou apenas um dedo apontando em sua direção, e já vieram dois guardas que o colocaram para fora do castelo.
Passados alguns dias, a Rainha chamou novamente o velho à sua presença e ordenou-lhe que fosse ao peixe, para dizer-lhe que agora, ela queria tornar-se a Imperatriz de toda a Terra e também do Mar, e que o peixe em pessoa viesse servi-la.
“O pescador ficou tão apavorado, que nem protestou e, lentamente, pôs-se à caminho da praia.
Uma terrível tempestade se formara, com raios, trovões e ondas gigantescas que se quebravam sobre as pedras.
O velho gritou pelo peixe. Gritou e gritou o mais alto que conseguiu, até que a pequenina cabeça dourada apareceu em meio às ondas.
O pescador, cabisbaixo, triste, envergonhado, explicou ao peixinho o que sua mulher queria agora. Desta vez o peixe nada lhe respondeu. Simplesmente virou-se e nadou para bem longe daquela praia.
Depois de esperar muito tempo, em vão, que o peixinho voltasse, o velho tomou o caminho de volta para casa, onde, uma surpresa o aguardava. No lugar do suntuoso palácio, encontrou a velha isbá caindo aos pedaços. Sua mulher, vestindo os mesmos trapos, tecia ao lado da moringa quebrada, caída no chão.
Tradicional conto de fadas russo, recontado de memória por Ludmila Saharovsky)
As ilustrações deste conto são do artista russo Ivan Bilibin e também de Guenadi Konstantinovich Spirin, ilustrador russo contemporâneo, que reside atualmente nos Estados Unidos.
Spirin nasceu na Russia em 1948, cursou a Academia das Artes de Moscou e a Universidade Strogonov, Hoje, ele é considerado como um dos melhores ilustradores de contos de fada da atualidade. Tem seus trabalhos em diversos Museus e em vários sites da Internet, entre os quais
Baba Yagá e Lhubatchka
Num país muito distante daqui, atrás de vales e montanhas, vivia um rico mercador, cuja mulher morreu, deixando-lhe a pequenina Lhubatchka, sua única filha.
Passado algum tempo, ele casou-se novamente, na certeza de que sua esposa seria uma segunda mãe para sua amada filhinha.
A madrasta mostrava-se gentil e amorosa com Lhubatchka quando o pai estava por perto, mas, quando ele partia…Não havia maus tratos que ela não fizesse com a pobre garotinha.
Finalmente, decidiu livrar-se da menina de uma vez por todas! Aproveitando-se de uma viagem do marido, ela chamou a enteada e lhe disse:
“Quero que você vá à clareira da floresta, na casa de minha irmã e lhe peça que me empreste linha e agulha, pois eu quero fazer-lhe uma camisa. Vá, vá! Depressa, menina! Depressa!”
Lhubatcka achou aquele pedido muito estranho, mas, como não tinha saída, obedeceu. Antes, porém, resolveu passar pela casa de sua tia, irmã de sua falecida mãe, para que a aconselhasse.
“Bom dia, titia!”
“Bom dia minha sobrinha querida! Mas que surpresa tão boa! Sua madrasta sabe que você veio me visitar?”
“Não senhora! Minha madrasta mandou-me ir à casa da irmã dela, na floresta, para buscar agulha e linha, pois ela quer me fazer uma nova camisa”!
“Ela mandou você ir à floresta? Mas a única pessoa que mora nessa floresta é a terrível Baba Yagá! E ela adora comer criancinhas! Há muito que eu conheço suas histórias, e vou ensiná-la a escapar dela.”
Dizendo isso, a tia deu-lhe um lencinho de seda colorido, um rolo de fita de cetim vermelha, uma garrafinha de azeite, um filão de pão preto fresquinho e um belo pedaço de presunto.
“Agora, escute-me com atenção: no jardim de Baba Yagá tem um espinheiro que irá emaranhar-se para não deixá-la voltar, então, você amarra seus ramos com esta fita.”
“O portão da casa da bruxa abre-se para você passar, e depois se fecha. Passe o azeite em suas dobradiças e elas irão se abrir com facilidade.”
Baba Yagá cria muitos cães famintos. Atira-lhes alguns nacos de pão para distraí-los. E, por último, ela tem um gato enorme treinado para arrancar os olhos das crianças que tentam fugir. Dê-lhe este pedaço de presunto.”
“Agora vá! Não tenha medo!”
E assim Lhubatchka seguiu o seu caminho. Andou e andou pela floresta, e quando já quase não se agüentava de tão cansada, viu finalmente a isbá da bruxa, no meio da clareira. A fantástica choupana dançava sobre duas pernas de galinha gigantes, pra lá e pra cá. Pra lá e pra cá! A cerca que a protegia era feita de ossos humanos, e em cima de cada osso brilhavam olhos vermelhos de caveiras. Ao perceber que a menina se aproximava, o casebre parou de dançar e a sebe e o portão se abriram permitindo-lhe que entrasse.
Lá dentro, uma velha arcada trabalhava num tear. Seu nariz quase tocava o queixo, do qual saltava uma verruga imensa! Seus longos cabelos brancos estavam presos num coque descabelado e, em sua boca enorme apareciam vários dentes de metal que rebrilhavam conforme ela falava com voz rouca e esganiçada. Realmente a bruxa era muito mais feia e mais terrível do que Lhubatchka poderia imaginar!
“Ora, ora…se não é a filha do mercador, minha querida sobrinha…O que a traz à minha modesta cabana?”
“Boa tarde,titia! Minha madrasta pediu-me que viesse aqui buscar agulha e linha para ela fazer-me uma nova camisa.”
“Muito bem, muito bem, respondeu a velha. Enquanto eu vou buscar o que me pediu, sente-se aqui na minha roca e continue a fiar…”
Assim que a menina sentou-se para fiar, a bruxa saiu para o quintal, chamou sua criada e lhe deu a seguinte ordem:
“Rápido, sua inútil, coloque lenha no fogão para aquecer a água, então, lave bem essa minha sobrinha que eu vou comê-la hoje no jantar! Agora vou dar uma voltinha no meu pilão e quando eu voltar quero encontrar tudo preparado!”
A menina ouviu a conversa de Baba Yagá e ficou apavorada! Tão logo a bruxa saiu, cavalgando em seu pilão, ela aproximou-se da criada e lhe falou:
“Ouça, boa moça, se você não esquentar a água para meu banho, eu lhe darei esse lindo lencinho de seda.” E dizendo isso, entregou-lhe o presente.
Baba Yagá logo voltou de seu passeio pela floresta, e, impaciente foi gritando pela janela:
“Você ainda está fiando, minha sobrinha?”
