Então, pintei de azul os meus sapatos
por não poder de azul pintar as ruas,
depois, vesti meus gestos insensatos
e colori, as minhas mãos e as tuas.
Para extinguir em nós o azul ausente
e aprisionar no azul as coisas gratas,
enfim, nós derramamos simplesmente
azul sobre os vestidos e as gravatas.
E afogados em nós, nem nos lembramos
que no excesso que havia em nosso espaço
pudesse haver de azul também cansaço.
E perdidos de azul nos contemplamos
e vimos que entre nós nascia um sul
vertiginosamente azul. Azul.
(Carlos Pena Filho)
Carlos Pena Filho, morto prematuramente aos 31 anos, em 1960, é um dos mais queridos e festejados poetas pernambucanos. Uma pena que sua obra seja tão pouco conhecida aqui no sul do país. Este soneto foi retirado de seu “Livro Geral” da Gráfica e Editora Liceu, de Recife, e é um dos meus favoritos. (Ludmila)