Arquivos da Categoria: poesias
Língua estrangeira
O alvoroço da alma
Travessia
Oração para os mistérios dolorosos do rosário
Pão Nosso – Karinne Santiago
Poema de Assis Freitas
poema para todos os partos de minha costela
as mulheres que amei sempre me foram desconhecidas,
bebiam a minha sede e se fartavam em minha fome,
depois se iam com meus passos tontos.
(Assis Freitas)
José de Assis Freitas Filho, sociólogo, jornalista e poeta baiano, de Feira de Santana, lançou este ano seus
“Poemas de urgências para súbitos desalinhos”, a partir das publicações feitas no blog Mil e um poemas.
A leitura de seu livro prende-nos de súbito e não nos abandona mais: poemas para todos os partos de suas palavras que nascem em nós.(Ludmila)
Leia mais Assis Freitas nos blogs: mileumpoemas.blogspot.com e
arvoredapoesia.blogspot.com
Plural de nuvens
PLURAL DE NUVENS
Se há um plural de nuvens e se há sombras
projetadas no texto das cavernas,
por que não mergulhar, tentar nas ondas
a refração dos peixes e das pedras?
Há sempre alguma névoa, um lado obscuro
que atravessa o poema. Há sempre um saldo
de formas laterais, um como escudo
que não resiste muito a teu assalto.
Se alguma luz na contraluz se esbate,
se há curso dos dias sol e vento,
talvez na foz do rio outra cidade
venha no teu olhar amanhecendo.
Importa é ler de perto a cavidade
das nuvens e espiar os seus não-ditos:
o mais são armas para teu combate,
falsos alarmes para os teus sentidos.
Gilberto Mendonça Teles em
Plural das Nuvens. p. 2.
Manoel de Barros
Há um comportamento de eternidade nos caramujos.
Para subir os barrancos de um rio, eles percorrem um
dia inteiro até chegar amanhã.
O próprio anoitecer faz parte de haver beleza nos
caramujos.
Eles carregam com paciência o início do mundo.
No geral os caramujos têm uma voz desconformada
por dentro.
Talvez porque tenham a boca trôpega.
Suas verdades podem não ser.
Desde quando a infância nos praticava na beira do rio
Nunca mais deixei de saber que esses pequenos
moluscos
Ajudam as árvores a crescer.
E achei que esta história só caberia no impossível.
Mas não; ela cabe aqui também.
(Manoel de Barros)
Carlos Drummond de Andrade
Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.
(Carlos Drummond de Andrade)