Depois do jardim, a parte da casa onde adoro passar meu tempo é na cozinha.
Vocês concordam que esse é o lugar mais estratégico de um lar? A sala é para, digamos, encontros formais. Você recebe alguém com quem tem pouca intimidade, e logo vai lhe “fazer sala”.
Já os amigos, com eles não é preciso cerimônia. E aonde eles vão? Ah…Vão logo para a cozinha, se achegando, sentando-se em volta da mesa, o cafezinho logo se anuncia pelo aroma, o pote de torradas aparece junto à geléia de amoras e o que mais estiver alí, à mão, para emoldurar o papo, não é mesmo?
Dizem que se conhece a mulher pelo que ela carrega na bolsa. Também! Mas eu posso lhes garantir, com certeza, que é pela cozinha que se entende a alma que habita determinada casa.
Eu tenho uma grande amiga que não tem tempo nem para cozinhar um ovo, mas, a sua cozinha é algo glorioso. Em cada viagem que faz, ela fica horas escolhendo frigideiras, panelas de cobre, potes de condimentos, jogos americanos, talheres. Chega em casa, vai direto à cozinha, arranjar tudo. Coloca flores na mesa, a melhor louça, abre uma boa garrafa de vinho, e, cenário montado, senta-se feliz, comendo um chop suey encomendado no delivery.”Ah! qualquer comida tem um sabor inigualável, se a cozinha encher os olhos” ela diz! E tem razão!
Nossa cozinha é nosso laboratório de alquimia, nossa caverna ancestral repleta de iguarias, nosso jardim do Éden
A gente começa a comer com o olfato, com os olhos…depois, e por último, vem a boca e comunga, consumando o ato litúrgico, que é cozinhar!
Cozinhar é como compor uma melodia, escrever um poema, abrir a alma para o belo que se realiza através de nossas mãos. Nutrir alguém, e a nós mesmos, é um ritual, é uma arte! Uma arte que o outro consome. Arte que, literalmente, nos dá prazer! Ah! Quanto deleite existe em se saborear um frango com quiabo, um penne ao funghi, uma pizza de berinjela ou uma simples canja de galinha com uma pitada de noz moscada (já experimentaram?) como está descrito em nosso diário secreto, nossa bíblia culinária, aquele grosso caderno de capa dura que herdamos de nossas avós e guardamos feito tesouro raro.
Mas, nesse nosso laboratório de alquimia, olhando para tantas frutas, legumes, utensílios e condimentos, a palavra também se processa, e a poesia nasce.
Tenho a certeza absoluta de que Paulo Neruda escreveu sua “Ode à cebola” sentado à mesa terapêutica da cozinha de seu lar. Em que outro lugar poderiam ter saído versos inspirados como este: “Cebola,luminosa redoma, pétala a pétala formou-se a tua formosura,
escamas de cristal te acrescentaram e no segredo da terra sombria arredondou-se o teu ventre de orvalho.” Eu nunca mais consegui olhar para um cebola sem me remeter à flor de suas pétalas.
Vinícius de Morais, nosso poeta mais querido, não nos ensinou que para viver um grande amor é preciso saber conquistá-lo também pelo estômago? “Pois do que o grande amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo; depois, um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor…Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, strogonoffs — comidinhas para depois do amor.
E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica e gostosa farofinha, para o seu grande amor?”
Pois então…quem sou eu para discordar…
Vamos lá, amigas e amigos! Vamos à cozinha, nem que seja para voltar momentâneamente à nossa infância, revendo a mãe preparar aquele mingau de maizena que apascentava todas as nossas angústias, e nos deixava sorrir com o estômago? (Ludmila Saharovsky, crônica publicada no Jornal O Vale. São José dos Campos)
Lu,
para variar, vc escreve deliciosamente!
ah… eu gosto muito da cozinha e tudo que diz respeito à ela, transformar os ingredientes em saborosos pratos é um enorme prazer, e se tiver companhia querida, melhor ainda!
aqui em casa somos os dois a disputar a cozinha, é divertido e relaxante cozinhar, não é?!
muito gostosa sua cozinha
beijo
Ju
Pois então, Ju…Na cozinha fiz o meu laboratório literário e gastronomico…Nada como ter comidinhas sempre à mão pra beliscar, enquanto se pensa.
E viva a alquimia doméstica! Beijão!
oi lud, adoro cozinhas tbm. realmente é onde existe o momento mágico de fazer o sumo alimentar para os moradores do lar e daqueles que a visitam. a agua tbm é algo essencial e é lá que ela esta reservada para nos saciar.
vivi os ultimos anos EUA com cozinhas integradas a salas e não deixa de ser interessante tbm. cada cozinha tem sua caracteristica. adoro as cozinhas varandas das roças, como a da casa da minha sogra (saudosa) que abre-se para uma varanda em Boa Vista, Igaratá.
cozinhar é algo q adoro fazer e aprendi com minha mãe e minhas vós e tbm por começar a viver sozinho aos 18 anos de idade. nada melhor do q passar horas numa cozinha fazendo algo do q gosta, sabendo q vai agradar a outros tbm.
abs
bjs
paul
Paul, homens na cozinha são tudo de bom! Aliás, não existe papo melhor do que o que se desenrola na cozinha…e se ela ainda se abre para uma varanda e , mais adiante, para uma hortinha doméstica, aí então…
Beijos!
Olá, Lud inspiradora;
Aceitei seu convite para o café.
Aproveito pra te dizer que o seu blog é uma das coisas mais belas que já recebi. Aliás, tudo que vem de vc. é encantador.
"Espelho D´água", nele também me reflito.
Beijos e… saudades…
Vadô Cabrera.