“Sim, titia, estou trabalhando, como você mandou!”
Enquanto a bruxa guardava seu pilão, Lhubatchka jogou o pedaço de presunto ao gato e perguntou-lhe como poderia escapar daquela casa. E o gato respondeu:
“Sobre a mesa da velha bruxa há uma toalha e um pente. Eles são mágicos”. Apanhe-os e saia correndo. Corra o mais rápido que puder, porque Baba Yagá irá atrás de você! De quando em quando, abaixe-se e coloque seu ouvido sobre a terra. Quando ouvir que Baba Yagá está próxima, atire ao chão a toalha. Ela se transformará num rio muito fundo e caudaloso. Até a bruxa atravessá-lo a nado, você já terá ganho uma boa dianteira!”
Quando se agachar novamente com o ouvido colado ao solo e ouvir que a terra está tremendo, é porque a bruxa está lhe alcançado de novo. Então, pegue o pente e o atire ao chão. Ele se transformará num bosque tão fechado que Baba Yagá não terá como passar.
Lhubatchka apanhou a toalha e o pente e saiu da isbá em desabada correria.
Os cães quiseram despedaçá-la, mas ela lhes atirou os nacos de pão e eles a deixaram passar. As portas do quintal se fecharam num golpe, mas a menina untou as dobradiças com o azeite e elas se abriram de par em par. Mais adiante, os galhos do espinheiro lhe fecharam o caminho, mas ela amarrou-os com a fita de cetim e pode passar.
Enquanto isso, o gato sentou-se na cadeira da roca e começou a fiar, mas a única coisa que conseguiu foi embaraçar e arrebentar todos os fios.
Baba Yagá, chegando perto da janela perguntou.
“Você ainda está fiando, minha querida menina?”
“Sim, estou, titia!” respondeu com a voz rouca o gato.”
A bruxa entrou na cabana e vendo que a garotinha não estava ali, e que era o gato que estava no seu lugar, ficou furiosa!
“Ah, gato imprestável Porque deixou minha sobrinha escapar? Sua obrigação era arrancar-lhe os olhos, caso ela tentasse fugir!”
“Estou a vida inteira a seu serviço, e nesse tempo todo a senhora jamais me deu um pedacinho sequer de queijo embolorado, já a sua sobrinha trouxe-me um belo pedaço de presunto!” o gato respondeu. “Então eu deixei-a ir!”
Baba Yagá foi, aos berros, tirar satisfação com os cães, com o portão, com o espinheiro, com a criada e todos não se furtaram de lhe responder à altura!
“Nós lhe servimos a vida toda, e a senhora jamais nos deu uma casquinha, que fosse, de pão velho, enquanto sua sobrinha nos regalou com um pão fresquinho e delicioso!” disseram os cães.”E nós não a atacamos!”
“Eu abro e fecho a sua passagem desde que mora nesta floresta, e a senhora jamais passou um pouquinho de sebo em minhas dobradiças, já sua sobrinha fez o favor de untá-las com azeite!” esclareceu o portão. “E eu me abri para ela passar!”
O espinheiro respondeu: “A senhora jamais podou meus galhos. A menina prendeu-os com fitas de cetim!” E nós não a arranhamos!
“Eu estou aqui desde que nasci, e a senhora jamais me deu um trapo que fosse, mas a sua sobrinha presenteou-me com um lenço de seda colorido!” disse a criada. Por isso eu não a preparei para sua refeição!”
Baba Yagá morrendo de ódio e amaldiçoando a todos, atrelou o seu pilão e saiu em desabada correria atrás de Lhubatchka.
A menina colocou o ouvido sobre a terra, como o gato lhe ensinou, e, ao ouvir a bruxa se aproximando, jogou a toalha que, imediatamente transformou-se num caudaloso rio.
Baba Yagá chegou à sua margem, e vendo o obstáculo que havia, em vão tentou obrigar o pilão a atravessá-lo à nado.
“Eu só ando sobre a terra”, respondeu o pilão, recusando-se a entrar na água.
Baba Yagá, trincando os dentes de raiva, não teve outro remédio senão voltar à sua cabana, reunir os seus bois e levá-los à beira do rio. Assim que os bois beberam toda a água do rio, a bruxa pode continuar sua perseguição à garotinha.
Lhubuchka colocou outra vez seu ouvido sobre a terra e percebeu que a bruxa estava novamente muito próxima. Atirou então o pente ao solo. Imediatamente uma intransponível floresta surgiu de seus dentes mágicos.
Baba Yagá pôs-se a roer os troncos das árvores com seus dentes de metal mas, apesar de toda sua fúria e seu esforço, não deu conta de abrir um caminho, assim, derrotada,voltou à sua cabana de pés de galinha, que dançava na clareira.
Enquanto isso, o comerciante voltou para casa, depois de sua longa viagem e foi logo perguntando à esposa:
“Onde está Lhubatchka, a minha filhinha querida?”
“Ela foi passear em casa de sua tia!” respondeu a mulher.
Passados alguns minutos, para espanto da madrasta, a garotinha entrou correndo e logo se atirou nos braços do pai.
“Onde você estava?” perguntou-lhe o mercador.
“Ah, papai! Minha madrasta mandou-me à casa de sua irmã para buscar linha e agulha para fazer-me uma camisa. Acontece que sua irmã era a malvada Baba Yegá, que por pouco não me comeu!”
“Mas como você conseguiu escapar da bruxa, minha pequena?”
Lhubuchka, então, contou para seu pai tudo o que havia sucedido, nos mínimos detalhes, assim como eu lhes contei nessa história.
O mercador, inteirando-se das maldades da madrasta, expulsou-a de casa, e viveu próspero e feliz com sua filhinha, por muitos e muitos anos!
(Conto de fadas russo, em tradução livre de Ludmila Saharovsky)
Dedico esta tradução às minhas meninas queridas e suas crias lindas: Márcia e Alecsia; Luciana, Nicolas e Anninha; Clarisse, Lórien e Maria Claudia; Rosali e Miguel e também à Luca, que aniversariou dia 10 de outubro. Beijão a vocês! Vovó Lud
A princesa rã (final)
Pela manhã, enquanto tomava o desjejum preparado pela bruxa, Ivan Tsarevich contou-lhe a sua triste história. BabaYagá foi toda ouvidos, e, ao final, disse:
“Você está com muita sorte, Ivan Tsarevich!”
“Kashey , O Imortal é meu velho inimigo!” “Temos uma rixa que já dura há séculos, e eu vou ensinar-lhe como ele poderá ser derrotado.” “Eu usarei você para levar avante a minha vingança, e você conseguirá a sua Vassilissa como prêmio!” “ Estamos combinados?”
