NAMORANDO = NO AMOR ANDO
Não é fantástica esta definição de minha amiga poeta Dyrce Araújo?
Pois então, vamos todos namorar!
(Ludmila)
NAMORANDO = NO AMOR ANDO
Não é fantástica esta definição de minha amiga poeta Dyrce Araújo?
Pois então, vamos todos namorar!
(Ludmila)
Cresceu em minha fronte uma árvore.
Cresceu para dentro.
Suas raízes são veias,
nervos suas ramas,
Sua confusa folhagem pensamentos.
Teus olhares a acendem
e seus frutos de sombras
são laranjas de sangue,
são granadas de luz.
Amanhece
na noite do corpo.
Ali dentro, em minha fronte,
a árvore fala.
Aproxima-te. Ouves?
(Trad. Antônio Moura)
Nefer Never – ALICE RUIZ
nefer nefer nefer
bela bela bela
uma nuvem talvez
desenha
o desejo em minha pele
toma
a forma do teu corpo
e me revela
minúsculos imãs
atraindo espaços
pela boca seda
pela pele rima
pelos pelos sede
neve e fogo
força e febre
no movimento
o silêncio se bebe
e se embriaga
agora
aqui
no dentro do outro
estilhaços de estrelas
pleno de si
esse cio
eterno início
nunca se sacia
nunca nunca nunca
never never never
(De meu livro “Dois em Um”)
Além da vida, ela mesma, a inspiração desse poema veio de um livro “O Egípcio” de Mika Waltari, onde uma das personagens, Nefer Nefer Nefer, que em egípcio significa Três Vezes Bela, diz ao seu apaixonado que a perfeição do amor é nunca realiza-lo. (Alice Ruiz)
Em que encaixe desta cruz
Insere-se meu drama?
Em que jazigo, em que mortalha,
em que sudário? Eu penso
enquanto teço este linho
Que cobrirá teu corpo solitário.
Ah! O suplício de ver-te abatido
por essa lança a atravessar também meu peito.
Perdão, peço, meu Pai, não sei o que faço
Quando Lhe imploro que mude teu calvário!
Sei que tua fome e sede por justiça
Levaram-te à Via Crucis que hoje segues
Mas…esse vinagre untando o talho aberto
E essa coroa de espinhos que te veste
Refletem em mim a dor toda que sentes
Por esses homens que seguem ignorantes…
Sou uma dentre tantas mulheres da Judéia
Que choram sobre os corpos
De seus filhos mortos,
pelas vidas que teceram e se consomem
em lutas, traições e injustiças
No solo seco dessa Palestina
No solo seco desse mundo inteiro
Que Páscoa alguma, nunca, ressuscita!
(Ludmila Saharovky – Publicado no longínquo ano de 1980 no
Diário de Jacareí)
Desvio dos teus ombros o lençol,
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do sol,
quando depois do sol não vem mais nada…
Olho a roupa no chão: que tempestade!
Há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
onde uma tempestade sobreveio…
Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo…
Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!
David Mourão-Ferreira, in “Infinito Pessoal”
Durante a primavera inteira aprendo
os trevos, a água sobrenatural, o leve e abstracto
correr do espaço
e penso que vou dizer algo cheio de razão,
mas quando a sombra cai da curva sôfrega
dos meus lábios, sinto que me falta
um girassol, uma pedra, uma ave qualquer
coisa extraordinária.
Porque não sei como dizer-te sem milagres
que dentro de mim é o sol, o fruto,
a criança, a água, o leite, a mãe,
o amor,
que te procuram.
(Herberto Helder)