Trabalho, da artista Su Blackwell, que utiliza páginas de livros antigos para criar a sua arte. Imagem capturada do facebook
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Sonia Gabriel e seu conto de Natal
25/12/2011
Sônia Gabriel
Especial para O VALE
No Vale do Rio Paraíba, no grotão mais distante, na casinha bucólica, no quarto da parteira, dentro da caixa tecida com palha de bananeira, pois banana é alimento abençoado, não há quintal onde uma bananeira não vingue, está a pele desgastada da gambá que morreu de velhice. Enrolada com cerimônia e respeito.
A velha senhora a acolhe nas mãos com reverência, a abriga entre o tecido branco de linho e deposita no embornal junto à tesoura antiga e o carretel de linha grossa.
Sai apressada, com passos seguros que desafiam sua muita idade.
Na porteira, Francisco já espera angustiado, a mulher sobe lépida na charrete e faz sinal com a mão para seguir.
Depois de quase hora de caminho, a casa da parturiente é avistada. Francisco entra apressado e avisa que a parteira está pronta, a mulher deitada na cama, suando e gemendo baixinho suas dores de mais um parto, sorri como quem diz que quem precisa estar pronta é ela.
O homem, desajeitado com aquilo em que não pode nada, abre caminho para a velha aparadeira.
As crianças, somando meia dúzia, numa escadinha, desafiam o medo e vigiam atrás da porta o mistério que está para se desvendar.
Esperam para verem a criança sair, mais um irmão. Será homem? Será mulher? Mais escuro? Mais clarinho?
Aparece outro adulto que espaventa com todos dali, já não bastasse a delicadeza do momento e ainda menino em penca atrapalhando o caminho. São corridos para outro cômodo da casa.
Lá, o pai Francisco os acolhe, finge calma e aconchega as crianças cada qual num canto. Os gemidos da mãe enchem os cômodos singelos e o tempo passa devagarzinho.
No cantinho do cômodo, na pequena mesa, um cenário comovente reúne vacas, bois, galinhas, ovelhas, camelos, burros, pastores e anjos. Maria e José olham encantados para uma manjedoura vazia, à espera do menino que dali a alguns dias nascerá. Pertinho dos sagrados pais uma pequenina figura da gambá. Ela tem lugar de honra.
Contam as mulheres mais velhas, que quando Nossa Senhora teve o menino, o leite não descia e a criança chorava de fome. A gambá, que tinha parido há poucos dias, apressou-se a oferecer de seu leite para Maria alimentar o filho. Nossa Senhora ficou muito comovida com a oferta, mas seu lado humano teve nojo do leite da gambá.
Recusou a oferta, mas recompensou a generosidade daquela amorosa mãe: desde então a gambá não sente as dores do parto.
O parto se alonga e a parteira revela o rosto enrugado, fazendo sinal chamando o pai. Francisco se levanta, ruma para o quarto e se aproxima da cama, a parteira então lhe toma a mão e junto a sua o ensina a abrir a pele da gambá, eles a esticam sobre o ventre angustiado da mulher que chama por Nossa Senhora do Bom Parto.
O homem reza baixinho, a mulher vai sossegando, o corpo se abre sem dor e a criança nasce. A velha aparadeira cumpre, mais uma vez, seu ofício divino.
No cômodo ao lado, as crianças ouvem o silêncio interrompido por choro inaugural, forte, urgente, saudável. Tal qual o cenário montado na mesinha de canto, o Natal se faz. Sim, porque é Natal cada vez que nasce uma criança.
Sônia Gabriel é professora de história, escritora de muitos talentos, mulher linda e uma amiga muito especial e querida. Ela mantém há anos um blog sobre a cultura popular do Vale do Paraíba,
www.misteriosdovale.blogspot.com que virou um livro já em sua segunda edição, e é co-autora também da obra Eugênia Sereno, a menina dos vagalumes.
Essa historia de natal foi publicada no Jornal O Vale, quando a editora do segundo caderno, Lucimara Nascimento convidou alguns escritores e cronistas para criarem um conto especialmente para a época. Gostaram? Então visitem o blog da Sônia! Garanto que, como eu, ficarão fãs! (Ludmila)
Rio Grande e suas hortênsias
Hoje à tarde saímos apenas para fotografar a floração das hortênsias, aqui em Rio Grande. Elas estão por toda parte: em muros, jardins, canais de água (canaletes) e vasos, formando belíssimos buquês. Aqui, elas predominam na cor rosa, enfeitando a cidade com sua beleza. Fica o registro. (Ludmila)
…e para finalizar…as hortênsias de nosso jardim, floridas para o Natal!
Hilda Hilst
No útero de Deus
Adeus, Zé!
Ontem nosso Vale ficou mais pobre.
Zé Demétrio partiu como sempre viveu, sem frescuras. Foi assim: vapt-vupt!
Artista autodidata, caipira valeparaibano, como se auto intitulava, o barro em suas mãos transmutava-se em arte. Arte pura! Do barro para o metal e depois para estruturas de concreto foi um passo natural. Suas obras eram compostas por uma alquimia que ele guardava em segredo: barro misturado a resinas e corantes resultava num material duro, colorido, resistente e leve. Seu sonho: Empregá-lo na construção de casas populares em formato circular, semelhantes a iglus. Várias vezes mostrou-nos seu projeto. Tão fácil de realizar…Ficou no sonho!
Amigo querido, fraterno, desprendido (presenteava seus amigos com suas esculturas, assim, simplesmente!) sempre grudado no Mestre Justino, Demétrio trabalhava e inventava sem parar.
Leitor voraz de Krishnamurti ( filósofo místico indiano) ele nunca perseguiu a fama. Quem quisesse saber dele que o procurasse no sítio à beira da Dutra onde vivia e materializava seu talento.
Quantas vezes nos sentamos à mesa, juntos, e partilhamos café com causos, descobertas, sonhos, filosofia e histórias desse nosso Vale que ele tanto amava. Tanto amava que o enfeitou com suas esculturas que podem ser vistas em Aparecida, Taubaté, Guaratinguetá, Redenção da Serra e Jacareí. Em Jacareí, presenteou o Templo Rosacruz da cidade com uma belíssima mandala incrustada no piso do salão de recepções que, infelizmente, não foi conservada nas reformas pelas quais o templo passou, mas, como ele sempre dizia: “O prazer maior é a gente ver a obra sair dessas nossas mãos rudes, criar, colocar em ação o talento que Ele nos deu.”
Adeus, Zé! A vida, nesses últimos anos afastou-nos um pouco, fisicamente, mas você permaneceu e ficará imortalizado em suas obras, e no coração desses amigos que não o pranteiam hoje, pois sabem que o espírito é imortal!
Feliz Vida Nova, aí em meio a essas esculturas etéreas que tantas vezes você fitou (“Veja o cavalo nas nuvens…É perfeito!”) e que o recebem hoje, livre, leve e solto!
Beijos, meu querido e dê nossas lembranças ao Justino, ao Guima Pan, ao Ênio Puccini, ao Luiz Beltrame, ao Johann Gutlich, ao Kuno, ao Leonino, ao Anderson Fabiano e a tantos outros amigos que já andam por aí!
Saudades, Zé! Saudades!
Ludmila