Ivan Tsarevich aceitou, de imediato, a proposta da bruxa.
Ah! Baba Yagá era muito esperta! Não foi à toa que ela recebeu Ivan Tsarevich em sua isbá dançante, com tanta consideração: banho quente, cama de penas, mesa farta… Nem parecia a bruxa terrível que conhecemos!
“Ouça bem o que vou revelar-lhe!” segredou ela com sua voz de taquara rachada:
“A morte de Kashey está na ponta de uma agulha.”
“A agulha está dentro de um ovo.”
“O ovo está dentro de uma garça.”
“A garça está no coelho.”
“O coelho está num antigo baú.”
“O baú está pendurado no galho mais alto de um velho carvalho.”
“O carvalho está no cume de uma montanha.”
“A montanha é tão íngreme, que não se pode escalar.”
“E o próprio Kashey a vigia dia e noite, com seu espelho encantado!”
“Ah! E tem mais um detalhe: “na base do carvalho mora uma serpente de três cabeças, que precisa ser derrotada!”
“Ah, Baba Yagá! Agora entendo porque Kashey é Imortal. È impossível chegar a esse carvalho!”
“Aí é que você se engana, meu caro jovem!” Só eu sei como chegar a ele!”
Baba Yagá foi até o fundo da floresta e voltou com um garboso cavalo branco, que tinha um par de asas maravilhosas. “Aqui está meu Cavalo Alado.” “Ele o levará até o topo da montanha.” “Depois disso, é com você!”
Ivan Tsarevich agradeceu à bruxa, montou no Cavalo Alado, que voou com o príncipe em direção à Montanha de Kashey Besmertniy!
O velho feiticeiro acompanhava todo o movimento através da imagem cristalina de seu espelho mágico. Ele ficou furioso quando percebeu que Ivan Tsarevich aproximava-se de sua montanha pelo ar! “Ah! Aquela Velha Bruxa Insuportável! Ela que aguardasse!”
“Ri melhor quem ri por último!” vociferou!
Ensandecido, Kashey correu aos aposentos de Vassilissa e, tocando nela com seu condão, transformou-a imediatamente numa estátua de ouro. “ Por via das dúvidas”…pensou!
Correu então à Sala do Espelho para apreciar sua serpente dar cabo de Ivan Tsarevich.
O príncipe lutava bravamente contra o Monstro. O cavalinho alado voava de um lado para outro, numa velocidade que deixava as cabeças da serpente meio tontas! Enfurecida, ela soltava chamas imensas pela boca, mas, o cavalo, mais ágil e veloz, conseguia escapar e partir para nova investida, de um lado completamente inesperado! Assim, o príncipe conseguiu decepar, uma a uma as cabeças do monstro, até que enfiou sua espada bem no meio de seu coração e o matou!
Uma nuvem negra cobriu a Sala do Espelho, e Koshey soltou um urro de dor ensurdecedor!
Ivan Tsarevich, agora, empenhava-se em derrubar o carvalho, mas, sua força era insuficiente. Nisso, apareceu a mamãe ursa, que ele havia poupado de matar, lá no meio da história, que lhe disse:
“Estou aqui para ajudá-lo, caro príncipe, conforme prometi!” O animal, enorme, jogou o peso de seu corpanzil contra o tronco do carvalho, que não resistiu e se quebrou. Nesse instante, o baú que estava dependurado sobre seu galho mais alto, soltou-se das correntes que o continham e espatifou-se no chão. Dele saiu o coelho correndo mais que as pernas, então apareceu a loba, que Ivan deixara viver e caçou o coelho. Nesse momento, o coelho transformou-se numa garça e saiu voando para o céu. Então, surgiu a águia que matou a garça e o ovo, dentro dela, foi caindo…caindo…e caiu dentro do lago, afundando em seguida!
_”Ai, ai ai…”lamentou-se-se Ivan Tsarevich, desolado!
“Mas que triste a minha sina!” “Depois de conseguir chegar ao topo da montanha, derrotar a serpente, derrubar o carvalho, quebrar o baú, matar o coelho, caçar a garça e liberar o ovo, agora eu fui perdê-lo na água!”
Nisso, quem é que surge, das profundezas do lago, trazendo o precioso ovo dentro da boca? O peixe, cujo filhote Ivan Tsarevich libertou da rede!
“Aqui está seu ovo, meu príncipe!” “Eu não disse que lhe seria útil se me ajudasse?” “Promessa é dívida!”
Enquanto tudo isso se passava, Koshey Besmertniy, reunido ao seu séqüito de aves de rapina, preparava-se para voar até onde estava Ivan Tsarevich para matá-lo e recuperar seu precioso ovo, que lhe garantia a imortalidade. Ele mesmo transformou-se num enorme urubu rei, com coroa de ouro e tudo, e partiu voando com seus pares, em direção à beira da lagoa, onde Ivan Tsarevich não conseguia quebrar o ovo, por mais que se esforçasse: Jogou-o ao chão, pisou nele com toda a força de suas botas, tentou partí-lo com sua espada, esmagá-lo com uma pedra…Nada! O ovo era inquebrável!
Foi quando veio em seu auxílio, o filhotinho de águia, que também havia prometido ajudá-lo, vocês se lembram?
“Ivan Tsarevich…Você está fazendo tudo errado!” “ Não é assim que se abre um ovo”
“Eu tenho experiência no assunto, afinal, tive que abrir o meu para nascer!” “Deixa-me quebrá-lo para você!”
E, com uma bicada precisa no lugar certo, o ovo partiu-se, revelando em seu interior, uma fina agulha de ouro!
Foi o tempo exato! Mal Ivan Tsarevich conseguiu amarrar a agulha na ponta de sua seta, e já uma nuvem negra aproximava-se de nosso herói, a uma velocidade enorme! Quando seus olhos acostumaram-se à escuridão, Ivan pode perceber que era um bando gigantesco de urubus que voava em sua direção, comandado pelo mais repelente deles, que voava à frente, com uma coroa de ouro na cabeça!
Ivan Tsarevich não teve dúvidas! Mirou e atirou sua seta com a agulha de ouro na ponta, que foi certeira, cravar-se bem no coração do urubu rei.
Quando caiu no chão, não era mais a ave de rapina que agonizava, mas o próprio Kashei Besmertniy que se desvanecia numa fumaça negra, enquanto todos seus urubus caíam mortos, forrando as águas do lago com seus corpos inertes!
Ivan Tsarevich, finalmente tinha acabado com Koshey!
