A cor do vento
Na paisagem
Será miragem?
(Ludmila)
Os galpões da extinta empresa de navegação da Cia Hoepcke, no município de São Francisco do Sul, a 189 quilômetros de Florianópolis, hoje abrigam o Museu Nacional do Mar – Embarcações Brasileiras. Ele foi criado em 1991, inaugurado em dezembro de 1992 e aberto oficialmente à visitação do público no início de 1993.
Entre 2003 e 2004, o local passou por obras para receber uma grande diversidade de embarcações. O acervo está organizado em 18 salas divididas por temas. Entre as peças disponíveis à visitação do público, estão mais de 91 barcos em tamanho natural.
Entre os modelos de embarcações abrigados no local estão canoas como as de um pau só, as bordadas do litoral catarinense, do baixo São Francisco, de tolda ou sergipana e chacheira do Rio Grande do Sul. Há ainda as baleeiras de casco liso ou trincado, pintadas de cores vivas, que são, do ponto de vista da carpintaria, verdadeiras obras-primas.
O acervo conta ainda com traineiras, botes, jangadas (de cinco paus e de tábuas), saveiros da Bahia e o cúter do Maranhão. Na sala dedicada ao navegador Amyr Klink, famoso por várias expedições, entre elas a travessia a remo do Atlântico Sul (1984), está disponível à visitação a canoa que ele ganhou quando criança. Seu barco IAT, usado na travessia de 1984 e que ficou em exposição no museu, foi levado para restauro e, no momento, não integra a mostra. (informações e imagem retiradas do site http://www.fcc.sc.gov.br/museudomar//pagina/14895/historico) As demais fotos são de minha autoria. Ao final da visita deparamos com um delicioso e aconchegante café, onde pode-se folhear livros e revistas e que tem uma bela loja de souvenires.
Algumas casas adjacentes ao Museu do Mar ostentam simpáticas plaquinhas que identificam seus moradores!
As lindas paisagens de São Francisco permanecerão para sempre em nossa memória. Este é um lugar que vale a pena conhecer!
Saímos para conhecer São Francisco do Sul, cidade histórica próxima de Joinville, da casa de meu filho, em Rio Grande, RS.
Poderíamos ter feito a viagem, passando por Porto Alegre, pegando a BR101 e seguindo pelo litoral até Santa Catarina, mas, como queríamos rever Mostardas, optamos pela travessia de balsa até São José do Norte e de lá pegamos a BR101. No trecho até Osório, não há cobrança de pedágio, mas, de Mostardas para frente a estrada apresenta-se em péssimo estado de conservação, com buracos que são verdadeiras crateras na pista. É preciso viajar com a atenção redobrada e evitar a noite, quando a visibilidade torna-se pior. E rezar para que não chova!
A distância entre Rio Grande e a ilha de São Francisco, pela BR101 é de quase 1000 km. Chovia muito, assim, nós paramos em Torres para pernoitar, e também em Itajaí, de onde seguimos, com tempo nublado, mas sem a chuva forte que caíra, para, finalmente, alcançar nosso destino. Eu estava muito ansiosa, pois tinha visto muitas fotos e sabia que São Francisco do Sul era a cidade mais antiga de Santa Catarina. Colonizada por franceses, espanhóis e açorianos, sua primeira ocupação, foi feita temporariamente por espanhóis por volta de 1553. Seus habitantes orgulham-se em dizer que em 1504 a expedição de Binot Paulmier de Gonneville teria aportado em sua costa, mas não há documentos que comprovem o fato. De qualquer maneira é uma linda cidade, bem conservada, com o maior museu náutico do Brasil, o Museu do Mar. O centro histórico, restaurado e muito bem conservado foi tombado, em 1981, pelo município, e em 1987, pelo IPHAN, com destaque ao seu valor paisagístico.
Há muitos e bons hotéis na ilha, a preços bem acessíveis. Ficamos num, na cidade histórica, de frente ao antigo Mercado, com vista para o mar. Foi uma excelente escolha, pois estávamos interessados em conhecer o museu, fazer o passeio de escuna pelas ilhas, visitar a catedral secular e seu museu sacro. A localização do hotel permitiu-nos fazer todos os passeios a pé, e ainda almoçar no excelente restaurante de frutos do mar a uma quadra de distância. Lanchamos no antigo mercado, compramos souvenires nas lojinhas adjacentes e embarcamos na escuna no porto bem defronte à praça do hotel, alem de admirarmos um por do sol inesquecível da janela de nosso quarto,gozando de muito silêncio à noite, quando o centro se esvaziava de turistas.
