Aproveitando as comemorações do Mês do Folclore, quero apresentar-lhes este vídeo que mostra o trabalho e depoimentos de diferentes figureiros(as) do Vale do Paraíba; e faz parte da exposição permanente do Museu do Folclore da Fundação Cultural Cassiano Ricardo (FCCR), que está localizado no Parque da Cidade, região norte de São José dos Campos, sob administração do Centro de Estudos da Cultura Popular (CECP). Viva a Cultura Popular!
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Iemanjá na Bahia
Essas fotos lindas são de minha amiga Jussara Gehrke, que mora em Salvador, na Bahia e teve o privilégio de acompanhar os festejos de Iemanjá, da praia que frequenta.
Mais fotos e matérias em seu blog; http://juju-ano4.blogspot.com
A FESTA DE YEMANJÁ (excerto)
Antonietta de Aguiar Nunes (*)
“Dia 2 de fevereiro – dia de festa no mar”, segundo a música do compositor baiano Dorival Caymi. É o dia em que todos vão deixar os seus presentes nos balaios organizados pelos pescadores do bairro do Rio Vermelho junto com muitas mães de santo de terreiros de Salvador, ao lado da Casa do Peso, dentro da qual há um peji de Yemanjá e uma pequena fonte. Na frente da casa, uma escultura de sereia representando a Mãe d´Água baiana, Yemanjá. Desde cedo formam-se filas para entregar presentes, flores, dinheiro e cartinhas com pedidos, para serem levados à tarde nos balaios que serão jogados em alto mar.
É única grande festa religiosa baiana que não tem origem no catolicismo e sim no candomblé. (Dia 2 de fevereiro é dia de N.Sra. das Candeias, na liturgia católica, e esta Nossa Senhora é mais freqüentemente paralelizada com Oxum, a vaidosa deusa das águas doces).
Dois de fevereiro é – oficiosamente – feriado na Bahia. É considerada a mais importante das festas dedicadas a Yemanjá, embora Silva Campos narre que antigamente a mais pomposa festa a ela dedicada era a efetuada no terceiro domingo de dezembro, em Itapagipe, em frente ao arrasado forte de São Bartolomeu (SILVA CAMPOS, 1930;415). Odorico TAVARES (1961;56) narra que, nos outros tempos, os senhores deixaram seus escravos uma folga de quinze dias para festejarem a sua rainha em frente ao antigo forte de São Bartolomeu em Itapagipe. QUERINO (1955;126/7) confirma ser na 3a dominga de dezembro a festa comemorada em frente ao antigo forte de S.Bartolomeu, hoje demolido, “à qual compareciam para mais de 2.000 africanos”. Tio Ataré era o pai de santo residente na rua do Bispo, em Itapagipe, que comandava os festejos. Reuniam os presentes em uma grande talha ou pote de barro que depois era atirada ao mar. A festa durava quinze dias, durante os quais não faltavam batuques e comidas típicas baianas, com azeite de dendê. Hoje a festa do Rio Vermelho dura só o dia 2, prolongando-se pelo fim de semana seguinte, quando próximo.
Às 4 da tarde é que saem os barcos que levam os balaios cheios de oferendas a serem lançados em alto mar. Quando as embarcações voltam para a terra os acompanhantes não olham para trás, que faz mal. Diz a lenda, que os presentes que Yemanjá aceita ficam com ela no fundo do mar, e os que ela não aceita são devolvidos à praia pela maré, à noite e no dia seguinte, para delícia dos meninos, que vão catar nas praias os presentes não recebidos por ela.
AMADO (1956;136) conta que se Iemanjá aceitar a oferta dos filhos marinheiros é que o ano será bom para as pescarias, o mar será bonançoso e os ventos ajudarão aos saveiros; se ela o recusar,… ah! as tempestades se soltarão, os ventos romperão as velas dos barcos, o mar será inimigo dos homens e os cadáveres dos afogados boiarão em busca da terra de Aiocá.
(*)Historiógrafa do Arquivo Público do Estado e Professora Assistente de História da Educação na FACED/UFBa
http://www.faced.ufba.br/~dept02/calendario/yemanja.html
Salve Iemanjá! Mãe das águas!
Hoje é dia dela. De nossa Mãe de todas as águas! Salve suas forças, Iemanjá! Sua bênção, Senhora!
Sincretismo significa fusão. Sincretismo religioso, portanto, é a fusão de diversas concepções religiosas, ou, a influência exercida por uma religião na prática de outras. No Brasil, o sincretismo religioso foi utilizado por negros e índios como auto defesa contra os padres jesuítas que os obrigavam a aceitar o batismo e a imposição da fé católica. Mas, como impor um novo deus a um povo que crê, teme, adora e reverencia há 5.000 anos suas próprias divindades?
Mediante essa situação, a Igreja Católica enfrentou, no período de colonização do Brasil, um delicado dilema. Ou reprimia as manifestações religiosas dos escravos e lhes impunham à força o paradigma cristão, ou poderia fazer vista grossa aos cantos, batuques, danças e rezas ocorridas nas senzalas.
A repressão acarretava muitos problemas, para ambos os lados, mas, principalmente para os povos dominados. Durante o período da Escravatura no Brasil, nas senzalas, para poderem cultuar os seus Orixás, Inkices e Voduns, os negros foram obrigados a usar como camuflagem altares com as imagens de santos católicos, cujas características melhor correspondiam às suas Divindades Africanas, e por baixo desses altares escondiam os assentamentos dos Orixás.Assim, para driblar essas coerções, os negros passaram a organizar suas manifestações religiosas em dias-santos católicos, reverenciando, no entanto, as suas próprias divindades.
Muitos escravos, mesmo se reconhecendo como cristãos, não abandonaram a fé em seus orixás. Isso explica porque vários santos católicos equivalem a determinadas divindades de origem africana.
Assim, a Umbanda brasileira começou a se formar já em 1530, e, de lá para cá difundir-se, com força, por todo o Brasil.
Dias Orixá Sincretismo
15/01 Oxalá Jesus Cristo
20/01 Oxóssi São Sebastião
02/02 Iemanjá Nossa Senhora dos Navegantes
19/04 Logun Edé Santo Expedito
23/04 Ogum São Jorge
30/05 Obá Santa Joana d’Arc
13/06 Exú Santo António
24/06 Xangô São João Baptista
26/07 Nanã Sant’Ana
24/08 Oxumaré São Bartolomeu
27/09 Ibeji Santos Cosme e Damião
05/10 Ossaim São Roque
02/11 Omulú São Lázaro
04/12 Iansã Santa Bárbara
08/12 Oxum Nossa Senhora da Conceição
13/12 Ewá Santa Luzia
Aqui no Rio Grande do Sul, principalmente na cidade de Rio Grande, dia 2 de fevereiro é muito comemorado. Na Praia do Cassino acontece o culto à Iemanjá, com presença maciça de populares e pais e mães de santo que ocupam a praia com seus batuques e oferendas.
Já o centro da cidade acompanha a procissão marítima que segue pela Lagoa dos Patos, transportando a Nossa Senhora dos Navegantes, da cidade vizinha de São José do Norte. Este ano, a festa católica completa sua 201a procissão.