Com sua morte, ruíram os portões de seu castelo, e todas a plantas, animais e pessoas enfeitiçadas, transformadas pelo feiticeiro em estátuas de ouro, começaram a voltar à sua forma original. Assim também Vassilissa, foi aos poucos saindo de sua inércia de estátua e adquirindo as formas da linda princesa que ela era.
Em pouco tempo, Ivan Tsarevich atravessou os escombros do palácio e colocando a sua Vassilissa montada no Cavalo Alado, voaram juntos para o reino de seu pai, onde viveram felizes por muitos e muitos anos, enchendo os jardins do palácio com lindos filhos para o deleite do Tzar.
E assim termina essa história, que entrou por uma porta, saiu pela outra e quem quiser que conte outra. (Ludmila Saharovsky)
(Esse conto de fadas russo foi recontado por mim, de memória. Peço a todos que quiserem apropriar-se da história, que, por gentileza, mantenham meus créditos. E também os créditos das belíssimas ilustrações, que são dos pintores russos, Ivan Bilibin e Victor Vasnetsov, feitas no início do século passado. Um grande abraço, obrigada a todos vocês pela leitura, pelos comentários e até a próxima fantasia… Beijos! Ludmila)
A Princesa Rã (segunda parte)
Enquanto Vassilissa dançava….
Ivan Tsarevich correu para sua casa, para entender o que havia acontecido. Onde estaria sua rã? Chegando, procurou por toda parte, sem encontrá-la: no jardim, ao lado da lagoa que construiu especialmente para ela, na fonte, nos canteiros de roseiras, no gramado… Nada! Ao entrar no quarto, compreendeu! Aos pés da cama, estendida sobre o tapete, estava apenas a pele de rã. Ah! Então aquela linda moça era, de fato, sua esposa! Rapidamente ele pegou aquela pele e a atirou na lareira acesa, para que queimasse e nunca, nunca mais sua mulher pudesse voltar a ser aquela estranha rã com a qual casara.
Voltando para casa, Vassilissa correu para vestir novamente sua pele, e não a encontrando, perguntou, desesperada: “Ivan Tsarevich! Ivan Tsarevich! Onde você escondeu a minha pele? Por favor, me devolva logo! Preciso vesti-la já!”
“Ah, minha linda esposa…nunca mais poderá vesti-la! Eu a queimei!”
“Queimou? Como queimou? Com que direito!” Ah! Ivan Tsarevich…sabe o que você fez?” Faltavam apenas mais três dias para que o feitiço que Koshei Besmertniy me lançou terminasse…Agora, eu serei dele para sempre!”
“Como? Eu não permitirei que ele tire você de mim! Você é minha esposa, a nora predileta do Tzar…ele que ouse….”
Antes que Ivan Tsarevich terminasse a frase, uma ventania em forma de redemoinho abriu as janelas do quarto, suspendeu Vassilissa no ar e sumiu com ela num piscar de olhos, em meio a uivos e gargalhadas sinistras! Hahahahahahaaaaaaiiiiiiiiiiiii!
Pobre Ivan Tsarevich! Na mesma noite em que descobriu que se casara com a moça mais linda do reino, interferiu no feitiço e a perdeu para sempre!
Mas, Ivan Tsarevich era obstinado e destemido. Selou seu cavalo mais veloz e partiu em busca de sua princesa. Custasse o que custasse iria encontrá-la e salvá-la!
E assim, tomou a direção em que atirou sua flecha pela primeira vez e pôs-se a cavalgar. Por mais que indagasse, ninguém sabia responder onde morava Koschei, o Imortal! À simples menção de seu nome, faziam o sinal da cruz e se afastavam, até que cruzou com um ancião que lhe disse: “É você quem está procurando por Koshey Besmertniy?
“Sim , vovozinho!” “ Preciso encontrar minha esposa que ele enfeitiçou e depois raptou!”
“Então eu vou ajudá-lo: vou dar-lhe um cogumelo encantado”. “Coloque-o no chão e siga na direção em que ele o guiar.” “Não o perca de vista!” “Ele o levará à casa de Baba Yagá.” “Ela odeia Koshey, de morte, e é a única pessoa que poderá dizer-lhe onde e como encontrá-lo!”
Ivan Tsarevich agradeceu muito ao velhinho e, ao colocar o cogumelo no chão, esse partiu em disparada, e Ivan atrás! Galopou e galopou em seu alazão, até que entrou na grande floresta! De repente, o cogumelo parou de correr e o cavalo de Ivan empinou, assustado. Uma enorme mamãe ursa estava no meio do caminho acompanhando seu ursinho. Ivan Tsarevich pegou seu arco, armou-o com a maior flecha que tinha e, quando mirou na ursa para atirar, ela lhe falou, com sua grossa voz de animal, o olhar pedindo clemência:
“Eu lhe imploro, nobre cavaleiro…não me mate!” “O que será de meu filhote, sozinho e indefeso nessa floresta?” “Se me deixar viver, garanto que eu lhe serei útil, quando precisar!”
Ivan Tsarevich, que tinha um bom coração, condoeu-se da ursa com seu ursinho e deixou que eles prosseguissem seu caminho.
O cogumelo mágico pôs-se em disparada outra vez, e Ivan Tsarevich atrás dele. Cruzaram então, pelo caminho, com uma loba e seus lobinhos, e a história se repetiu: “Não me mate, nobre senhor, e eu lhe serei muito útil, prometo!” E Ivan seguiu adiante.
Cruzou com uma águia enorme, que voava com sua aguiazinha, e também não conseguiu matá-la, porque ela lhe prometera, como os outros animais, que seria muito útil se lhe poupasse a vida. E até seu filhotinho, agradecido, prometeu que iria ajudá-lo, quando precisasse!
Já estava entardecendo quando nossos viajantes resolveram dar uma rápida parada na beira de um lago, para descansar e matar a sede. Quando Ivan Tsarevich inclinou-se para beber, viu um peixe enorme vindo em sua direção, que lhe implorou: “Nobre príncipe, meu filho caiu na rede que os pescadores estenderam, e eu não consigo desembaraçá-lo!” “Se você me fizer o favor de salvá-lo, eu lhe prometo que serei útil, quando de mim precisar!”
Ivan Tsarevich foi até a rede, onde debatia-se um lindo peixinho dourado, tirou-o das malhas e o devolveu ao lago. Despediu-se do peixe grande e seguiu viagem.
Ao anoitecer, finalmente, enxergaram a indescritível casa de Baba Yagá. Ela brilhava no escuro com sua cerca de ossos humanos, encimada por caveiras de olhos flamejantes.
A casa rodopiava sobre seus pés de galinha enormes, virando de um lado para outro, parando ora num pé, ora noutro, sacolejando, subindo e descendo o tempo todo.