Há duas formas de chegar à São Chico do Sul. Uma é esta, pela estrada. A outra é numa viagem de barco, que sai de Joinville e percorre a baia da Babitonga até chegar e esta que é uma das cidades mais antigas do Brasil, permanecendo alí durante uma hora e meia, tempo suficiente para conhecer apenas a parte historica do centro.
Ponta Grossa é uma das cinco maiores e mais importantes cidades do Paraná. Além de Vila Velha, a região reserva muitas outras belezas e atrações imperdíveis, que não se pode deixar de conhecer.
Uma delas é o Buraco do Padre, que fica no distrito de Itaiacoca, a 26km do centro de Ponta Grossa, com acesso pela PR-513, uma estrada de terra bem conservada.
Trata-se de uma área de lazer cuja atração é o anfiteatro subterrâneo, ou uma furna, de 430m de altura e 30m de diâmetro. Em seu interior corre o rio Cerradinho, que forma uma cascata que cai das paredes a uma altura de 30m. O nome remete a histórias dos Jesuítas nos Campos Gerais, que costumavam se dirigir ao alto do platô para meditar e eram observados pelos indígenas ou caboclos.
As furnas são depressões semelhantes a crateras, de formato circular e paredes verticais.Elas não se situam na mesma unidade geológica dos arenitos avermelhados, o Arenito Vila Velha, mas sim em uma unidade geológica que está abaixo do Arenito Vila Velha.As furnas ocorrem na região dos Campos Gerais do Paraná, sendo conhecidas pelo menos 14 delas. No Parque Estadual de Vila Velha aparecem seis furnas, estando duas em estágio terminal: a Lagoa Dourada e a Lagoa Tarumã. São consideradas assim pelo fato de estarem quase que totalmente preenchidas de sedimentos.
A visita a essa parte do parque é feita, unicamente, por ônibus com guia credenciado.
A primeira furna visitada, a mais impressionante, tem 100 metros de profundidade: 50 metros abaixo da água e 50 metros acima. Contou-nos o guia que, até algum tempo atrás, o obsoleto elevador (da época da segunda guerra) descia os 50 metros e deixava os turistas numa pequena plataforma ao nível da água. Hoje , o elevador continua lá, inativo, um monumento mastodôntico sem qualquer serventia. Uma pena que os pontos turísticos do Brasil sejam tratados com tanto descaso. A maioria dos turistas são estrangeiros: alemães, japoneses, franceses, norte americanos. Ouvem-se todos os idiomas e percebe-se a frustração de todos com o pouco cuidado dispensado às nossas maravilhas da natureza…
Por este caminho calçado chega-se à segunda furna, mas, a visão de seu interior, infelizmente, é impedida pela mata que cresce ao redor… O parque é muito belo, Não permanecemos mais tempo porque o céu escureceu e, ao final do trajeto uma chuva forte caiu na região.
Por fim, a última foto é da Lagoa Dourada, que nessa tarde, refletia apenas o céu escuro carregado de nuvens de chuva…
Os Arenitos
Tantas viagens fizemos entre São Paulo e Rio Grande do Sul, neste período em que residimos em Rio Grande, e, somente agora resolvemos dar uma esticada até Vila Velha, um dos mais importantes pontos turísticos do Paraná.
O Parque Estadual de Vila Velha fica a apenas 80 km de distância de Curitiba, no município de Ponta Grossa, no km 515 da BR-376 (rodovia que liga Curitiba à Foz do Iguaçu) A rodovia encontra-se em excelente estado de conservação e a cidade oferece inúmeras opções de hospedagem, de vários preços: desde refinados hotéis, até simpáticas e econômicas pousadas.
Nós viajamos sempre sem reserva de hotel, e não tivemos qualquer problema com vagas, mesmo neste período de férias em alta estação.
