Os Sentidos
O olhar é o primeiro que chega.
É o primeiro que toca as paredes caiadas da memória.
É o primeiro que se apercebe do lugar. Olhar de dentro.
Depois, o olfato. Ele distingue os aromas já extintos: o cheiro da poeira que se acumulou nas frestas, nas cortinas esvoaçantes de filó, o sal dos oceanos entranhado nelas.
Depois o tato. Palavras atingem a pele, os poros, rompem a carcaça da carne, penetram nas dobras do tempo e, com olhos felinos, me espreitam. Que aves de rapina comerão os restos de meu texto?
Depois o paladar. Escrevo nesta vastidão de águas e de areia que saboreio. Palavras rompem o limo em minha boca e recobrem de saliva as letras que lhes dão vida. Apartadas de mim, cansadas de perambular pelos labirintos da mente, elas escapam e vão se alojar em novas histórias. Antes, eu as beijo na boca e então, deixo que partam. (Ludmila)
Os Sentidos
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