René Char

Cette fumée qui nous portait…

Cette fumée qui nous portait était soeur du bâton qui dérange la pierre et du nuage qui ouvre le ciel. Elle n’avait pas mépris de nous, nous prenait tels que nous étions, minces ruisseuax nourris de désarroi et d’espérance, avec un verrou aux mâchoires et une maontagne dans le regard. (René Char, Fureur et Mystère, 1962)

A fumaça que nos levava…

A fumaça que nos levava era irmã do pau que intriga a pedra e da nuvem que abre o céu. Não nos desprezava e nos tomava pelo que éramos: finos riachos nutridos de desordem e de esperança, com uma tranca no queixo e uma montanha no olhar. (René Char, Fúria e Mistério, 1962)

La poésie est de toutes les eaux claires celle qui s’attarde le moins aux reflets de ses ponts.
Poésie, la vie future à l’intérieur de l’homme requalifié. (René Char, Le nu perdu)

De todas as águas claras a poesia é a que menos tarda nos reflexos de suas pontes.
Poesia: vida futura dentro do homem requalificado. (René Char, O nu perdido)

Ne te courbe que pour aimer.(René Char, Le nu perdu)
Só te curves para amar.(René Char, O nu perdido)

       

    Toque, Dailor Varela

    Toque

    Cerca-me
    O toque da palavra
    Animal no cio
    silêncio e verbo
    que calo.
    (Dailor Varela, do livro Delírico)

    Hoje, meu querido poeta Dailor Varela faz 66 anos.
    Nossa amizade é atemporal. Vai desde que eu lhe escrevia longas cartas com a minha Parker 51, carregada de Tinta Azul Real Lavável, e ele me respondia (como responde até hoje) em sua Remington (ou será Olivetti?) cheia de falhas, manchas de tinta e correções com caneta esferográfica, ora preta, ora vermelha. As longas cartas de Dailor são uma obra à parte. Se emolduradas podem ser confundidas com algum trabalho figurativo contemporâneo, ou mesmo com um de seus poemas da fase concretista. E, se lidas, revelam o âmago dessa alma sensível, amargurada, apaixonada, completamente híbrida, herdada do anjo e do demônio que o habitam.
    Estar com Dailor exige radicalismo: Ou se ama ou se odeia essa figura ímpar que veio do nordeste e se esconde, hoje, em Monteiro Lobato.
    Eu o amo, incondicionalmente!
    Salve Dailor!
    Seja feliz em seus delírios poéticos!
    Beijos, amigo!
    (Ludmila Saharovsky)

      

      Al Berto – recorte


      TURNER ” Rain, Steam and Speed” 1844; Oil on canvas

      “avançarás pelo mar dentro
      ferido por outros naufrágios imperceptíveis
      descansarás
      nas areias aveludadas da foz dalgum rio sagrado
      e quando o mar se retirar
      o sol a lua virão tatuar sobre o ombro
      a silhueta viva dum bicho estelar
      e a memória
      essa parte calcinada da vida começará a doer e a latejar
      navegarás pela cidade que adere aos dedos
      como sarna mais antiga navegarás
      com o escorbuto no coração transportarás o silêncio
      e a escrita na fragilidade dos pulsos acorda
      onde cintila a faca acorda
      acorda o mar
      está próximo o mar acorda
      o mar acorda o mar acorda o mar
      o mar”
      (Al Berto do livro O Medo)

          

        O tempo e o templo


        (imagem do filme Anjos e Demônios)

        E eis que surge o templo dentro do tempo
        que orbita no silêncio da noite adamascada.
        Deuses e demônios o povoam.
        Um anjo se fragmenta nas alturas:
        murmúrios de seda se desprendem de suas asas
        e pousam em meu plexo desarmado.
        O tempo exala mistérios que o templo absorve
        com suas guelras de pedra e musgo,
        enquanto o sono me exorciza de seu reino.

        (Ludmila Saharovsky)

          

          Desejo de asas


          (Foto Pavel Mirchuk)

          Plantei asas em meus braços,
          para te alcançar,
          num vôo regido por lembranças.
          Pousei nas urzes.
          Pousei nas palmeiras.
          Pousei nas videiras.
          E você ali, oculto em mim,
          pulsando leve na memória
          feito um desejo de primavera…

          (Ludmila Saharovsky)

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