Leio no folder que “Vila Velha começou a se formar há 300 milhões de anos, antes da separação dos continentes. A região foi um oceano e, durante as glaciações, foi coberta de gelo. O derretimento do gelo, ao arrastar depósitos de rochas, causou a deposição dos sedimentos que, lavados pelos rios e pelas chuvas, formaram os arenitos (areias vermelhas) que compõem o conjunto. O processo de erosão do substrato arenoso nos últimos dois milhões de anos (causados pela ação conjunta do sol, chuva, ventos e atividade orgânica) deu origem às formas atualmente existentes, que sofrem alterações contínuas até hoje.”
Existe uma lenda indígena sobre a região, segundo a qual o local onde hoje estão os arenitos, fora escolhida por Tupã, para ser a terra dos homens. Ali fora enterrado um tesouro, protegido pelos melhores guerreiros de todas as tribos: os apiabas, que não podiam ter qualquer contato com as mulheres. Acontece que, o índio que foi escolhido para chefiar os apiabas, de nome Dhui, tinha muita atração pelo sexo feminino. Sabendo disso, as tribos rivais enviaram a índia Aracê Poranga para seduzi-lo. Os dois se apaixonaram. Aracê levou para Dhui uma taça de bebida encantada; os dois beberam e deitaram-se à sombra de um ipê.
Tupã, furioso, fez com que um terremoto destruísse a terra dos homens, que virou a cidade de pedra (Itacueretaba). Aracê e Dhui foram petrificados um ao lado do outro, assim como a taça, que se tornou o principal cartão-postal de Vila Velha. O tesouro, liquefeito, transformou-se na Lagoa Dourada.
O parque fica aberto das 8h30 às 17h30, mas os bilhetes só podem ser comprados até às 15h30, quando mais nenhum visitante pode entrar no parque. Nas terças-feiras o parque fecha para manutenção.
Estudantes com carteirinha e residentes com comprovante pagam meia-entrada. Pessoas acima de 60 anos, crianças de até 6 anos e portadores de necessidades especiais têm entrada gratuita. Onibus especiais estão à disposição para levar os visitantes até as trilhas. Não é mais permitido o uso de veículos próprios para se chegar até os pontos turísticos, como antigamente.
Busco na vida, a magia. A delicadeza em meio à aridez do cotidiano, ela que espanta a rotina, que revoga a mesmice, que dissolve o tédio, que permite inesperadas descobertas: Novos sonhos, novas sinapses, trocas, encantamento. O viver é um poema contínuo que se realiza em mim a cada instante, assim, vou ocupando as moiras que tecem meu destino, com novos pontos, inusitados nós, cores e formas, alongando os fios da vida, de forma tal, que me permitam descobrir outros roteiros. Envio-lhes intermináveis novelos de linhas para que me prendam a abstratas tessituras. Preciso de horizontes instigantes que me remetam à dunas que se movem, grão a grão e possibilitem que o meu vir a ser seja repleto de ação criativa, me reinventando a cada nó. Horizontes estanques me desarmam.
Seria um jogo? Não! Penso que viver é como inserir-se num caleidoscópio. As possibilidades estão todas ali, naquele tubo onde se espelha a vida. Cabe a mim girá-lo, formando combinações diversas, agregando cores, luzes, frágeis composições que podem reagrupar-se a partir de um sopro, de um leve movimento de dedos e formar novos desenhos. Novas possibilidades de existir.
Faço de meu mundo este caleidoscópio. Muitos acham os desenhos embaralhados e se perdem nas combinações. Eu não! Sei exatamente a minha cor e forma, e descobrir o novo encaixe é instigante, porque é sempre outro desenho que se forma. Buscá-lo, em todas as suas variantes possíveis, para mim, é entender o sentido da Vida e vive-lo plenamente, sem temer o breve pulsar da felicidade.
Ludmila
Há noites em que as estrelas ficam líquidas no céu. Então, elas pingam sua leveza luminosa dentro de nossas retinas. Nesses momentos a gente clareia a alma e a solta da gaiola de ossos para que passeie sobre a terra: esfera intercalada por sombra e luz, gritos e silêncios, perdão e culpa, esperança e medo, dor e alegria. Ela, então, abdica de todas as urgências, interliga os opostos e retorna plena, flutuando feito pássaro noturno em busca do ninho, imortal, na falácia do tempo… (Ludmila)
Imagem: starry night by alex ruiz, em homenagem a Vincent Van Gogh