“Pare de dançar, isbá, e deixe-me entrar!” ordenou Ivan Tsarevich, e a casa, como por encanto, virou-se para ele com a porta aberta, de onde Baba Yagá já espiava.
“Quem é você, e como se atreve a dar ordens para a minha cabana?”
“Mas que velhinha mais mal educada! Eu sou Ivan Tsarevich, filho do Tzar, e estou viajando há dias para encontrá-la!” “Deixe-me entrar, prepare-me a tina com água quente para o banho, ofereça-me uma refeição, permita que eu durma e então, descansado, eu lhe direi o que me traz de tão longe aos seus domínios!”
E assim aconteceu.
Pela manhã…
A Princesa rã (Tsarevna Liagushka)
Nos contos de fada russos, os mesmos personagens protagonizam inúmeras histórias diferentes.
Assim, Ivan Tsarevich (o filho caçula do Tzar, que parece sempre levar a pior, mas sai vencedor, em todas as histórias) Baba Yagá (a temida bruxa canibal, que, às vezes revela sua face mais piedosa) Koshey Besmertniy,(o terrível mago imortal, que reina nas profundezas e nos abismos) a bela Vassilissa, o imperador Berendéi, e muitas outras figuras mitológicas, estão sempre vivendo incríveis aventuras que encantaram e continuam encantando jovens de todas as idades.
Hoje, eu contarei a história da Princesa Rã, protagonizada também pela Vassilissa Formosa.
Já é sabido que, sempre, quem conta um conto, aumenta um ponto, assim, essa versão da história é a que eu aprendi, ouvindo os meus avós e que reconto aos meus netos. Vamos a ela!
Apresento-lhes Koshey Bezmertniy. Ele é um bruxo malvado, poderoso, ambicioso e imortal. Um de seus palácios fica nas profundezas de uma montanha praticamente inacessível, onde ele reina sentado sobre um trono de ouro. Aliás, ele tem o poder de transformar em ouro tudo o que deseja. Assim, ele imortaliza suas posses. Ele tem como aliados, os corvos medonhos, de olhar aguçado, que lhe trazem notícias do mundo dos vivos, e um dragão de três cabeças que guarda seus domínios.
Um belo dia, os corvos vieram contar ao Koshey, que numa casa perto da floresta morava uma moça de beleza invulgar. Seu nome era Vassilissa Formosa. E Koshey, imediatamente, desejou-a para si. Mandou um vento forte apanhar Vassilissa no jardim de sua casa e trazê-la para seu palácio. Quando Vassilissa chegou, Koshey apaixonou-se por ela e lhe propôs torná-la sua Rainha do Mundo Abissal.
“Nunca!” Respondeu Vassilissa! “Olhe para você! Olhe para seu reino. Aqui nada tem vida! Tudo é de ouro…os pássaros, as árvores, os lagos.”
“Então…Não são uma preciosidade? Respondeu Koshey. “ Tudo será seu, se aceitar tornar-se minha esposa!”
“Eu jamais aceitarei ser sua esposa! Nem por todo o ouro do mundo! Você é um velho repelente! Não se enxerga?”
Koshey, bufando de ódio, pois jamais fora contrariado, lançou um encanto sobre Vassilissa: “Vou transformá-la numa rã! Durante três anos e três dias você viverá num brejo, pensando sobre minha oferta! Quem sabe, depois desse tempo, mude de idéia!”
E assim fez! Vassilissa, transformada em rã, foi deixada num encharcado distante, onde sua vida era coaxar e comer insetos!
Não muito longe dali, ficavam as terras e o palácio do Tzar Berendéi e seus três filhos: três jovens mancebos, belos e obedientes. Certa manhã, o rei pediu aos filhos que viessem até ele, pois precisava ter uma séria conversa com todos.
“O tempo está passando, e eu já sinto falta de embalar meus netos em meu colo. Vocês estão crescidos o bastante para casar e me dar esses netos.”
“Mas pai, nem noivas nós temos ainda! Onde vamos conseguir moças suficientemente prendadas para serem suas noras?”
“Isso não é problema!”
“Aí estão três arcos com três flechas. Vocês peguem os arcos e atirem na direção que bem lhes aprouver. Onde a flecha de cada um cair, ali estarão as suas esposas.”
Os príncipes pegaram os arcos e as flechas e saíram para o campo.
A flecha do primeiro príncipe caiu na casa de um nobre boiardo, que tinha uma linda filha que foi levada ao Tzar.
A flecha do segundo caiu na propriedade de um rico mercador, e sua filha também foi levada à presença do Tzar.
E a flecha de Ivan Tsarevich, o príncipe caçula, perdeu-se em meio ao brejo, indo cair justamente ao lado da rã, que era Vassilissa, encantada por Kashey..
Quando Ivan viu o que havia acontecido…ficou desolado!
“E agora! Como vou levar uma rã para apresentar ao meu pai como minha futura esposa?” pensou em voz alta.
“Ivan Tsarevich”, disse a rã… “Não fique tão desapontado! Você precisa me levar ao palácio e me apresentar como sua noiva…não foi isso que prometeu ao seu pai?”
E o pobre príncipe, colocando a rã no bolso, votou ao palácio.
As bodas foram marcadas em meio a grandes festejos que duraram semanas! Os dois irmãos de Ivan desfilavam, todos garbosos, com suas lindas esposas à tira colo, enquanto o pobre caçula, esquivava-se entre os convidados com a sua rã sentada na palma da mão, sendo motivo de chacotas de todo os presentes! Que triste sina!
Passado algum tempo, o Tzar chamou os filhos e lhes disse:
“Quero saber qual de minhas noras é a melhor tecelã.” “Ordeno que elas teçam um tapete no decorrer desta noite, e amanhã cedo, vocês os tragam para mim!”
Correram os três filhos para as suas casas e passaram a ordem do Tzar às esposas. Elas, logo arregimentaram as melhores tecedeiras e bordadeiras do reino, que se puseram a trabalhar!
O pobre Ivan Tsarevich chegou em casa cabisbaixo!
“ O que te preocupa, meu marido?” perguntou a rã.
“Meu pai ordenou que suas noras lhe tecessem um tapete numa noite! Como uma rã poderá dar conta do pedido do Tzar?”
“Não se preocupe, meu marido! Deite-se e durma bem, que pela manhã, o tapete estará pronto.”
Enquanto Ivan dormia, Vassilissa recolheu a brisa da noite, na qual incrustou as estrelinhas com seu brilho, os passarinhos com suas canções, as árvores com seu farfalhar de folhas, a grama com seu tapete de orvalho, as nuvens de algodão e teceu um tapete tão lindo como jamais olhos humanos viram igual. Dobrou-o bem, colocou numa caixinha e foi dormir também.
