“Eu estou apaixonado / por uma menina Terra / signo de elemento Terra / do mar se diz Terra à vista / Terra, para o pé firmeza / Terra, para a mão carícia / Outros astros lhe são guia /Terra, terra”… (Caetano Veloso)
Gaia, Geia, Terra, Mãe. Mãe Terra.
Na Mitologia grega, ela nasceu imediatamente depois do Caos, a desordem primordial do Mundo e, sozinha, gerou o Céu, as Montanhas e o Mar. Adorada como divindade pelos antigos, a terra era respeitada como fonte de toda a vida. Em seu ventre fecundo sementes transformavam-se novamente em árvores e frutos. De suas entranhas jorrava a água que aplacava a sede de homens e animais, irrigava plantas, fornecia alimento, permitia desbravar novos horizontes. Em seu louvor ergueram-se templos e se fizeram sacrifícios. Ela sempre ofereceu a seus filhos alimento e abrigo. Passou-se o tempo, e o homem afastou-se do espírito divino que ela encarnava. O pensar científico enterrou a intuição e a comunhão com a terra, até que, em 79, James Lovelock, um cientista inglês, criou a Hipótese Gaia, voltando, de certa forma, às origens, ao afirmar que nosso planeta é um corpo vivo, e que os oceanos, massas terrestres, ar e as distintas formas de vida são seus órgãos. “As condições químicas e físicas da superfície da Terra, da atmosfera, e dos oceanos tem sido, e continuam a ser, ajustadas ativamente para criar condições confortáveis para a presença de vida, pelos próprios elementos viventes. Isto se coloca em sentido oposto ao saber convencional que considera ocorrer o contrário, que a vida adaptou-se às condições planetárias existentes na Terra”. Ao entendermos isso começamos a divagar e a questionar: Se a Terra é um ser vivo, como devemos compreender a Vida? Nós também seríamos uma parte de seu sistema? Há uma grande diferença conceitual entre sermos parte dela ou sermos meramente hóspedes em sua superfície. Hóspedes predadores! E, praticante da escrita que sou, plantadora de sementes/palavras, divago e vou um pouco mais longe, quando percebo que o exercício da agricultura e o da literatura confundem-se. Ambas manejam energias de vida e possuem a mesma função e intenção: Pelo sopro criativo do verbo surgiu o mundo e todas as forças que o compõem. Pela vocação maternal de Gaia, o planeta pode criar, de si, a vida e a natureza.
Pela força viva da palavra, o homem pode disseminar a cultura e compreender a si próprio e à sua primitiva matriz de vida: o barro do qual surgiu. Aliás, a palavra cultura provém do termo latino, “cultus”, utilizado pelos romanos para nomear a ação do camponês de preparar a terra, de criar uma série de condições para plantar sementes que pudessem crescer e florescer. E escrever é apenas outra forma de semear: informações, idéias, conceitos, que no terreno fértil das mentes receptoras, transformam-se em flores e em frutos do saber. Cultivar é um verbo mágico, é um verbo único que obedece a ritos, regras, estações, cuidados e exigências. Obedece, principalmente, aos ritmos imutáveis da vida e da morte. Da terra viemos e para ela retornaremos: útero e túmulo de toda a vida que nela se perpetua.
(Ludmila Saharovsky)
(Crônica publicada no jornal Valeparaibano, SJcampos)
Amiga, na doce voz de Caetano Veloso, o autor e compositor e intérprete deste hino, recheado de acordes de um violão elétrico, o verso mais querido a mim: “quem jamais te esqueceria…'”
Linda publicação.Gostei demais das postagens, com visão holística, rico em informações e temas que nós mulheres e os homens também devm apreciar se quisermos tornar o mundo mais humano, com visão mundial e planetária. Obrigada Sõnia.
Obrigada, Sonia!
Sua visita e comentários me deixaram muito feliz! Volte sempre!