Noturno

No silêncio do quarto
Esta paixão inominável
me impele a mergulhar inteira
Em teus mistérios.
Tuas mãos acariciam-me o sono
E o poema brota incandescente
Iluminando a noite
E os lençóis.
(Ludmila do livro Te Sei)

En el silencio del cuarto
esta pasión indomita
Me impulsa a sumergirme entera
en tus misterios.
Tus manos acarician mi sueño
y el poema brota Incandescente
Iluminando la noche
Y las sábanas.
(tradução de Alicia Dominguéz)

    

    Matéria de Sonho

    Lentamente amanhece.
    E se a infância viesse até ela outra vez?
    E a infância vem, como que atendendo a seu anelo.
    Vem, não se sabe de onde, talvez de dentro dela mesma.
    Vem, e feito aquele pássaro que regurgita o alimento para saciar a fome das crias, coloca em sua mente a matéria viva da memória.
    E ela torna-se então seu próprio sonho.
    Memória…um retornar ininterrupto sobre os mesmos passos. Um caminhar sobre rastros indeléveis, sobre pegadas que o tempo não consegue desmanchar naquela terra antiga. Resgate de paisagens recobertas de neblina, e de um céu iluminado tantas vezes por relâmpagos de medo.
    Sobrevoar um território único onde se misturam inconfundíveis sons e cheiros. Espanto e descobertas. Invernos e verões. E para onde sempre se retorna, em busca de respostas.
    E assim se tece, vagaroso, o conhecido enredo. Poderá mudá-lo? Tenta: Desnuda-se. Queima aquelas vestes impregnadas de vivências. Não as quer mais… São tão pesadas! Em vão! As cinzas que delas resultam, grudam novamente em sua pele e refazem a mesma fantasia. E entre luzes e sombras ela caminha.
    Entre dias e noites, entre dúvidas e sobressaltos repassa aquele instante de sua vida: É um pássaro teimoso, voando rumo ao sol,e o amanhecer tão longe ainda! E se fugisse? Mudasse o itinerário? Colorisse as penas? Alongasse as asas? Engrossasse o trinado? Perdesse o norte? Como se construiria seu destino? Conseguiria ser aceita por um novo bando?
    Pensa em tudo enquanto vai prosseguindo em seu voo: Ali, campos de trigo, rios , montanhas, um vale imenso, um longo e sinuoso rio. Depois vilas, casas, jardins, quintais com dálias e abelhas. E um ancião sentado, embalando um sono de criança. Ela pára e observa aquele quadro, e uma ternura ímpar a envolve. Aquela cena lhe parece tão familiar! Ah! O aconchego, a nutrição do afeto, a sede saciada. A voz tão conhecida entoando uma velha cantiga de ninar. Confiante ela pousa tranquila naquele ninho e sua alma se aquieta. Um céu azul instala-se entre nuvens e todo o medo e insegurança se dissipam.
    Lentamente amanhece e a infância, resgatada, dorme tranquila, em seu regaço.
    (Ludmila Saharovsky)

      

      Conto mínimo: Um dia é da caça, outro…


      No meio da galeria o homem observa, maravilhado, o quadro da grande caçada: cães farejando a mata, excitados cavaleiros montando garbosos animais, raios de sol infiltrando-se pela densa floresta. Mas…e a presa? Onde a presa? Toca a corneta, e eis que a sala é tomada pelo som dos latidos. Tiros começam a espocar em sua direção. Quando ele se dá conta, já não há saída. No assoalho da sala, o sangue escorre…
      (Ludmila)

         

        Conto mínimo: Filhotes

        O filhote de Labrador com o qual presenteamos os garotos, animal dócil e obediente, submeteu-se durante meses ao treinamento:
        ” Em pé”!
        “Sentado!”
        “Junto!”!
        Cão inteligente, disseste orgulhoso.
        Hoje, ruídos incomuns despertaram-nos ao amanhecer. Às vistas do cão, deitado tranquilamente sobre o tapete do quarto, as crianças disputavam, rosnando, a posse do travesseiro.
        (Ludmila)

              

          Conto mínimo: Eco

          Gritei: Alô-ô!
          E o eco respondeu: Alô…alô…alô…alô…
          Eu: Você aíí-i
          O eco: Aí…aí…aí…aí…aí…
          Eu: Apareça!
          Eco: eça…eça…eça…eça…
          Pensei: Que eco mais sem assunto, e fui conversar com a Violeta!
          (Ludmila)

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