Pela manhã, entregou a caixinha a Ivan e disse: “Aí está meu tapete, leve-o para o Tzar”.
Pela manhã, o rei já estava esperando pelos filhos.
“Bem…mostrem-me as artes de suas esposas!”
O tapete que o primeiro filho desenrolou, o Tsar mandou-o para cobrir o chão das estrebarias reais. O tapete do segundo filho mandou colocar na entrada do salão principal, para que os convidados nele limpassem os pés, e quando Ivan Tsarevich retirou da caixinha a delicada tapeçaria feita por sua esposa rã, todos quedaram-se maravilhados com a beleza de tal arte! O pai felicitou Ivan, e mandou que seus servos pendurassem o tapete na parede por trás de seu trono, no lugar de honra, de tal modo que pudesse ser apreciado por todos que por ali passassem!
“Hoje à noite vamos celebrar a escolha do melhor tapete” disse ele. “Tragam suas mulheres para o banquete real!”
“A minha também, paizinho?” perguntou Ivan.
“A sua principalmente, meu rapaz! Quero felicitá-la pessoalmente!”
Ivan, cabisbaixo, voltou novamente para sua casa.
“O que foi, meu marido? Seu pai não gostou de meu tapete?”
Pelo contrário, rãzinha…Gostou tanto que resolveu comemorar com um grande baile e quer que você compareça! Mas…como vou mostrá-la a todo o reino?”
“Ah, mas isso não é problema, marido! Só que você deverá ir ao baile na minha frente e, já vou lhe avisando:”
“Quando ouvir um estrondo, não se assuste! Diga apenas:”
“É a minha princesa rã chegando em sua carruagem… E deixe o resto por minha conta!”
E assim chegou a noite.
O palácio estava todo enfeitado para o baile. Os convidados chegavam de todo o reino, curiosos em saber o motivo daquela comemoração.
Os dois príncipes surgiram com suas esposas ricamente vestidas, e Ivan, sozinho, avisou a todos que sua esposa chegaria mais tarde, pois se atrasara nos preparativos para a festa.
“Vamos ver uma rã vestida de princesa….riam e comentavam entre si os convidados…”
Quando o banquete já ia pelo meio, ouviu-se um estrondo que deixou a todos assustados!
“Não se preocupem”, falou Ivan Tsarevich. “É apenas a minha princesa rã, vindo em sua carruagem…”
Para espanto de todos, ao abrir-se a porta, apareceu Vassilissa Prekrasnaia, maravilhosa, em todo o seu esplendor de princesa! Os cabelos ricamente trançados, o vestido ricamente bordado, os sapatos ricamente recobertos por pedras preciosas!
As pessoas não acreditavam no que viam, e o próprio Ivan Tsarevich ficou mudo de espanto!
“Desculpe o atraso, meu Tzar. Eu sou Vassilissa, sua nora, esposa de seu caçula Ivan Tsarevich.”
O Tzar derreteu-se diante de sua formosura e pediu-lhe que se sentasse a seu lado.
Todos os olhos, aquela noite, não conseguiam desgrudar-se da bela Vassilissa, que riu, comeu, conversou e dançou a noite inteira, encantando a todos os presentes.
Enquanto Vassilissa dançava, Ivan Tsarevich…
Ilustrações das *volshebnie skazki
Entramos em contato com o mundo físico que nos cerca, através dos nossos cinco sentidos…
E quanto ao nosso mundo psíquico?
Os contos de fada, na visão de Jung, são uma representação simbólica de como enfrentamos os nossos problemas humanos e as possíveis soluções que encontramos. Para Jung certas lendas, mitos e símbolos têm origem na infância da humanidade. Quando, os recursos intelectuais eram limitados, o homem apresentava uma disposição natural para aceitar o sobrenatural. Essa necessidade psicológica, de buscar soluções mágicas, para o que não se conseguia resolver de outra maneira; e de criar seres fantásticos para superar realidades que lhe impunha limitações, possibilitaram à humanidade, um caminhar mais seguro.
“Para dominar os problemas psicológicos do crescimento – separar decepções narcisistas, dilemas edípicos, rivalidades fraternas, ser capaz de abandonar dependências infantis; obter um sentimento de individualidade e de autovalorização, e um sentido de obrigação moral – a criança necessita entender o que se está passando dentro de seu eu inconsciente. Ela pode atingir essa compreensão, e com isto a habilidade de lidar com as coisas, não através da compreensão racional da natureza e conteúdo de seu inconsciente, mas familiarizando-se com ele através de devaneios prolongados – ruminando, reorganizando e fantasiando sobre elementos adequados da estória em resposta a pressões inconscientes. Com isto, a criança adequa o conteúdo inconsciente às fantasias conscientes, o que a capacita a lidar com este conteúdo. É aqui que os contos de fadas têm um valor inigualável, conquanto oferecem novas dimensões à imaginação da criança que ela não poderia descobrir verdadeiramente por si só. Ajuda mais importante: a forma e estrutura dos contos de fadas sugerem imagens à criança com as quais ela pode estruturar seus devaneios e com eles dar melhor direção à sua vida.” Bruno Bettelheim
(ler artigo interessante sobre esse assunto, no endereço:) http://www.liberato.com.br/upload/arquivos/0131010716060516.pdf
Existem inúmeros artigos interessantíssimos sobre essa afirmação, que podem ser encontrados na Internet.
O meu intuito, aqui, é apresentar-lhes alguns grandes pintores russos que se inspiraram em contos de fadas para criar obras maravilhosas. O visual pictórico, complementando a historia, atiça nossos sentidos e nos predispõe para a beleza, a imaginação, a fantasia e o encantamento. As ilustrações povoam nosso mundo de duendes, fadas, heróis, cavalos alados, bruxas canibais, feiticeiros, isbás, castelos, florestas e mares por onde viajamos e nos reabastecemos de força, beleza e coragem para enfrentar as difíceis e monótonas rotinas diárias com seus problemas comuns a todos. Boa viagem!
*volshebnie skazki = contos encantados
Contos de fada russos
Cresci alimentando-me com as histórias dos contos de fada russos(skazki) que os avós liam e, também, contavam de memória.
Histórias pouco conhecidas, infelizmente, entre nós, no Brasil. Aqui, contos clássicos de Lewis Carroll, Andersen, Irmãos Grim, impressos ou adaptados ao cinema pelo talento de Walt Disney é que fazem a cabeça de nossos pequenos, juntamente com os personagens inesquecíveis criados por Monteiro Lobato.
