(Foto Roberto Cambusano)

Na calma planície
dos lençóis
eu aprisiono
a felicidade,
entre as pernas.
(Ludmila saharovsky)

(foto Vadim Stein)

O silêncio me envolve
com seu manto de outono
e inauguramos, juntos,
a linguagem das folhas.
Pólen, pios, dentes de leão,
aromas, gotas de orvalho,
asas de insetos
rodopiam nas retinas
e se transformam em poemas
no hálito sonoro do vento.

(Ludmila Saharovsky)

(foto Vadim Stein)

Penso nas coisas todas:
nas nuvens, nos troncos, nas redes
que tatuam esse mapa de maio
onde a chuva me desagua
numa terra sem pegadas.
Grama, insetos,
uma flor despida do caule
viajam nos córregos penitentes
que se lançam ao mar.
Busco o barco da alegria
ancorado no passado, mas,
sem remos nem velas
não faço a travessia
para a secreta ilha
onde brinca o sol.

(Ludmila Saharovsky)

(foto de Vadim Stein)

Palavra: Brinquedo de armar
No alçapão da boca.

(Ludmila Saharovsky)

Meus olhos pousam na delicadeza
E a manhã nasce contaminada de hortênsias
A ciranda de pássaros purifica meus sentidos
E eu abro a cortina de nuvens
Para comungar o sol.

(Ludmila Saharovsky)

(Foto Vadim Stein)

A dor,
sombra negra que corta a claridade da manhã
e o silêncio denso da casa, pousa,
pesada e obscura no éter do tempo.
A dor,
vento seco do deserto, ela avança,
por entre dunas e oásis; ela avança,
coagulando a alegria.
A dor,
fel que escorre em caudaloso rio,
agulha que perfura as vísceras
e coze o medo, na minha carne viva.
(Ludmila Saharovsky)

Meu mapa faz-se de momentos bordados em ponto de cruz,
na palma das mãos: caligrafia de percursos
a me pulsar nas veias, enquanto tento decifrar o universo.
Estremeço a cada crepúsculo (onde os vampiros sedutores?)
e vou guardando os sustos de viver
nessa terra arada pelo orvalho das manhãs
que sempre renascem das cinzas da noite,
apesar de…
(Ludmila Saharovsky)

Dura, a neblina
Opaca transparência onde a paisagem se pressente, não se revela.
Sombras de asas, telhas, navios, ramagens refletem-se no limbo
que sobe e nos alcança, com sem manto ancestral de assombros.
E esse bater de asas plantado na garganta..

(Ludmila Saharovsky)

Nebulosa, insondável, côncava
ela rouba as cores da paisagem
e a manhã não abre os seus dedos de luz.
Apenas espectros soldam-se
em seus canteiros de abismos.

(Ludmila Saharovsky)

Digo PEDRA
e ela surge inanimada
em sua casa de água,
martelando a paisagem.
Digo NEBLINA
e um sobressalto de teias
se apossa de minha alma,
e a palavra não cai, flutua,
no labirinto de saliva em minha boca.

(Ludmila Saharovsky)