Desde que tive a oportunidade, há alguns anos atrás, de visitar uma exposição de fotografias, no Rio de Janeiro, cujo tema eram as ruínas dos Sete Povos das Missões, no Rio Grande do Sul, que a vontade de conhecer pessoalmente aquelas povoações históricas, tomou conta de mim.
Sete Povos das Missões é o nome que se deu ao conjunto de sete aldeamentos indígenas fundados pelos Jesuítas espanhóis no Continente do Rio Grande de São Pedro, atual Rio Grande do Sul, composto pelas reduções de São Francisco de Borja, São Nicolau, São Miguel Arcanjo, São Lourenço Mártir, São João Batista, São Luiz Gonzaga e Santo Ângelo Custódio.
Ocupavam naqueles tempos, as terras que hoje compõem o cone Sul, os índios da nação Guarani, bravos guerreiros, que, sob o duro comando dos padres jesuítas edificaram dezenas de reduções – as missões –
As reduções não eram aldeias, mas verdadeiras cidades que se instalavam nas selvas, com toda a infra-estrutura. Além da igreja, que era o centro de tudo, havia hospital, asilo, escolas, casa e comida para todos e em abundância, oficinas e até pequenas indústrias. Fabricavam-se todos os instrumentos musicais, tão bem quanto na Europa. Imprimiam-se livros em plena selva, alguns até em alemão. Possuíam observatório astronômico e até editavam uma carta astronômica e um boletim meteorológico. Os índios, catequizados, esculpiam magníficos santos, em madeira, trabalhavam o entalhe em pedras, produziam belos afrescos. Foi nessas reduções que se começou a industrializar o ferro, a produzir os primeiros tecidos, e a se criar gado no continente.
Infelizmente, porém, por motivos torpes, os jesuítas passaram a ser perseguidos na Espanha e em Portugal, e, com a participação do Marques de Pombal, acabaram por serem expulsos das Missões, transformando-se em ruínas suas prósperas cidades. Em 1750, foi assinado o Tratado de Madri, permutando a Colonia do Sacramento, que ficaria com o Espanhois, pelos Sete Povos das Missões, que seriam dos portugueses. Habitavam as Missões, à época, mais de 30 mil guaranis incorporados à cultura dos jesuítas, vivendo em comunidades prósperas e pacíficas.
Os guaranis odiavam os portugueses, que para eles representavam o inimigo. Os portugueses obrigaram-nos a abandonar seus lares, vendendo-os como escravos, tomando seu gado e plantações. Revoltados, declararam guerra aos novos conquistadores, que, como todos os conquistadores, os dizimaram sem dó nem piedade, transformando os antigos assentamentos em ruínas banhadas de sangue.
Hoje, as ruínas de São Miguel das Missões são consideradas pela UNESCO como Patrimônio da Humanidade, e nos remetem ao terrível passado, impregnado pela dor e destruição.