Meus livros infantis eram conseguidos com dificuldade, emprestados de amigos, apanhados em bibliotecas junto às igrejas ortodoxas e, uns poucos adquiridos em livrarias no centro da cidade. E eram tão lindo! Fartamente ilustrados, as historias contadas em versos. Ah! Como eu os amava e continuo amando!
Eu gostaria de colocá-los em contato com a fértil mitologia dos contos russos: o bruxo imortal Kochei Besmertniy, a bruxa canibal Baba Yagá, a sereia Russalka, o príncipe Ivan Tzarevich e tantos outros personagens que povoaram minha infância e, contribuíram, certamente, para que eu me tornasse a pessoa que sou, buscando sempre o lado encantado da vida e das palavras.
Assim, vou aproveitar esse mês de outubro, dedicado às crianças, para contar-lhes algumas histórias que lembro de cor, e outras que traduzi livremente de meus livros russos.Afinal, nossa criança interior sempre precisa de um pouco de magia!
E começo apresentando-lhes a Formosa Vassilissa.
Há muito, muito tempo atrás, num reino distante, vivia um rico mercador com a mulher e a única filha: Vassilissa. A beleza da menina era deslumbrante, mas ela cativava, igualmente, pela meiguice e delicadeza. Ao completar oito anos, sua mãe adoeceu e, sentindo que não viveria por muito tempo, presenteou Vassilissa com uma bonequinha mágica. “Filha, cuide muito bem dela e ela sempre a protegerá. Nunca, jamais, fale dela a ninguém. Este será nosso segredo. Promete?” “Ah…e tem outra coisa: sempre que você sentir-se em perigo, dê-lhe de comer e de beber. Alimentada ela lhe dará sempre bons conselhos e a ajudará em todas as dificuldades.”
Passado algum tempo a mãe de Vassilissa faleceu e seu pai, preocupado por não ter com quem deixá-la, sempre que viajava, casou-se com uma viúva que tinha duas filhas.
Ele pensou que assim, Vassilissa ficaria amparada e protegida. Ledo engano! A madrasta e suas filhas odiaram a menina. Tinham inveja de sua beleza e meiguice e, toda vez que o pai viajava, a madrasta inventava mil trabalhos, na casa, para ocupá-la.
Não importava quanto, nem qual fosse o serviço. No tempo certo, tudo estava concluído. Como isso era possível?
Simples! Quando ficava sozinha, Vassilissa pegava sua bonequinha mágica e a alimentava:
“Coma tudo, meu amor, e me ajude no que for!”
A boneca ouvia Vassilissa, dava-lhe conselhos e, enquanto ela dormia, o trabalho se fazia!
O tempo passou, e as meninas cresceram. Estava na hora de arrumar um bom partido.
Muitos pretendentes apareceram, mas todos tinham olhos apenas para a mais jovem: Vassilissa! A madrasta, furiosa, decretou: “Você só se casará depois de suas irmãs, e se eu permitir!” Ah! O ódio e a inveja consumiam as três malvadas!
Certo dia, quando seu pai precisou partir para mais uma longa viagem de negócios, a madrasta exultou de felicidade! Era a oportunidade pela qual aguardara por longo tempo! Com o pretexto de “mudar de ares”, desfez-se da casa em que moravam e mudou-se com as filhas e a enteada para outra, que ficava próxima à floresta. Floresta onde morava a temida Baba Yagá! A bruxa simplesmente devorava qualquer pessoa que se aproximasse de sua cabana ( isbá) E que cabana! Ela foi construída em meio a uma clareira e se apoiava sobre quatro enormes pés de galinha. Seu trinco era uma bocarra cheia de dentes afiados, que arrancavam os dedos de quem ousasse tocá-lo…E a cerca era feita de longos ossos humanos encimados por caveiras de enormes olhos esbugalhados, que à noite brilhavam com uma luz vermelha, assustadora, na escuridão…
A madrasta, todos os dias, inventava alguma tarefa que Vassilissa precisava fazer na floresta, na esperança de que a Baba Yagá logo a encontrasse e a comesse! Para espanto das três malvadas, no entanto, Vassilissa sempre voltava sã e salva. Assim que saia de casa, ela tirava a bonequinha, bem guardada no bolso do avental, e lhe dava de comer. A boneca, então, lhe indicava caminhos pelos quais sempre contornava a isbá da temida bruxa. Morrendo de raiva, a madrasta pensou e pensou e, certa noite, teve uma idéia. Apagou todos os lampiões da casa e ordenou à enteada que fosse pedir fogo, lá na cabana da Baba Yagá, que era a única que poderia ceder-lhe o lume.
Vassilissa, sem ter como escapar da tarefa, pegou sua trouxinha de comida, e, tão logo afastou-se da casa, começou a alimentar sua boneca:
“Coma tudo, minha querida, e cuide da minha vida!”
“Não tenha medo, Vassilissa! Vá à casa de Baba Yagá, mas nunca se separe de mim! Eu não deixarei que nada de mal lhe aconteça!”
E Vassilissa entrou na floresta. Andou, andou e andou na escuridão, até que, lá longe, viu uma luz branca, muito brilhante, se aproximando: Era um cavaleiro branco, todo vestido de branco, montado sobre um majestoso cavalo branco, que passou à sua frente à galope. E começou a clarear!
Vassilissa caminhou mais algum tempo, quando viu uma luz vermelha se aproximando. Era outro cavaleiro, todo vermelho, de cabelos cor de fogo, vestido com uma riquíssima armadura vermelha, sobre um cavalo vermelho, que passou à sua frente, galopando. E o sol surgiu, com todo o seu brilho, iluminando a floresta.
Vassilissa estava cansada de tanto andar…Logo a noite cairia de novo sobre a floresta, e nada de chegar ao seu destino!
A pobre menina, cansada, tremia dentro de seu vestidinho leve, quando um terceiro cavaleiro surgiu por entre as árvores. Ele era todo negro, vestido de negro, montando um maravilhoso corcel negro, que, ao passar, trouxe consigo a noite sem estrelas…
E então ela viu: numa clareira que se abria à sua frente, de repente acenderam-se dezenas de luzes vermelhas que brilhavam assustadoramente. Ela apurou a vista e conseguiu enxergar, atrás da cerca, finalmente, a isbá de Baba Yagá! E…VRUUUMMM…com um barulho ensurdecedor, surgiu a própria bruxa, montada em seu pilão voador, bramindo uma vassoura!
