foto: Gramado enfeitada para o Natal (foto Internet)
Noite Feliz
Primeiro ela aguardava que a família se aquietasse. Quando sentia que todos dormiam dirigia-se sorrateiramente até a garagem e abria a mala do carro fazendo o mínimo ruído. Então, apanhava os embrulhos maiores e os acomodava em esconderijos improvisados dentro da casa. Percorria o quintal quase que aderindo às paredes, cuidando da própria sombra, como nos desenhos animados; tudo para surpreender os filhos na aguardada noite de Natal. A árvore que enfeitara, estava imponente e colorida, cheia de luzinhas que brilhavam e transformavam a sala num criadouro de vagalumes! Já quase podia ver as crianças sentadas sobre o tapete, deslumbradas com os embrulhos deixados por Papai Noel, rasgando, ávidas, as embalagens. Somente tendo a certeza de que tudo estava acomodado, é que ela finalmente permitia-se sentar e observar o cenário. E o dia amanhecia com a casa recendendo a múltiplos odores, delicados e únicos: cheiros que combinavam açafrão e mel, favas de baunilha à essência de laranja, assados com rabanadas. “Mãe, e o tchik-tchak?” Ah…o doce russo, receita de família, feito com trigo, mel e nozes, não poderia faltar também neste natal, passados tantos anos! “Deixa bem duro, mãe…igual ao da vovó, quando perdia o ponto! “Imediatamente a boca se lhe enche de água pela lembrança, e os olhos de caleidoscópicas imagens: dos pais, dos avós, dela menina, curtindo sua própria árvore toda enfeitada, nunca tão repleta de presentes, como as de agora, mas imersa na mesma magia. Chumaços de algodão imitando, toscamente, a neve; enfeites recortados em diversos materiais, feitos pelas mãos habilidosas do avô, recobertos por purpurina; pequenas velas coloridas sustentadas por aparadores de metal…e ele! O lindo e gordo São Nicolau, em seu festivo manto azul marinho, rebordado de estrelas douradas, o saco de presentes preso às costas, quase… quase vivo! A primeira boneca que ganhou, vestida de noiva, tinha cabelos loiros enfeitando um rosto de porcelana. Sua mãe passara algumas noites em claro, confeccionando o vestido de longa cauda de cetim, sem que ela desconfiasse. Ao avô coube restaurar a pintura delicada das faces, boca, sobrancelhas, unhas, enquanto ela dormia…E à avó, produzir a grinalda cheia de flores de laranjeira, as pétalas boleadas em tecido por um aparelhinho estranho aquecido na chama do fogão…e o longo e franzido véu de tule! De onde ela viera? De algum brechó, com certeza, vendido por alguma menina que não mais se interessava por bonecas… Mas que diferença isso fazia? Naquela noite, debaixo de sua árvore de Natal, aquele fora o brinquedo mais lindo que jamais sonhara em possuir. A excitação do presente não a deixava dormir. Temia que, fechando os olhos, aquela miragem se extinguisse. Ah…mas hoje tudo era tão diverso! Seus netos possuíam tantos brinquedos, que era difícil saber qual os surpreenderia… Seus pensamentos voavam enquanto preparava a mesa para a ceia. A tarde ia descendo tranqüila e quente e ela sentiu-se tomada pelo cansaço: o da inevitável correria das últimas semanas! Decidiu dar-se um tempo, antes que a família começasse a chegar. Entrou no quarto, deitou-se sobre a cama e mergulhou num silencioso espaço aberto dentro de si mesma. De olhos fechados podia aspirar e perceber as semelhanças de todos aqueles aromas tão peculiares, de ontem e de hoje, que atravessaram sua vida, e invadiam novamente a casa. Podia reviver as emoções, tantas! Misturá-las e trazê-las para aquele exato instante, transformando-as em âncora poderosa que a mantinha tão próxima de todos os que amava e que hoje estariam presentes sim, nesse seu Natal particular. Um Natal de saudades e sonhos, cheiros e sabores, emoções e fantasias. Um Natal único, onde se reencontrava com sua própria criança interior, pegava-a no colo, embalava-a carinhosamente e a presenteava com a possibilidade de se lembrar de uma época em que foi feliz, feliz, como era agora, e agradecer à Vida por mais um renascimento! (Ludmila Saharovsky)
PS. Amigos queridos! Estive ausente por quase um mês de meu blog e de vocês, mas cá estou eu, voltando aos pouquinhos… O motivo dessa ausência foi a minha mudança para a cidade de Rio Grande, em RS.
Nossa! Como mudar cansa! Depois de mais de 40 anos numa mesma cidade e na mesma casa em Jacareí, nunca pensei que mudar fosse tarefa tão difícil, imprevisível e desafiadora! E olhem que mudei só um bocadinho, pois tudo em Jacareí prossegue como dantes, prontinho para a minha volta! O fato é que a gente se programa de uma maneira e sai tudo exatamente ao contrário, mas…sobrevivi!
Espero, nesse mês de dezembro, postar alguns textos natalinos que publiquei em jornais e revistas da região, e também escrever outros, inéditos. Este é o primeiro da série. Espero que gostem! Espero também que o espírito de natal já tenha envolvido a todos nos deliciosos preparativos de nosso coração e alma, para o renascimento do Menino Deus. Um beijão cheio de saudades para cada um de vocês! (Ludmila)
Como é bom viajar com você em seu texto. A magia do natal vai se incorporando e a emoção dos felizes natais passados voltando e junto trazendo a esperança de que outro feliz natal aconteça.
Feliz Natal para você e para toda a sua família, um grande beijo, também cheio de saudades.
Minha Lud, minha Luz! É muito bom poder participar de toda essa alegria que você torna contagiante. Beijos do seu
Liv
Marilda, querida! Será meu primeiro Natal longe de todos os meus amigos, mas vocês estarão apertados junto ao coração! Beijos! Saudades!
Liv…se recupere depressa e se cuide pra mim! Amor! Lud
Muito bom ler você, não tem como não ser invadida por emoções e lembranças…
A vida é mudança, esse é meu lema, já tiro de letra as mudanças na minha vida…rsrs… é bom deixar história para trás e se aventurar por novas histórias.
beijo
Ju
Então, Ju! Você é a minha musa inspiradora de mudanças! Tanto acompanhei a sua, pelo seu Blog, que resolvi imitá-la! E haja caixas e plástico bolha! Logo logo postarei fotos daqui do novo lar. Me aguarde! BEIJÃO COM MUITAS SAUDADES!