Cenário cultural para inserir Anderson Fabiano – parte II
Como comecei a lhes contar, conheci Anderson Fabiano, em 1972, no primeiro salão de Arte organizado pelo ADC Embraer. Anderson foi-me apesentado por outro artista plástico, Regis Machado, que também expunha nessa Mostra.
A década de 70 foi de muita efervescência cultural em todo o Vale do Paraiba. Estávamos em plena Ditadura Militar (1964/1985) e os movimentos artísticos e culturais que agitavam São Paulo, refletiam-se por todo o interior. Surgiram muitos e bons grupos de teatro. Festivais de música estudantil passaram a fazer muito sucesso, revelando grandes talentos. Saraus de poesia aconteciam de improviso, em muitos barzinhos. Salões de Arte Contemporânea desafiavam os acadêmicos de plantão. O novo urgia em se fazer sentir, ocupando-nos com seu descobrimento e instigando-nos às possíveis transgressões através da Arte e da Cultura.
Novas formas de atuar, novas canções de protesto, novas formas de pensar e de se comunicar, novas maneiras de se vestir e de se comportar abriam caminho, derrubando as barreiras do antigo. E, nas Artes Plásticas não foi diferente.
Claro que houve um grande choque de conceitos: Os acadêmicos achavam um lixo a arte de Vanguarda, e os Vanguardistas olhavam para os acadêmicos como se fossem pré históricos, tolerando apenas os pintores primitivistas, e olhe lá! E, no meio deles entravam os expressionistas, que nem se consideravam vanguarda e nem acadêmicos. Mestre Justino e Anderson Fabiano pertenciam a este grupo. Justino usava a espátula e, às vezes os dedos para retratar o Vale do Paraíba e seu povo. Usava eucatex como suporte e muitas cores vivas sobrepostas em grossas camadas.
Anderson Fabiano, conhecido como o pintor mais rápido do Brasil, usava tela e pincel. Suas cores também eram carregadas, escuras, dramáticas. Pegava seu cavalete e ia para a Praça Pública, em Taubaté, pintar em meio aos passantes e explicar-lhes os efeitos de sombra e luz. Ambos eram amigos e muito queridos pelos artistas jovens que reconheciam seu talento para paisagens, marinhas, naturezas mortas e figuras humanas, retratadas sempre com muito vigor.
O primeiro quadro que adquiri de Anderson Fabiano, foi no consórcio da Casa Ciranda. Depois, nos tornamos amigos e acabei comprando dele mais duas paisagens das quais gosto muito. A alguns anos, conheci seu filho, Benedito Fabiano, que reside em Jacareí. Foi ele quem me forneceu imagens e informações que divido, hoje, com vocês! (Ludmila Saharovsky)
Anderson Fabiano nasceu em Taubaté, em 1926 e iniciou-se na pintura aos 12 anos com seu pai Dr. Benedito Fabiano Sobrinho. Aos 15 anos mudou-se para o Rio de Janeiro. Ingressou na “Escola do Povo” – Escola fundada por Portinari. Dois anos mais tarde, a escola foi fechada por questões políticas. Na mesma época conheceu Tomás Santa Rosa e iniciou com este mestre o curso de Afresco e Mural. Estudou técnica e pintura com Takaoka. Executou o painel “Bumba-meu-boi Sinhá”, que lhe valeu o prêmio de 2º lugar no I Festival do Folclore Brasileiro em Londres em 1943. Em 1944 iniciou o movimento moderno na Escola Nacional de Belas Artes. Organizou o grupo Santa Tereza com a participação de Guima, Ferdy, Benjamin Silva, Sérgio Campos Mello e outros nomes famosos em sua época. Em 1946, iniciou curso com o gravador Oswaldo Goeldi. Participou de todos os salões de arte do Brasil. Expôs na Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo.
Em 1952, deixou o Rio de Janeiro e voltou para Taubaté.Na cidade, iniciou o 1º Movimento Moderno do Vale do Paraíba. Organizou a 1ª Escola de Arte em Taubaté, inteiramente gratuita, patrocinada pela Associação Valeparaibana de Imprensa.
Representou a ala brasileira na 9ª Bienal de São Paulo.
É catalogado no Dicionário das Artes Plásticas no Brasil – de Roberto Pontual.
É um dos pioneiros, junto com os artistas Ranulfo, Ado Bonadei, Solano Trindade e outros, da feira de domingo na Praça da República em São Paulo.
Fabiano produziu 23 murais e um grande número de quadros. Suas obras fazem parte de instituições no Brasil e no mundo como a Embaixada brasileira em Nova Iorque; Embaixada francesa na Argentina; e acervos particulares na França, Portugal, Espanha, Alemanha e muitos outros países. Suas obras estão também no Hospital do Servidor Público de São Paulo, na Secretaria da Fazenda de São Paulo e no Museu do Folclore de Campinas.
No final de sua vida Anderson Fabiano se dedicou a dar aulas em seu atelier. Em outubro de 1978 foi internado no Hospital do Servidor, e durante este período de internação não parou de produzir, vindo a falecer no dia 27 de junho de 1979.