(Baba Yagá, ilustração Vasnetsov)
“Quem é você, criatura, que ousa invadir a minha propriedade?” gritou a bruxa com sua voz estridente, cuspindo as palavras com sua boca, onde só se via um dente enorme, enquanto falava….O fedor que ela emitia era insuportável! Baba Yagá tinha um nariz enorme, com uma verruga maior ainda, que quase alcançava o queixo. Seus cabelos desgrenhados e cheios de gravetos estavam protegidos por um chapelão negro pontudo, e sua mãos de dedos finos e compridos, terminavam em unhas horríveis que mais pareciam garras!
“Sou Vassilissa, vovozinha. Eu não ia entrar em sua isbá sem a Senhora”! “Vim aqui a mando de minha madrasta, pedir-lhe, por favor, que nos empreste um pouco de fogo!”
“E porque eu iria emprestar-lhe fogo? Heim? Me diga, me responda!”, grunhiu a bruxa, chegando tão perto de Vassilissa com seus olhos esbugalhados, que a menina quase caiu no chão!” “Você quer fogo? Quer fogo? Pois antes terá que ficar comigo o quanto eu quiser e fazer todo o serviço que eu mandar!” “E já vou-lhe avisando…se eu não ficar satisfeita…hahaha…você dará um belo almoço!”
E assim, a nossa Vassilissa ficou morando e trabalhando na casa de Baba Yagá! E, mais uma vez sua bonequinha encantada veio em seu auxílio. Todo o serviço que a bruxa ordenava, ela cumpria em tempo e sem reclamar!
Por mais que a bruxa se esforçasse, não conseguia entender como isso era possível. Ninguém, mas ninguenzinho até então, conseguira fazer nem a metade das tarefas, e estava, há muito tempo, dentro de seu barrigão!
Baba Yagá cumpria diariamente a mesma rotina. Acordava sempre de madrugada. Assim que o Cavaleiro Branco passava, ela saía montada em seu pilão. Pelo caminho cruzava com o Cavaleiro Vermelho, que trazia o sol, e regressava depois que o Cavaleiro Negro trouxesse a noite. Voltava e não tinha nada do que reclamar. A sua isbá estava arrumada, o pátio varrido, o fogo aceso, a mesa posta e o jantar, sempre delicioso, prontinho no panelão.
Vassilissa, já estava até começando a perder o medo da bruxa horrível, tanto que, uma bela noite, durante o jantar, pediu licença para lhe fazer uma pergunta:
“Vovozinha…quem são os cavaleiros que sempre passam galopando por aqui? Um branco, um vermelho e outro negro?”
“Eles são os meus vassalos; o Cavaleiro Branco é o meu dia claro! O Vermelho é o meu Sol radiante, e o Negro é a minha noite escura! Eles estão a meu serviço!”
“E agora é a minha vez de lhe fazer perguntas: Diga-me, como você consegue dar conta de todo o serviço que lhe dou?”
“Ah, vovozinha…minha mamãe que já partiu é que me ajuda. Eu sou uma filha abençoada!”
Quando Vassilissa completou a frase, Baba Yagá pulou da cadeira, berrando: “Fora! Ponha-se já para fora daqui! Gente abençoada me faz um mal danado! Fora, fora!”
Enquanto berrava, a bruxa foi empurrando Vassilissa para fora de sua cabana. Arrancou da cerca uma caveira de olhos acesos, espetou-a num pedaço de pau e disse. “Aí está seu pagamento, agora suma de minha vista e não se atreva a voltar!”
Assim que se viu livre, Vassilissa começou a correr, a correr, a correr com a caveira iluminando seu caminho. Ao amanhecer, os olhos da caveira se apagaram e tornaram a acender ao cair da noite. Na manhã do segundo dia, Vassilissa prosseguiu correndo e só avistou a casa da madrasta ao anoitecer. Novamente os olhos da caveira se acenderam, e, como a casa estava às escuras, Vassilissa apressou-se em entregar a chama à madrasta.
Qual não foi a surpresa quando o trio avistou Vassilissa! Fingindo alegria, elas correram a fazer-lhe festa! A madrasta contou que ficaram sem fogo durante todo o tempo de sua ausência. Qualquer chama que trouxessem para casa, logo se apagava. Ah! Agora sim! Com o fogo dos olhos da caveira de Baba Yagá poderiam finalmente acender as velas e a madeira do fogão.
E então, o inesperado aconteceu. Quando elas se aproximaram da caveira, ela lançou chamas tão fortes que as três malvadas se incendiaram e num instante transformaram-se em cinzas! Então, os olhos da caveira se apagaram. Vassilissa escapou sem um chamuscadinho sequer. Pela manhã, ela trancou a casa, enterrou a caveira e voltou para a cidade, pedindo abrigo na casa de uma boa velinha, até que seu pai voltasse.
Passado algum tempo, Vassilissa, sem ter com que ocupar seu tempo ocioso, começou a ficar entediada, então, teve uma idéia:
Vovó, e se eu começasse a fiar? Nós poderíamos vender os tecidos e ganhar algum dinheirinho… A velhinha, que gostava muito de Vassilissa, de pronto aceitou a idéia. Saiu para encontrar a fibra de melhor qualidade, que comprou e trouxe para casa. A menina, sempre com a ajuda de sua bonequinha, arrumou uma roca e elas teceram uma cambraia de linho tão fina e delicada, como jamais se encontrara em todo o Reino. Em seguida, a bonequinha arranjou um tear, e o tecido que produziram ficou tão maravilhoso, mas tão maravilhoso, que a velhinha resolveu levá-lo para oferecer ao próprio rei, em pessoa.
Sua Majestade gostou tanto do tecido, mas tanto, que logo lhe encomendou uma dezena de camisas reais.
À noite, com a sua bonequinha mágica devidamente alimentada, elas costuraram as mais belas camisas que o Rei já vestiu. Encantado, o monarca pediu aos seus vassalos que trouxessem à sua real presença aquela artesã tão talentosa, e assim foi feito.
Quando Sua Majestade pousou os olhos em Vassilissa, imediatamente apaixonou-se perdidamente por ela, pediu-a em casamento e a transformou em sua rainha.
Algum tempo depois, o pai de Vassilissa retornou de sua longa viagem e mal pode acreditar em toda a história que a filha lhe contou. Ele foi morar com ela no palácio, para onde Vassilissa levou também a boa velhinha.
E a bonequinha mágica?
Ah…Vassilissa jamais separou-se de sua boneca. Ela sempre a trazia consigo, escondida num dos muitos bolsos secretos de sua roupa de rainha e a boneca continuou a aconselhá-la e a ajudá-la pelo resto de sua vida longa e feliz.
(tradução livre do russo de Ludmila S.)
(ilustrações escaneadas do livro de histórias em epígrafe)